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Itália

Hernanes é o "sonho de consumo" da Lazio, diz André Dias

3 mai 2010 - 16h43
(atualizado às 18h36)
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Henrique Moretti

Após um início difícil no futebol da Itália, André Dias se firmou e virou titular da defesa da Lazio. Adaptado em apenas três meses no país, o jogador, 30 anos, já virou até uma espécie de consultor do clube em negociações no Brasil - uma dessas poderia resultar na contratação de Hernanes, definido pelo zagueiro como um "sonho de consumo" do time alviceleste.

A Lazio faz um Campeonato Italiano muito ruim e, a duas rodadas do fim, ainda corre pequeno risco de rebaixamento. Porém, é uma equipe tradicional que soma dois títulos da liga nacional e cinco da Copa da Itália. O atual presidente Claudio Lotito salvou o clube da falência em 2004 e vai tentando reerguê-lo, tendo pagado inclusive no ano passado cerca de 20 milhões de euros (R$ 45,7 milhões, em valores atuais) para contratar o atacante argentino Mauro Zárate.

Essa cifra poderia ser suficiente para tornar realidade o desejo de André Dias, que espera atuar ao lado não só de Hernanes, mas também de outros brasileiros. Em entrevista exclusiva ao Terra, concedida por telefone na última sexta-feira, o ex-jogador do São Paulo fala sobre esse e outros assuntos, como a Seleção Brasileira: com poucas esperanças de ir à Copa do Mundo, ele opina que dois colegas que também jogam na Itália, Juan e Thiago Silva, são superiores a Lucio, eleito o capitão intocável de Dunga.

Confira os melhores trechos da entrevista:

Terra - Passadas as dificuldades em 2009/10, a Lazio deve fazer um campeonato bem melhor na próxima temporada. Essa é sua esperança?
André Dias - Vai fazer, estão começando a contratar. Já perguntaram para mim sobre pessoas que conheço no Brasil. Eles estão com a intenção de contratar dois meias, um atacante e um zagueiro brasileiros. A Lazio é muito boa, tem uma estrutura grande.

Terra - Quem seriam eles?
André Dias - Querem um zagueiro pelo lado direito, o nome seria o Miranda, mas eles sabem que não vem porque o valor é muito alto - não está nos padrões da Lazio. Falei a respeito do Rodrigo, que tem qualidade. Mas eles estão interessados em mais jovens (o jogador do Grêmio tem 29 anos). Até eu só vim porque o Rever não veio, você sabia? O diretor (esportivo da Lazio, Igli Tare) foi até minha casa em São Paulo junto com o Gilmar (Rinaldi, seu empresário) e falou: "André, a gente gostou de dois jogadores, você e o Rever, mas a prioridade é ele porque é mais novo; até pelo fato de no futuro vender, você fica sendo a segunda opção". Eles estão certos, qualquer clube contrata jogadores jovens para revender. Eu não tenho esse perfil, e acabei vindo no último dia (do mercado de transferências, em 31 de janeiro).O sonho de consumo deles é o Hernanes. Vieram me perguntar e deixei bem claro que se contratarem, além de ele ser um craque e o melhor jogador na posição no Brasil, não vai ficar um ano de campeonato na Lazio e com certeza vai ser vendido. O outro é o Diego Souza. Se pudessem vir os dois, seria ótimo.

Terra - E você já falou com Hernanes sobre esse interesse? Tentou convencê-lo a ir para a Itália?
André Dias - Não falei nada porque daqui a três semanas vou estar em São Paulo, onde tenho casa, e vou lá no clube matar a saudade, conversar com o pessoal.

Terra - Agora você vive um bom momento na Lazio, marcando até gols importantíssimos: foram dois em apenas dez partidas realizadas. No entanto, a imprensa italiana reportou que sua adaptação não foi tão fácil. O time estava em crise, tinha perdido o técnico Davide Ballardini, e você falhou na estreia contra o Catania, em 7 de fevereiro, permitindo um gol do atacante Maxi López. Você chegou a pensar em desistir da aventura italiana?
André Dias - Perder lance para o atacante acontece, quantas vezes já não aconteceu, mas não foi só por causa disso. Foi pelo fato de não conhecer nada, pela situação do clube, isso tudo me assustou um pouco, fez com que visse a pensar (em voltar ao Brasil). Acabei comentando com alguns amigos, mas não procurei nenhuma equipe.

Terra - Para piorar, ninguém o conhecia na Lazio, certo? Nem o técnico que susbtituiu Ballardini, Edoardo Reja. Os companheiros foram importantes para ajudar na sua adaptação?
André Dias - Ledesma (meia argentino), Scaloni (zagueiro argentino) e Muslera (goleiro uruguaio) foram pessoas que me ajudaram e ainda têm-me ajudado, porque falo muito pouco de italiano - entendo o que eles falam, mas pra falar me enrolo, só tenho três meses aqui. Mas agora já houve uma melhora muito grande, minha família está satisfeita. O desempenho dentro de campo faz com que as coisas melhorem. O novo técnico (Reja) nunca tinham ouvido falar de mim, o outro (Ballardini) que me conhecia. Quando cheguei fui apresentado a ele, que disse que tinha visto vários jogos meus no Brasil. Pela sequência de resultados ele foi mandado embora (após a derrota para o Catania). Então vim para cá, os diretores e o presidente me conheciam, alguns jogadores também, mas o principal, o técnico, não. Pelo sistema de jogo foi tudo difícil - dão muita importância para o esquema tático. A obediência tática no Brasil é muito pouca, enquanto que aqui é 99% de tática e 1% de qualidade. Eu tive muitas dificuldades, não entendia tudo, estava acostumado a jogar de uma forma, tinha que mudar pra me encaixar, mas aos poucos fui absorvendo.

Terra - A imprensa italiana noticiou que alguns jogadores o conheceram pela internet. É verdade?
André Dias - Foram jogadores italianos, como Firmani (volante) e Stendardo (zagueiro). Por mais que passe algum ou outros jogos aqui, não é sempre que passa, eles ficam mais ligados nos Campeonatos Europeus. Aí me disseram: "entrei na internet para ver como você jogava, nunca vi você jogar". Hoje são pessoas que me ajudam. É bom que na internet você vê vídeo no Youtube, entra no Google e acha tudo. Não me conheciam como jogador, mas sabiam que o clube da onde vim era grande. (Agora) tenho um respeito muito grande, por ter feito boas partidas.

Terra - Em termos de tática, Reja rapidamente mudou o esquema da Lazio de quatro para três zagueiros, mais parecido com aquele em que você atuava no São Paulo. Isso ajudou?
André Dias - O 3-5-2 daqui é muito diferente, porque no Brasil os que jogam do lado tem total liberdade, aqui fica muito restrito até o meio-campo. Fiz duas partidas pelo lado direito e me seguraram um pouco. Mas só pelo fato de jogar com três zagueiros já me ajudou. Meu crescimento veio junto com o da equipe, a situação de ter um treinador novo fez todo mundo crescer.

Terra - Há vários jogadores brasileiros na Roma, mas pela rivalidade você torce para a Inter ser campeã?
André Dias - Pra mim com certeza a Internazionale. Eu acho (a rivalidade na Itália) maior, pelo fato de ter dois times na cidade, essa rivalidade aumenta. Toda partida entre Roma e Lazio no final dá briga - foi o que me passaram - e essa última não foi diferente (em 18 de abril, quando a Roma venceu por 2 a 1, houve problemas entre os torcedores nas arquibancadas). A rivalidade existe, não temos muito contato, mas não a ponto de não chegar a conversar (com atletas da Roma). Conheço o Júlio Baptista, fiquei conversando com o Doni após o jogo, com o Juan também. Sou admirador do futebol do Juan, quem não é? É o melhor zagueiro brasileiro da atualidade.

Terra - Melhor até que o Lucio, que foi muito bem na Liga dos Campeões da Europa contra Chelsea e Barcelona?
André Dias - Eu acho. Juan e Thiago Silva são os melhores jogadores que tenho visto. Não que o Lucio... quem sou eu pra falar dele? Mas são características diferentes, admiro o Juan, muito mais técnico que o Lucio, que é mais de força. Já o Thiago Silva eu acho o mais completo.

Terra - Falando em jogadores da Seleção Brasileira, você chegou a ser convocado para a partida contra o Chile, em 9 de setembro de 2009, pelas Eliminatórias da Copa. Acha que a ida à Itália o deixou mais longe da Copa do Mundo ou ainda tem esperanças de ir ao Mundial?
André Dias - Muito poucas. Vou ser sincero, não me iludo, tem cinco zagueiros à minha frente: Lucio, Juan, Thiago, que para mim é excepcional; logo em seguida Luizão e Miranda. Acho que a única tristeza foi ter chegado em um momento muito ruim da Lazio. Se (o time) estivesse melhor a visibilidade aqui seria muito maior (que no Brasil) com certeza. Sou concorrente direto de vários zagueiros que estão aqui, e por se tratar de um Campeonato Europeu as pessoas veem de uma forma diferente.

Terra - Você tem 30 anos e contrato com a Lazio por mais três temporadas. Como vê o seu futuro? É mesmo na Europa ou pensa em voltar ao Brasil?
André Dias - Estou com 30 anos, vou terminar o contrato com 33, aqui geralmente renovam dependendo do que você faça. Prefiro encerrar minha carreira por aqui mesmo, vamos ver.

Terra - Então não pensa em terminar a carreira no São Paulo e fazer o jogo 200 (até aqui soma 197)? Em janeiro, quando você deixou o clube após quatro anos, adiantou que seria para sempre um torcedor são-paulino.
André Dias - Era um sonho, jamais fiz 200 jogos por uma equipe, tive um prestigio e um respeito muito grande no São Paulo, na ausência do Rogério eu era o capitão. Imagine você ser o responsável dentro de campo, na ausência do ídolo, por representar o clube. Tenho que dar valor, fico chateado (por não ter completado a 200ª apresentação). Tudo é possível. No Brasil o São Paulo tem a minha preferência pelo sentimento, mas meu desejo é renovar meu contrato. E ainda sonho em jogar em um clube de muita expressão da Itália. Para quem saiu do Brasil com 30 anos e está jogando em uma equipe como a Lazio, por que não sonhar?

Terra - Mesmo de longe, você ainda tem acompanhado as partidas do São Paulo? Ricardo Gomes vem recebendo algumas críticas, como você compararia o atual treinador com o antigo, Muricy Ramalho?
André Dias - Tenho acompanhado pela internet, passa alguns jogos aqui, o ultimo que vi foi Santos e São Paulo na Baixada Santista (pelas semifinais do Campeonato Paulista). O Muricy ficou tanto tempo no São Paulo e a gente teve momentos ruins também. Mas os times sempre eram muito bons. Acho que o de 2006 tinha o melhor elenco, de olhar para o banco e ver grandes jogadores. Mesmo assim a gente teve problemas.(Neste ano) o São Paulo contratou vários jogadores, houve mudança de sistema tático. Tem que dar um tempinho, precisa de paciência. O Cicinho chegou agora, são quatro ou cinco jogadores novos entre os titulares.

Terra - Muitas pessoas dizem que o São Paulo tem uma estrutura digna de primeiro mundo. Agora que você está na Itália, tem uma opinião formada sobre isso?
André Dias - Em relação a campo, acredito não que a Lazio seja melhor, mas pelo fato de ter um campo a mais - três contra quatro, muito bons de se treinar - leva vantagem. Em parte de fisioterapia e sala de musculação, as do São Paulo são muito melhores. Nessa parte aqui deixa a desejar, alguns aparelhos são muito antigos, e no Brasil era tudo de última linha.

Terra - E quanto aos treinamentos. Na Lazio você trabalha menos que no Brasil?
André Dias - Pelo contrário. Aqui a gente treina muito, os treinos são muito corridos. Tudo é feito com velocidade e intensidade muito altas. Até rachão quando a gente faz... aí (no Brasil) é muito tranquilo e suave; aqui dão carrinho, saem até no tapa. Os caras são nervosos, mesmo porque não se entendem direito: um é da Suíça, um da Itália, o outro é sérvio, outros são sul-americanos.

André Dias lembra-se do São Paulo com carinho, mas futuro deve ser na Europa
André Dias lembra-se do São Paulo com carinho, mas futuro deve ser na Europa
Foto: AP
Fonte: Especial para Terra
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