Cotas raciais teriam sido estipuladas no futebol francês
- Lúcia Müzell
- Direto de Paris
Mais um escândalo de racismo volta abalar a imagem do futebol francês. Nesta quinta-feira, um site de informações denunciou que os dirigentes da Federação Francesa de Futebol (FFF) decidiram estabelecer cotas de jogadores negros e de origem árabe nas equipes do país, a fim de aumentar, nos gramados, a presença dos craques chamados franco-franceses, os franceses de origem europeia.
Segundo a denúncia, o técnico da Seleção, Laurent Blanc, teria concordado com o acerto, que estabelece a cota de no máximo 30% de jogadores de origem africana e magrebina nas escolinhas de futebol, seguindo orientação da Direção Técnica Nacional da federação.
O acordo, realizado no mais absoluto segredo no início do ano, foi divulgado pelo Médiapart, um dos veículos mais investigativos da França - revelador, por exemplo, de graves denúncias contra o ex-ministro do Orçamento, Eric Woerth, em 2010.
"Nas mais altas instâncias do futebol francês, o caso é claro: há negros demais, árabes demais e brancos de menos nos campos de futebol", aponta o site, que cita fontes da FFF escandalizadas com o esquema. O objetivo seria o de melhorar a imagem dos "bleus" na França, depois do fiasco da equipe na última Copa do Mundo, na África do Sul, que na época chegou a ser atribuído aos craques de origem estrangeira, especialmente o atacante Nicolas Anelka, francês negro com pais nascidos na Martinica.
A preferência pelos jogadores franceses europeus deveria se manifestar desde cedo nas escolinhas de futebol, a partir dos 12 anos, conforme o Médiapart. A orientação teria sido abordada várias vezes pelo presidente da direção técnica, François Blaquart, nas reuniões oficiais da federação - mas deveria ser mantida em segredo, conforme as fontes do site.
Tão logo as informações foram publicadas, as autoridades esportivas francesas negaram com veemência as acusações. O presidente da federação, Fernand Duchaussoy, se disse surpreso e chocado pela notícia, afirmando que jamais ouviu falar disto e se surpreenderia sinceramente se as informações fossem verdadeiras. "Seria completamente anormal se isso acontecesse e eu não aceitaria", defendeu-se Duchaussoy.
Em entrevista ao jornal Le Monde, a ministra dos Esportes, Chantal Jouanno, declarou que não podia acreditar na denúncia e que pediu uma inspeção para averiguar os fatos. "Por enquanto, estamos no domínio do rumor. Não condenamos a federação antes de termos elementos mais precisos", afirmou a ministra. Jouano deixou claro que, se a denúncia for confirmada, seria totalmente discriminatória e ilegal, e portanto haverá punições.
Já Laurent Blanc, através de sua assessoria de imprensa, se disse indignado sobre as acusações. "Laurent Blanc desmente formalmente que tenha apoiado seleções baseadas em critérios étnicos ou de cor. Isso é contrário à sua filosofia de vida, ele que é hostil a todas as discriminações", afirmou o assessor Philippe Tournon.
O assessor destacou, entretanto, que certa vez Blanc abordou a questão dos jogadores que possuem dupla nacionalidade e que, depois de treinarem por anos na França, decidem defender as seleções de equipes africanas. "Mas transformar isso em uma reportagem intitulada 'negros demais, árabes demais' é alucinante", argumentou Tournon.
O técnico da seleção sub-20, Francis Smerecki, confirmou que houve um debate sobre os jogadores com dupla nacionalidade - francesa e africana ou magrebina. "Houve uma reflexão sobre este assunto. Nós falamos sobre o fato de formarmos jovens jogadores e alguns deles não quererem defender as nossas cores", disse.
O assunto tomou ares de escândalo na França e entrou na ordem do dia da reunião do conselho da federação, prevista havia muito tempo coincidentemente nesta sexta-feira, conforme a ministra dos Esportes. Jouano precisou que uma das sanções possíveis seria a diminuição dos recursos financeiros da federação.
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