Pague quanto quiser: time inglês deixa torcida decidir preço

Ulisses Neto

12 jan 2015 - 09h14

(atualizado em 5/2/2015 às 15h34)

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Qual é o valor justo para assistir a um jogo de futebol? Essa foi a pergunta feita pelo Brentford, clube que disputa a Championship (segunda divisão inglesa) aos seus torcedores. Pelo terceiro ano consecutivo, os fãs puderam decidir quanto queriam pagar para assistir a um jogo em casa, no Estádio Griffin Park.

O preço mínimo para a partida do último sábado contra o Rotherham United era de apenas cinco libras por entrada (cerca de R$ 20). O time prometeu doar a instituições de caridade a metade de toda quantia excedente a esse valor. "Os dois primeiros jogos que fizemos isso foram um sucesso. Temos certeza que agora que subimos de divisão teremos o mesmo resultado", afirmou Mark Devlin, diretor de futebol do clube.

<p>Medida não é unanimidade entre torcedores do Brentford. Quem comprou pacote de ingressos para toda a temporada reclama</p> — Medida não é unanimidade entre torcedores do Brentford. Quem comprou pacote de ingressos para toda a temporada reclama
Foto: Ulisses Neto / Especial para Terra

No país com os ingressos mais caros do mundo, onde uma cadeira para a temporada completa pode custar mais de R$ 9 mil por pessoa na Premier League (primeira divisão), somente para jogos em casa, a iniciativa não é unanimidade.

Mesmo com preços astronômicos, a maioria dos clubes ingleses consegue não apenas vender todas as entradas para a temporada, como ainda manter uma longa lista de espera. Há uma verdadeira legião de consumidores fiéis em quase todas as divisões do futebol inglês.

"Compro ingressos para a temporada, isso é ridículo. Pago 400 libras por ano (cerca de R$ 1,2 mil) e agora qualquer um pode vir aqui. Esses não são torcedores de verdade”, lamentou Andrew Smith, torcedor do Brentford.

Smith disse ir aos jogos do clube há 13 anos e disparou contra a iniciativa. “Os ingressos na Inglaterra são absurdos e isso faz com que a atmosfera no estádio fique sonolenta. São muitos ingressos coorporativos. Devíamos seguir o exemplo da Bundesliga, onde existem diversas faixas de preço. Aqui está quase impossível (de pagar)", ponderou.

A exposição da marca e a prospecção de novos torcedores é uma das explicações do clube para a promoção. Tim James, estudante no bairro londrino de Hounslow, onde fica a casa do Brentford, foi a partida acompanhado de três amigos. Todos iam ao Griffin Park pela primeira vez na temporada.

"É nosso primeiro jogo. Pagamos cinco libras pelo ingresso, acho que é um preço justo. Está impossível para a classe trabalhadora comprar entradas. Na Premier League, já fui em alguns jogos do Chelsea e o tíquete mais barato que consegui comprar foi por 27 libras. Se não tivesse a promoção eu não viria. Hoje, além do jogo ser perto da minha casa, foi um preço bom".

<p>Entrada do Griffin Park; aumento de público com a medida de o torcedor pagar quanto quiser </p> — Entrada do Griffin Park; aumento de público com a medida de o torcedor pagar quanto quiser
Foto: Ulisses Neto / Especial para Terra

Tradicionalmente, a maioria dos torcedores de futebol da Inglaterra adota os times de seus bairros de origem, independente da divisão em que eles estejam jogando. No entanto, clubes badalados como Chelsea e Manchester City têm conquistado cada vez mais seguidores. Isso faz com que equipes de menor expressão percam apoio e, consequentemente, arrecadação.

Kevin Charrington, sócio-torcedor das "Abelhas" , apelido do Brentford, acredita que o clube pode ter vantagem em ações de marketing como essa. " Isso pode ser bom para o clube no longo prazo, mas no curto prazo é como um suicídio financeiro. Nosso estádio tem capacidade para doze mil pessoas, então a renda é muito baixa”, analisou. “Mas, no longo prazo, o time ganha com a divulgação do nome. E quando se disputa a Premier League, a renda com ingressos fica em segundo plano.”

A equipe do oeste de Londres ocupa a quinta posição da Championship. Um bom rendimento até agora para o clube que foi promovido na última temporada depois de vinte e um anos. Diante dos resultados positivos em campo, os torcedores e dirigentes sonham agora com a Premier League e a construção de um novo estádio, com capacidade para vinte mil pessoas.

Mais uma vez, a ação de marketing deu certo fora de campo. Onze mil pessoas lotaram o antigo, porém charmoso, Griffin Park. Dentro de campo, os comandados de Mark Warburton venceram o Rotherham por 1 a 0. E o plano de não depender da bilheteria para montar uma grande equipe não parece tão fora da realidade.