Convocado à Seleção, Diego Costa ignora Espanha e caso de racismo
O Atlético de Madrid é uma das sensações da temporada europeia. No último ano, a equipe espanhola conquistou a Liga Europa e a Supercopa Europeia, e desta vez está na segunda colocação do Campeonato Espanhol e na final da Copa do Rei. O time do técnico Diego Simeone tem como grande nome o artilheiro colombiano Falcao García, mas um brasileiro também vem se destacando. O sergipano Diego Costa virou companheiro importante do centroavante e chamou a atenção do técnico Luiz Felipe Scolari.
Convocado para a Seleção Brasileira pela primeira vez, o meia-atacante chamava a atenção da Espanha e chegou a ter seu nome cogitado pelo técnico Vicente del Bosque para fazer parte do time ibérico. "Não chegou nunca em minhas mãos essa conversa, mas lógico que se fosse para escolher entre Brasil e Espanha, seria a Seleção Brasileira", disse Diego Costa em entrevista ao Terra.
O meia-atacante conversou com a reportagem sobre seu momento na carreira e não se importou de abordar temas mais polêmicos, como a acusação de racismo que sofreu recentemente. Em duelo contra o Sevilla, foi acusado pelo meio-campista francês Geoffrey Kondogbia de racismo. No Twitter, Kondogbia desabafou: "Senhor Costa, na próxima vez em que você fizer barulhos de macaco, vai ter que segurar...".
O jogador estará presente nos amistosos contra Itália e Rússia, no final do mês de março, respectivamente em Genebra, na Suíça, e Londres, na Inglaterra. De carreira formada na Europa, não jogou profissionalmente no Brasil, e quer seguir os passos de Hulk, que se tornou presença constante nas convocações por seu trabalho feito fora do País.
Confira a seguir a entrevista com Diego Costa:
Terra - Como foi a conversa com o Felipão antes da convocação?
Diego Costa -
Como o Felipão mesmo confirmou, teve uma conversa prévia, mas não para convocar. Foi mais para perguntar se gostaria, como eu me encontrava. Não chegou e disse que eu seria convocado.
Terra - Você cogitou em algum momento recusar o Brasil para esperar uma convocação da Espanha?
Diego Costa -
Não chegou nunca em minhas mãos essa conversa, mas lógico que se fosse para escolher entre Brasil e Espanha, seria a Seleção Brasileira. Mas nunca chegou a mim, foi só um comentário. Foi tudo através da imprensa local. Mas não tem como dizer não para a Seleção Brasileira.
Terra - A Seleção já conta com uma presença de jogadores que foram aparecer para o futebol já na Europa, como o Hulk e o Daniel Alves. Agora é sua vez. Essa deve ser uma tendência cada vez maior daqui para a frente?
Diego Costa -
Acho que isso é relativo, porque no Brasil tem grandes jogadores. Tem o Neymar, que todo mundo sabe que é um fora de série. A diferença na Europa é uma questão de tática e de adaptação. Normalmente a Seleção joga contra equipes em que a maioria joga aqui na Europa. E o futebol brasileiro é totalmente diferente. Aqui é outra forma de jogar. Lógico que existe por isso a possibilidade de jogar na Seleção sem ser reconhecido no Brasil. Não é fácil de jogar no Brasil, são milhões de brasileiros bons de bola e querendo jogar.
Terra - Por outro lado, jogadores que atuaram pouco no Brasil costumam sofrer rejeição, vide o Hulk. Como pretende lidar com isso?
Diego Costa -
Isso é normal, estamos falando da Seleção Brasileira, não é qualquer seleção. É normal que os torcedores querem os melhores e, se não se acompanha o jogador, você coloca dúvida. É a minha oportunidade e vou ter que mostrar se valeu a pena ou não. Não posso negar que vai ter essa cobrança, mas é normal. É de se esperar.
Terra - A lista do Felipão desta vez tem mais jogadores que atuam na Europa. É sinal de que o treinador está de olho no que acontece fora do Brasil?
Diego Costa -
Pode ser que sim ou não. Ele tenta olhar sempre no melhor para a Seleção. Ele Tem algumas ideias na cabeça. Acho que isso é questão do Felipão ver como vai fazer. De toda forma, tem jogadores competentes no Brasil para fazer melhor que muitos que estão aqui fora. Isso é questão de momento.
Terra - Imagino que esse é seu melhor momento na carreira, certo? O quanto que o trabalho do Simeone ajudou no seu desenvolvimento?
Diego Costa -
Todo mundo sabe que ele tinha um caráter forte, e como treinador é a mesma forma. Está sempre tentando estimular os jogadores, que eles deem seu melhor em campo. Ele tem o grupo na mão. Todo mundo está na mesma linha. Ele sempre transmite o que foi como jogador e quer que os jogadores sintam essa emoção, essa vontade. Ele é um treinador que motiva muito, esse é um dos pontos fortes dele.
Terra - Você está acostumado a jogar com o Falcao García, que é um dos grandes nomes do futebol mundial. Já imagina como vai ser atuar com nomes como Neymar e Kaká?
Diego Costa -
Para mim tudo é um sonho. Particularmente estou em um momento difícil de acreditar. Lógico que vou tentar dar meu máximo, aproveitar a oportunidade, já que nem sempre tem outra. Espero que me acolham bem e espero estar bem com esse grupo. Já é de imensa felicidade estar com jogadores de tanta história.
Terra - Você e o Felipão têm o mesmo empresário, certo? Isso ajudou para que o Felipão conhecesse melhor seu futebol?
Diego Costa -
O Felipão é do Jorge? Nem sabia, me pegou de surpresa. Aí não posso comentar porque nem sabia, para falar a verdade. O Jorge eu sabia que era empresário do (José) Mourinho e de outros. Sobre o Felipão nem cheguei a imaginar.
Terra - O que explica essa boa fase do Atlético de Madrid, melhor no Espanhol que o Real e finalista da Copa do Rei?
Diego Costa -
É o grupo. Independente de qualquer coisa, temos um grupo bom. Todos estão na mesma linha, estão todos empenhados, com vontade de jogar, quem entra e quem sai. E em campo as coisas estão saindo. Temos um treinador que tem seu valor. Foi ele que sacou o orgulho de todos os jogadores aqui e está colocando o Atlético onde sempre tem que estar.
Terra - Como está o clima no elenco depois da classificação à final da Copa do Rei? Estão todos confiantes em quebrar o tabu de vitórias contra o Real Madrid (o Atlético de Madrid não vence o clássico da capital desde 1999)?
Diego Costa -
Todo mundo sabe que numa final pode acontecer de tudo. Temos nossa consciência, é um jogo só. Final é final. Temos que mostrar nosso valor. Sabemos que temos nossas chances. Lógico que tem essa pressão pelo tabu, mas a torcida sabe que o Real Madrid é um clube com um poder financeiro imenso. Os torcedores sabem das dificuldades que o Atlético sofre, mas sabemos que temos a possibilidade de quebrar esse tabu. Se for numa final, melhor ainda.
Terra - Você já recebeu oito cartões amarelos no Campeonato Espanhol. Pretende tomar um cuidado extra pela Seleção para evitar complicar seu status com o Felipão?
Diego Costa -
Vou jogar da mesma forma. É minha forma de jogar, muitas vezes (os cartões) é por muita vontade. Claro que tenho que tomar um cuidado maior para não fazer nenhuma besteira, mas já venho tomando esse cuidado.
Terra - Em uma entrevista ao El País você mencionou uma promessa em que você andou 70 km. Você pode revelar o motivo? Como foi isso?
Diego Costa -
Isso foi uma coisa tipo de amigos. Eu fiz uma promessa aqui, nem sei se cumpri ou não, e como estava de férias com amigos, arrumamos um grupo e fomos fazer uma caminhada da minha casa, em Lagarto (a 75 km da capital Aracaju), até a praia, que fica meio perto.
Terra - Há pouco tempo houve uma polêmica com você em que o Kondogbia, do Sevilla, disse que você imitou macacos pra ele. Houve de fato alguma coisa? Como foi receber esse tipo de acusação?
Diego Costa -
Acho que a pessoa interpretou mal. Nem dei muita importância para isso. Ele foi expulso, pegou quatro jogos de suspensão e lançou essa história. Não sei se foi uma forma de se defender. Mas não tem como ter ocorrido isso, porque alguém teria visto e claro que eu tomava uma suspensão. Acho que ele se equivocou.
