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Campeonato Espanhol

Lesões, arrogância e polêmicas: veja os 11 erros do Barça

18 mai 2014 - 07h59
(atualizado às 08h01)
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Neymar e Messi lamentam; temporada abaixo do esperado no Barcelona
Neymar e Messi lamentam; temporada abaixo do esperado no Barcelona
Foto: Getty Images

O Barcelona encerrou a temporada 2013/14 com apenas o título da Supercopa da Espanha e concluiu o ano como um dos mais decepcionantes da sua história recente, especialmente após as imensas expectativas geradas pela contratação de Neymar. O brasileiro saiu do Santos como craque que teria impacto imediato na Espanha, após ser eleito como melhor jogador da Copa das Confederações e acabar com os espanhóis na final.

O grande algoz do ano foi o Atlético de Madrid, responsável pela eliminação do time catalão nas quartas de final Liga dos Campeões, pelo placar agregado de 2 a 1, e da perda do título Espanhol em pleno Camp Nou, com um empate por 1 a 1 na 38ª e derradeira rodada da competição nacional.

A temporada não foi como o planejado. Polêmicas em torno da transação do brasileiro vieram à tona e resultaram na queda do então presidente Sandro Rosell. Tendo como referência o número da camisa do atacante brasileiro e análises feitas por especialistas de todo o mundo, o Terra elegeu 11 problemas e equívocos que o Barcelona sofreu e cometeu para realizar a decepcionante temporada:

Lionel Messi mostra abatimento após eliminação
Lionel Messi mostra abatimento após eliminação
Foto: Reuters
1º - Lesões de Lionel Messi

2013 não foi um bom ano para o tetracampeão do prêmio de melhor do mundo da Fifa. Mal fisicamente no final da temporada 2012/13, Messi teve lesão muscular na partida de ida das quartas de final da Liga dos Campeões contra o Paris Saint-Germain na França, em confronto que terminou empatado por 2 a 2. No Camp Nou, a estrela do Barça começou no banco de reservas e entrou no decorrer do segundo tempo, quando a equipe perdia por 1 a 0.

Sua entrada mudou o jogo e, apesar dele não ter marcado o gol de empate, foi fundamental para a classificação para a fase seguinte, na qual os catalães foram destruídos pelo Bayern de Munique por um placar agregado de 7 a 0. O argentino participou apenas da ida, na Alemanha, mas pouco fez contra um adversário mais incisivo e produtivo, apesar da pouca posse de bola. Ele sequer entrou em campo para o segundo jogo, graças à condição física ruim.

Encerrada a temporada, o argentino se preparou para o ano seguinte, no qual a dupla com Neymar gerou enormes expectativas na imprensa local, mas demorou para ser vista dentro de campo com frequência. No primeiro jogo oficial do ano, na Supercopa da Espanha, o camisa 10 do Barcelona deixou o gramado com nova contusão muscular, que não o afastou da volta no Camp Nou, que terminou empatada por 0 a 0 e resultou no título dos catalães.

Messi conseguiria uma pequena sequência de jogos até setembro, quando se lesionou novamente na partida contra o Almería. Recuperado, ele voltou a se machucar em novembro, na goleada por 4 a 1 sobre o Betis, e ficou afastado dos gramados até 2014. A falta de regularidade impediu que ele atingisse as marcas impressionantes das temporadas anteriores, apesar de continuar a liderar o time na artilharia e ser um dos principais garçons do elenco.

2º - Base envelhecida

O meia Xavi ditou o ritmo do Barcelona durante anos e foi o coração do vencedor tiki-taka do técnico Pep Guardiola. A idade, no entanto, não parou de avançar e o articulador do clube catalão, aos 34 anos, não é mais tão produtivo como foi no passado tanto quando o time tinha a posse de bola quanto sem ela.

Estatisticamente, o meio-campista teve uma queda de rendimento expressiva nas assistências. Enquanto nos cinco anos anteriores ele terminou temporadas com cerca de 15 passes para gol, com um pico de 27 na temporada 2008/09, em 2013/14 ele serviu apenas cinco companheiros. Parceiro de longa data de Xavi no Barcelona, o zagueiro e capitão Puyol, 36 anos, mal entrou em campo, realizando apenas doze jogos e anunciando que se aposentaria no meio de 2014, no término das competições europeias.

<p>Neymar se lesionou e não correspondeu às expectativas</p>
Neymar se lesionou e não correspondeu às expectativas
Foto: Getty Images
3º - Saída de Sandro Rosell e escândalo na contratação de Neymar

Não se sabe até agora quanto o Barcelona pagou por Neymar. O clube catalão afirmou à Fifa que gastou “apenas“ 17,1 milhões de euros para contratar o atacante junto ao Santos, valor que foi dividido pelo time  paulista com a DIS e a Teisa, empresas que eram donas de porcentuais do jogador.

No entanto, a equipe azul-grená também tornou público que precisou desembolsar outros 40 milhões de euros para resolver acordos que antecederam a assinatura de contrato do brasileiro. Mas o caso não parou por aí, pois outros dirigentes do Barça acusaram o presidente Sandro Rosell de gastar ainda mais para acertar com o camisa 11.

Pressionado e acusado de embolsar parte do dinheiro gasto na nebulosa transferência, o então presidente do Barcelona deixou o cargo no último dia 23 de janeiro e indicou seu vice, Josep Maria Bartomeu, como sucessor para o cargo. Os efeitos da crise política em campo são imensuráveis, mas existentes.

Gerado Martino não deve ter o seu contrato renovado com o Barcelona ao fim da temporada
Gerado Martino não deve ter o seu contrato renovado com o Barcelona ao fim da temporada
Foto: EFE

4º - Técnico sem experiência europeia

O argentino Tata Martino teve um bom início de temporada no Barcelona ao levantar a Supercopa contra o Atlético de Madrid e lidar bem com a constante ausência de Messi na primeira metade dos torneios disputados, escalando Neymar na função de falso nove e mantendo bom rendimento do time.

A explosão do problema extracampo que resultou na entrega do cargo de Sandro Rosell tornou seu trabalho turbulento em um momento em que o técnico já encontrava dificuldades para escalar um time ideal. Na ausência de Messi, Alexis Sánchez explodiu como artilheiro da equipe, enquanto Neymar funcionava bem como garçom e Pedro cumpria bem sua função tática no trio de ataque.

Com o retorno definitivo do craque argentino, a química do setor sumiu. Messi e Neymar não conseguiram o encaixe esperado quando o brasileiro foi contratado e o treinador não foi capaz de definir o trio ideal. Martino testou Neymar e Messi aberto como pontas, o argentino como falso 9 e o camisa 11 espetado pela esquerda e até na direita, onde deixou a desejar atuando fora de posição. Alexis passou a produzir menos - apesar do golaço na partida decisiva contra o Atlético de Madrid na última rodada do Espanhol - e Pedro manteve sua já tradicional regularidade.

Por não conseguir fazer seus comandados atingirem os objetivos esperados, Tata Martino teve sua saída do Barcelona anunciada pelo clube minutos depois do empate com o rival colchonero e a perda do campeonato nacional. Sua primeira experiência em um clube europeu foi frustrada.

5º - Elenco pobre de opções

Enquanto foi presidente do Barcelona, Sandro Rosell investiu centenas de milhões de euros para contratar Mascherano, Adriano, Ibrahim Afellay, Cesc Fábregas, Alexis Sánchez, Alex Song, Jordi Alba e Neymar. Entre os oito jogadores comprados, nenhum zagueiro de origem para um elenco deficiente no setor.

Praticamente todas as apostas foram aproveitadas, exceto o holandês Afellay, que sofreu com contusões e pouco jogou com a camisa azul-grená. Outras delas, porém, viraram artigos de luxo no banco de reserva, como Fábregas, Mascherano e Song. O argentino e o espanhol foram muito utilizados na rotação do elenco, em especial o meia, colocado em diversas posições do meio-campo para frente.

O argentino, de baixa estatura, foi transformado em zagueiro pelos técnicos Pep Guardiola, Tito Vilanova e Tata Martino, e atuou poucas vezes como volante, sua posição de origem. Enquanto o clube estava em alta, a improvisação trouxe poucos problemas, pois Mascherano qualificava a saída de bola do time catalão, que quase não era ameaçado por seus adversários, mas ele se tornou o ponto fraco da defesa conforme o tiki-taka perdia sua eficácia diante de rivais mais duros na Liga dos Campeões e Campeonato Espanhol. 

A falta de reforços para o setor e a subutilização de Song nas ausências de Piqué e Puyol, recorrentemente lesionados, enfraqueceram uma defesa muito pouco ameaçado quando o Barcelona era dono da bola, no auge da era Guardiola, e quando perdia a posse logo a retomava com a marcação pressão no ataque.

6º - Seca na mítica La Masia

La Masia, a aclamada academia de base do Barcelona, não tem abastecido o elenco profissional com atletas do nível dos que produziu na década passada. Promessas chegam com pompa dos times de jovens, mas desde a afirmação de Thiago Alcântara na temporada 2010/11 a equipe principal não recebe um jogador com qualidade para se firmar sequer como importante na rotação do elenco, muito menos como titular.

Cuenca, Tello, Jonathan dos Santos, Montoya e Sergi Roberto chegaram aos profissionais com o selo de qualidade das “canteras” do Barça, mas não tiveram o impacto próximo aos de atletas como Puyol, Xavi, Victor Valdés, Busquets, Iniesta, Piqué e Lionel Messi.

Enquanto o clube catalão vê Thiago Alcântara se destacar no Bayern de Munique, para onde ele foi vendido, o elenco atual não tem um substituto para cumprir a função exata de Xavi, mesmo após repatriar – com prejuízo – Fábregas. Jordi Alba também foi outro atleta formado nas categorias de base que despontou fora do Barcelona e foi comprado de volta por cifras milionárias.

7º - Falta de clareza na filosofia de jogo

O Barcelona treinado por Pep Guardiola é considerado uma das melhores equipes de todos os tempos e tinha como marca registrada os índices elevados de posse de bola combinados com um ataque avassalador, que utilizava este domínio de jogo para encurralar seus adversários na defesa, impedindo, inclusive, que estes conseguissem sair jogando.

Desde a saída do treinador, que tirou um ano sabático antes de ser contratado pelo Bayern de Munique, o clube catalão tem gradualmente se distanciado daquele futebol frenético praticado principalmente até o fim de 2011, quando o Santos foi humilhado na Copa do Mundo de Clubes da Fifa no Japão.

Com Tito Vilanova, o clube continuou dando prioridade ao controle da posse de bola, se tornando progressivamente mais dependente de Messi para marcar e arriscar investidas ofensivas. As intermináveis trocas de passes perderam a objetividade característica dos tempos de Guardiola e deixaram o time limitado a jogadas que tivessem o argentino como principal peça.

Com Tata Martino, o Barcelona continuou superior nas estatísticas de posse de bola, mas apostou em mais jogadas com ligação direta, pouco características nos anos anteriores, descaracterizando o tradicional estilo estabelecido pelos seus antecessores, mas também sem criar uma identidade própria.

<p>Pinto virou titular com lesão de Valdés</p>
Pinto virou titular com lesão de Valdés
Foto: Reuters
8º - Insegurança no gol

Victor Valdés é um dos atletas mais vitoriosos da história do Barcelona e foi o titular indiscutível do clube durante anos, mas mostrou seguidas vezes insegurança ao defender a meta catalã. O goleiro chegou a falhar mais de uma vez, mas poucas vezes a ponto de comprometer sensivelmente o desempenho da equipe.

Seu reserva dos últimos anos, José Pinto, era utilizado esporadicamente em partidas da Copa do Rei, mas nunca teve seus serviços necessários em jogos importantes até este ano, quando Valdés rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito na vitória por 3 a 0 sobre o Celta de Vigo no último dia 26 de março.

Como titular, Pinto não manteve o bom nível de Valdés e complicou ainda mais as chances do Barcelona na turbulenta temporada. Para o futuro, o clube catalão deve contratar o alemão Ter Stegen para o lugar de Valdés, que já anunciou que não renovará seu contrato, com término previsto para o meio deste ano.

9º - Bola aérea: problema interminável

Se o Barcelona de Guardiola tinha uma vulnerabilidade era a bola parada pelo alto. Embora com a bola o time repleto de baixinhos fosse amplamente superior aos seus adversários, ele sofria para parar seus adversários em escanteios, cruzamentos e faltas alçadas para a área. Foi por meio deste ponto fraco que o Real Madrid, na temporada 2010/11, levantou a Copa do Rei, pois a vitória na prorrogação foi alcançada graças a um gol de cabeça de Cristiano Ronaldo, que superou Mascherano em uma jogada deste tipo.

Esta falha recorrente não foi corrigida até hoje e a insistência na não contratação de zagueiros pode ser apontada como um dos motivos da persistência deste ponto fraco. O gol do uruguaio Godín, do Atlético de Madrid, na 38ª e derradeira rodada do Campeonato Espanhol ilustra perfeitamente esta fragilidade da retaguarda.

10º - Lesão na reta final e temporada abaixo do esperado de Neymar

Espanhol: veja os gols de Barcelona 1 x 1 Atlético de Madrid:

A primeira temporada de Neymar no futebol europeu terminou no clássico contra o Real Madrid, na final da Copa do Rei, com uma contusão no pé esquerdo. Esta impediu que o brasileiro participasse da reta final do Campeonato Espanhol, nos jogos que do Barcelona que antecederam ao confronto direto com o líder Atlético de Madrid na última rodada, no Camp Nou. Nele, o destaque da Seleção entrou no segundo tempo, quando o clube da casa precisava de um gol para levantar a taça, e até tentou jogadas individuais, embora não tenha obtido sucesso.

O atacante poderia se tornar o herói de um ano decepcionante caso brilhasse nos últimos jogos, mas a lesão impediu que o camisa 11 mostrasse o porquê foi contratado a peso de ouro pelos catalães. Neymar teve momentos de brilho, gerou suspiros e aplausos dos torcedores do Barcelona, mas não mostrou na Espanha o futebol apresentado nos tempos de Santos ou até da Seleção Brasileira na Copa das Confederações.

Ser escalado fora de posição não ajudou e, apesar de ter dado 11 assistências e marcado 14 gols nas competições que disputou pelo Barcelona, Neymar não se mostrou confortável no sistema tático do clube, dando poucas das suas características arrancadas e falhando em diversas ocasiões que tentou partir para cima.

11º - Arrogância

O Barcelona se tornou um clube arrogante desde a incrível sequência de títulos sob comando de Guardiola.  A crença que o tiki-taka é a fórmula ideal para se jogar futebol impede que a direção da agremiação admita que ele não surte mais o mesmo efeito desde o início de 2012, o que exigiria uma mudança no estilo de jogo.

A afirmação é reforçada pela resistência à contratação de defensores, inclusive de atletas técnicos como Thiago Silva e David Luiz, cogitados pelo Barça em janelas de transferências passadas.  O clube catalão não recupera a bola com a mesma facilidade dos últimos anos, o que exigiria uma retaguarda mais qualificada e segura.

O culto à posse de bola também repudia atacantes mais fortes e jogadas pelo alto, características que podem coexistir em um sistema de jogo baseado na troca de passes, como o próprio Guardiola mostra na atualidade no comando do Bayern de Munique. No Barcelona, um centroavante de ofício não inicia um jogo desde Ibrahimovic, que foi para o Milan por problemas de relacionamento com o técnico do clube alemão.

O Barcelona ainda é um gigante, muito acima da média do seu país e entre os mais fortes do futebol europeu, mas para recuperar o status de melhor do mundo será necessário se reinventar, admitir que não está mais no topo e definir um objetivo claro para se reconstruir no futuro.

Fonte: Terra
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