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Entenda por que comprar Douglas não é crise da base do Barça

27 ago 2014 - 14h35
(atualizado às 15h56)
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"Mas não é possível, eles não têm na base um lateral melhor que o Douglas?". Essa foi a reação de boa parte dos torcedores brasileiros que encararam com incredulidade a contratação do atleta são-paulino pelo Barcelona, confirmada na última terça-feira pelo clube espanhol. A negociação inusitada, aliada ao gasto de quase 170 milhões de euros em reforços na atual janela de transferências, já fez com que muitos apontem uma crise nas tão decantadas categorias de base do Barcelona - mas o quadro não é tão simples assim.

É fato que, nos últimos anos, alguns jogadores que vieram como promessa de La Masía - como é chamada a academia de jovens valores do Barcelona - não vingaram como esperado. Também é verdade que, na época de Pep Guardiola, jogadores formados em casa tinham mais espaço do que atualmente. Mas vários fatores contribuíram para que o time investisse mais no mercado do que na base na atual temporada. Veja cinco motivos pelos quais a "cantera" dos catalães está longe de enfrentar uma crise de verdade.

1. Guardiola tinha menos pressão para implantar a filosofia

<p>Guardiola pegou um time em reformulação e pôde apostar na base graças às expectativas diminuídas em sua primeira temporada. Mas o sucesso foi instantâneo e fez a exigência subir</p>
Guardiola pegou um time em reformulação e pôde apostar na base graças às expectativas diminuídas em sua primeira temporada. Mas o sucesso foi instantâneo e fez a exigência subir
Foto: Alex Livesey / Getty Images

A ideia de que o Barcelona é um time que forma craques em casa ganhou força com a "Era Guardiola" - entre 2008 e 2012, o treinador veio do time B, montou o time em torno de atletas que cresceram em La Masía e conquistou títulos em série, jogando um futebol ao mesmo tempo bonito e competitivo. Mas o projeto de Guardiola só foi possível porque o treinador tinha bem menos expectativa sobre si quando começou o reinado: o clube vinha de uma temporada sem nenhum troféu sob o comando de Frank Rijkaard, e vivia uma reformulação com a saída de nomes como Deco e Ronaldinho.

O novo treinador apostou alto em atletas como Pedro e Busquets, mas atualmente não é tão fácil para um treinador formar um time de desconhecidos à torcida, "mal-acostumada" pelo sucesso do próprio Guardiola e sedenta por retomar o trono da Europa dos "gastões" Real Madrid e Bayern de Munique. Consequentemente, a participação de atletas da base no time atual é menor. Ainda assim...

2. É possível montar um time só com atletas da base no elenco principal

Em 2012, já sob o comando de Tito Vilanova, o Barcelona venceu o Levante pelo Campeonato Espanhol com um time titular formado por 11 atletas criados na base. O feito foi alardeado como histórico, mas poderia facilmente se repetir com o elenco atual.

Dos 24 jogadores registrados no elenco principal da temporada 2014/15, metade é oriunda de La Masía. Se quiser ou precisar, o técnico Luis Enrique pode escalar um time com Masip; Montoya, Piqué, Bartra e Alba; Busquets, Xavi e Iniesta; Rafinha, Messi e Pedro. Ainda ficaram de fora o meia Sergi Roberto e os atletas do time B que podem jogar na equipe principal, como Munir e Sandro.

3. Nunca o Barcelona gastou pouco em janelas de transferências

O valor pesado de 168 milhões de euros gastos na atual janela de transferências chama a atenção, mas um olhar mais atento mostra que o Barcelona não está fazendo nada muito fora de seus padrões. Em nenhuma temporada, desde que Guardiola assumiu, o clube gastou pouco.

Logo no ano de estreia, em 2008/09, foram 88 milhões de euros em nomes como Piqué, Daniel Alves e Keita; no ano seguinte, 85 milhões mais Samuel Eto'o pela chegada de Ibrahimovic e Maxwell, por exemplo. O fato de o Barcelona ter investido pesado para a atual temporada não implica necessariamente em crise na base. Além disso, a cifra atual foi inflada pela contratação de Luis Suárez, que, sozinho, custou 81 milhões de euros (veja quadro completo abaixo).

Temporada Treinador Contratações Valor gasto (euros)
2008/09 Pep Guardiola Keita, Piqué, Pinto, Cáceres, Dani Alves, Hleb e Henrique 88 milhões
2009/10 Pep Guardiola Ibrahimovic, Maxwell, Keirrison e Chygrynskiy 85 milhões + Eto'o
2010/11 Pep Guardiola Villa, Mascherano, Adriano e Afellay 71 milhões
2011/12 Pep Guardiola Fàbregas e Sánchez 60 milhões
2012/13 Tito Vilanova Alba e Song 33 milhões
2013/14 Tata Martino Neymar e Bojan 70 milhões
2014/15 Luis Enrique Suárez, Mathieu, Vermaelen, Rakitic, Ter Stegen, Bravo e Douglas 168 milhões

4. Montoya está longe de ser fiasco, e pode ser o futuro

Bicampeão europeu Sub-21 e "cria" de Luis Enrique, Martín Montoya é aposta do Barça na lateral
Bicampeão europeu Sub-21 e "cria" de Luis Enrique, Martín Montoya é aposta do Barça na lateral
Foto: David Ramos / Getty Images

A ideia inicial do Barcelona era contratar Douglas, deixá-lo emprestado ao São Paulo e contar com ele só no ano que vem, quando acabasse o contrato de Daniel Alves - porém, a proibição de registrar jogadores em 2015, imposta pela Fifa, frustrou o plano.

Douglas é visto como possível substituto do compatriota por ter as mesmas características de jogo, mas o Barça já tem outro lateral cotado para assumir a posição: Martín Montoya, criado na base desde os oito anos, e membro do time principal desde 2012.

Titular em 2010 sob o comando de Luis Enrique no Barcelona B e bicampeão europeu Sub-21 como titular pela Espanha, o lateral direito já tem mais de 50 jogos pelo time principal e está longe de ser fiasco. Atualmente com 23 anos, Montoya nunca será um craque; mas tende a ser ele, e não Douglas, o "plano A" para suceder Daniel Alves.

5. Há talentos "perdidos", mas também grandes promessas

<p>Munir El Haddadi, 18 anos, é a mais nova promessa da base do Barcelona</p>
Munir El Haddadi, 18 anos, é a mais nova promessa da base do Barcelona
Foto: Vesa Moilanen / Reuters

É óbvio que La Masía não é uma fábrica perfeita de talentos, que produz craques em série de forma infalível. Muitos nomes que saíram da base do Barcelona não vingaram como esperado - o caso mais clássico é o de Bojan Krkic, que bateu recordes de artilharia no time B e hoje defende o Stoke na Inglaterra.

Nomes como Cuenca e Jeffrén não renderam e foram vendidos; já Thiago Alcântara mostrou potencial, mas se irritou com a falta de oportunidades e saiu para o Bayern de Munique.

Ainda assim, o cenário atual conta com nomes promissores: o descendente de marroquinos Munir El Haddadi é a sensação do time, e os jovens Tello e Deulofeu (que passarão a temporada emprestados a Porto e Sevilla) são também exemplos que mostram que, apesar de não viver mais seu apogeu sob os cuidados de Guardiola, a base do Barcelona ainda é uma das melhores do mundo.

Fonte: Terra
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