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Libertadores

Conheça o homem que pode conquistar a América hoje à noite

15 jul 2009 - 10h47
(atualizado às 10h50)
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Diego Ribeiro

Adílson Batista, 41 anos, comandante do Cruzeiro, pode fazer daqui a algumas horas o que os badalados Muricy Ramalho e Vanderlei Luxemburgo ainda não conseguiram. Nesta quarta-feira, contra o Estudiantes, Adílson pode ser campeão da Copa Libertadores. Bicampeão, aliás: em 1995, pelo Grêmio, levantou a taça como zagueiro e capitão daquele time treinado por Felipão.

Filho de pais separados, Adílson é de Adrianópolis, Paraná, cidade com pouco mais de 5 mil habitantes próxima à divisa com São Paulo. Casado há mais de 15 anos, é pai de três filhas - com idades entre 13 e 18 anos. Único homem da casa, Adílson curte a família nos momentos de folga, de preferência nas praias do litoral de Santa Catarina em companhia, também, do amigo e ex-companheiro de Atlético-PR, Roberto Cavalo.

Em Adrianópolis, Adílson Batista era apenas o "Pezão", apelido dado pelo tamanho de seus pés e pela sua altura (hoje na casa dos 1,83 m). A prefeitura da pequena cidade, inclusive, divulgou que promete uma homenagem a seu filho mais ilustre, ainda não definida.

De volante a zagueiro

Aos 17 anos, em 1986, o garoto embarcou para Curitiba junto à mãe (que vive na cidade até hoje) porque, jogando em um time amador, foi descoberto por um olheiro do Atlético-PR. Adílson não largou os estudos devido ao futebol. "Ele chegou aqui na sétima série do colégio, por aí. E aqui continuou os estudos até o colegial. Só parou quando foi para o time de cima", afirmou Valmor Zimmermann, presidente do Atlético na época e que se tornou amigo e até padrinho de casamento do atual técnico cruzeirense.

Em 1987, foi promovido ao time profissional - era volante, mas o time passava por uma carência de zagueiros e Adilson foi improvisado. "Resolvemos testar o Adílson e o técnico (Levir Culpi) concordou. Ele mostrou muita personalidade logo no primeiro treino, em uma quarta-feira. Na sexta já foi para o primeiro jogo e no domingo era titular", contou Zimmermann.

No primeiro toque na bola, um chapéu

Logo no primeiro ano como profissional, Adílson foi campeão paranaense - comandado pelo técnico Nelsinho Baptista e com a tarja de capitão. Tinha 20 anos. O volante Roberto Cavalo, atualmente treinador desempregado, conviveu com Adílson nos tempos de Atlético. "Ele era o primeiro a chegar aos treinos. Ficava batendo bola, almoçava no clube quase todos os dias e sempre treinava bola parada. Era muito habilidoso, o que assustava às vezes. Logo no primeiro jogo dele, me lembro bem, já saiu dando chapéu em atacante. Ele era o jogador mais jovem do elenco e mesmo assim tinha a tarja de capitão".

Vendido para o Cruzeiro em 1989, Adílson resolveu grande parte dos problemas financeiros do clube paranaense. "Tínhamos um déficit grande nas contas, mas a venda dele saldou tudo e ainda deixou um caixa", recordou Valmor Zimmermann.

A primeira passagem de Adilson pelo clube mineiro foi discreta: dois títulos da Supercopa e dois mineiros. Entre 1993 e 94, passou por Internacional e Atlético-MG até chegar ao lugar que mudaria de vez sua vida: o Grêmio.

"O filho" de Felipão

Lá, em 1995, ele mostrou mais uma vez maturidade e liderança. Homem de confiança do técnico Luiz Felipe Scolari, Adílson foi a ponte entre treinador e elenco. "Ele é um cara de diálogo e tinha a confiança do Felipão", diz o atacante Paulo Nunes. "Muitas vezes ele livrou nossa cara. Naquela época a gente reclamava de concentração e ele conversava com o técnico para liberar um pouco a rigidez... a gente queria tomar uma cervejinha. Adílson era o filho do Felipão no grupo", brinca o atacante que esteve com Adilson no Grêmio campeão da América.

Adílson tem mesmo muito de Felipão em sua personalidade. O estilo durão na frente das câmeras e o jeito tranquilo e brincalhão fora desse ambiente são "cópias" do mestre. "Sempre brinco que nas entrevistas ele tem que ser sério, mas não consegue", completa Paulo Nunes.

Paulo Nunes também conta que foi clube gaúcho também surgiram as primeiras planilhas de Adilson como técnico. "Ele tinha um caderninho. No fim de todos os treinos anotava tudo o que foi trabalhado no dia: os treinos, as táticas, tudo. E eu ainda dizia 'você acha que vai ser técnico, é?'"

O homem que contradizia Felipão

E lembra de episódios que revelam um pouco a personalidade de Adilson: "às vezes o Felipão pedia para eu voltar e marcar. Dentro de campo, o Adílson mandava o contrário e falava para eu ficar tranquilo lá na frente para ter perna e fazer os gols. Dava certo. Com o Kléber, hoje, ele faz a mesma coisa".

Adílson deixou o Grêmio com um título brasileiro, dois gaúchos e a Libertadores. No Jubilo Iwata, do Japão, conquistou a independência financeira, que fez com que ele parasse cedo, aos 32 anos, no Corinthians, em 2000. A carreira de técnico começou no ano seguinte, no Mogi Mirim, em 2001. Até o retorno ao Grêmio, em 2004, Adílson passou por mais três clubes: América-RN, Avaí e Paraná.

Danrlei, o desafeto

No retorno ao Olímpico, ele "ganhou" um dos poucos desafetos na carreira: o ídolo e goleiro Danrlei. Companheiros de título em 1995, eles não se falam mais desde que o goleiro foi afastado pelo técnico, durante o Campeonato Brasileiro daquele ano - que culminou em rebaixamento do Grêmio. Procurado pelo Terra, Danrlei se limitou a afirmar que não queria falar sobre Adílson Batista. O técnico havia salvo os gremistas da queda em 2003 e repetiu o feito com o Paysandu, em 2004.

Como treinador, atingiu posição de destaque somente em 2006, no comando do Figueirense. De lá, carrega admiradores e pupilos, como os volantes cruzeirenses Henrique e Marquinhos Paraná. Criticado na sua chegada ao Cruzeiro, em 2008, por trazer uma série de "protegidos", Adílson ganhou até a fama de Professor Pardal, por exagerar nas improvisações.

"O melhor técnico do Brasil"

"Não tem nada disso. O Adílson sempre enxergou muito bem os jogos e as críticas a ele não são justas. Eu, por exemplo, fui utilizado por ele como volante e meia-atacante. Ele soube explorar minhas características e fui artilheiro do Campeonato Catarinense, com 11 gols. Depois, me firmei no time e devo tudo a ele. Para mim, é o melhor técnico do Brasil". A afirmação é do meia Cícero, hoje no Hertha Berlim (ALE), que foi treinado por ele no time de Florianópolis.

"Ele é um excelente técnico. O Adílson foi muito criticado quando chegou aqui no Cruzeiro e, caso ele conquiste esse título, vai servir pra calar a boca de muita gente". Quem garante é o atacante e ídolo cruzeirense Kléber. Calando ou não as bocas de quem o critica, Adílson terá, sim, um título que muitos técnicos consagrados ainda não conseguiram. E a coroação de toda essa história depende apenas de uma vitória contra o Estudiantes.

Adílson Batista pode se tornar o primeiro brasileiro a vencer Libertadores como jogador e técnico
Adílson Batista pode se tornar o primeiro brasileiro a vencer Libertadores como jogador e técnico
Foto: AP
Fonte: Especial para Terra
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