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Futebol Internacional

Principal prejudicado em tragédia, Al-Ahly ainda busca superar trauma

1 fev 2013 - 13h35
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Desde que o Campeonato Egípcio começou a ser disputado, na temporada 1948/1949, substituindo a Liga do Cairo, o Al-Ahly se transformou na maior potência do futebol local. Em 54 edições do torneio, a equipe conquistou o campeonato em 36 ocasiões, contra 11 do arquirrival Zamalek (maior vencedor da Liga do Cairo) e três do Ismaily. Na temporada 2011/2012, o cenário parecia sujeito a se repetir, uma vez que o Ahly era o vice-líder da competição – com 36 pontos em 15 jogos, a equipe do técnico Manuel José estava atrás do Haras al-Hodoud, de Alexandria, que tinha 37 pontos em 14 jogos.

No Estádio Bür Said, jogadores do Al Ahly teriam sido acuados por objetos atirados das arquibancadas
No Estádio Bür Said, jogadores do Al Ahly teriam sido acuados por objetos atirados das arquibancadas
Foto: AFP

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O Campeonato Egípcio então foi suspenso diante dos incidentes no Estádio Bür Said. A Associação de Futebol do Egito chegou a cogitar uma retomada do torneio, mas os protestos do torcedores acabaram por cancelá-lo definitivamente. De luto e sem atividades nacionais, o Al-Ahly se dedicou a seguir na briga pelo título da Liga dos Campeões da África. E conseguiu, passando por Mazembe (República Democrática do Congo), Berekum Chelsea (Gana) e Zamalek (Egito) na fase de grupos, Sunshine Stars (Nigéria) nas semifinais e Espérance (Tunísia) nas finais.

Al-Ahly saiu na frente, mas perdeu de virada para o Al-Masry por 3 a 1; terminado o jogo, torcida invadiu o gramado (Foto: AFP)

No entanto, nem mesmo o sétimo título continental apagou o trauma na equipe do Cairo. “A temporada do Al-Ahly foi uma provação. Vivemos o drama de Port Said, quando 72 torcedores perderam a vida (na verdade, 74), e isso foi uma situação difícil de superar. Fui pessoalmente afetado”, disse Mohamed Nagy, conhecido como Geddo, referência do ataque da equipe e da seleção egípcia.

“Além disso, tivemos muita dificuldade para retomar o futebol no Egito. Entre nós aqui no clube, a única coisa que nos fez voltar a campo foi a promessa que fizemos às famílias dos mortos: vencer a Liga dos Campeões para honrar a memória dos mártires”, completou o atacante, 26 anos.

Naquele dia 1º de fevereiro, Gedo era o titular do ataque do Al-Ahly, ao lado de Fábio Júnior. O egípcio deixou o gramado ao ser substituído aos 24min do segundo tempo, dando lugar a Shehab Ahmed. Três minutos depois da substituição, a primeira do time naquele dia, o Al-Masry fez o gol de empate. O time de Port Said marcou mais duas vezes, conquistando a vitória de virada por 3 a 1.

Desde o começo, porém, os jogadores do Al-Ahly sentiram a atmosfera de tensão para a partida. Segundo o depoimento do empresário Mohamed Darwich, que estava nas arquibancadas, durante o aquecimento, os jogadores foram atacados por sinalizadores – um deles teria até mesmo se ferido. Nas arquibancadas, uma faixa em inglês com os dizeres “sua morte está aqui” recebia os atletas. Ainda assim, os jogadores dos dois lados se cumprimentaram pacificamente antes do apito inicial.

No intervalo, as duas torcidas trocavam agressões e arremessavam objetos umas contra as outras. Com o clima mais ameno enquanto a bola rolava, os torcedores só voltaram a causar problemas no fim do jogo, quando a invasão de campo aconteceu. Neste momento, os torcedores do Al-Masry teriam acuado os do Al-Ahly - que eram cerca de 2 mil ao todo - no setor visitante do estádio. Boa parte dos torcedores do time de Cairo tentou escapar pelos túneis de acesso do estádio, mas os portões estariam trancados. Ali, a maior parte das vítimas foi pisoteada ou esmagada.

“Atrás das saídas das arquibancadas, tem os portões. Esses portões são fechados até a torcida (da casa) sair, aí depois a torcida do rival sai. Essas portas estavam trancadas. Não tinha para onde eles saírem”, diz Mohamed Darwich, afirmando que havia portões abertos entre as arquibancadas e o gramado. “A torcida do Al-Ahly não teve para onde sair. Eles entraram por um buraco (túnel) onde era a porta. Eles foram sufocados. O portão estava fechado, por isso morreu muita gente assim.”

A maior parte dos mortos no estádio era de torcedores do Al-Ahly, e os dois lados acusam a polícia de ter negligenciado as brigas. “Fui naquele dia ao jogo do Al-Masry e pela primeira vez na minha vida não teve nenhuma revista (de segurança), não teve nada. Senti que eu estava em um campo de terceira divisão. Esse campo de Port Said é um estádio internacional. Foi sede de Copa do Mundo Sub-20 (2009), recebe jogos de seleção. É um campeonato que tem tudo de estrutura para grandes jogos. O que acontece é o seguinte: até que ponto a polícia e a segurança estavam envolvidos nisso?”

Com o Campeonato Egípcio paralisado, Al-Ahly se concentrou na Liga dos Campeões da África; foi campeão, e disputou o Mundial de Clubes da Fifa 2012 de luto (Foto: Getty Images)

Dentre os mortos, nenhum era jogador do Al-Ahly. No entanto, sem a disputa do Campeonato Egípcio, as atividades do time se restringiram a treinos e à Liga dos Campeões da África. Com o título continental, o time chegou ao Mundial de Clubes de luto, manifestado – com o aval da Fifa – com uma tarja preta nos braços dos atletas. Para quem esteve em Port Said e foi ao Japão, as mortes no Egito não poderiam ser maiores que a glória nos gramados.

“Nada substitui um filho perdido. Espero que o título do Mundial mostre às famílias dos mortos que as vítimas não perderam a vida à toa. É o mínimo que se pode fazer”, afirmou Gedo, ainda antes da estreia da equipe no torneio, pensando na possibilidade de vencer a final. “É uma grande oportunidade, por causa dos problemas no Egito, por não estarmos disputando o campeonato local e também pela tragédia que aconteceu”, concordava o experiente meia Mohamed Aboutrika, 34 anos, que deixou o banco de reservas no dia do duelo contra o Al-Masry aos 41min do segundo tempo, entrando no lugar de Mohamed Barakat. Foi a última substituição do time no jogo.

Fonte: Terra
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