Cidade partida, BH respira futebol em clima de provocação
Fábio de Mello Castanho
Direto de Belo Horizonte
"Você é atleticano ou cruzeirense?" A pergunta mais ouvida em Belo Horizonte nos dias que antecedem a decisão da Copa Libertadores deixa claro que nada é mais importante na cidade até esta quarta-feira do que a definição do campeão continental.
Se o Cruzeiro vencer, a festa celeste deixará o lado alvinegro em profunda depressão mesmo com o time na liderança do Campeonato Brasileiro. Se o título ficar com o Estudiantes, a quinta-feira será preta e branca desde o amanhecer até a noite, quando o Atlético-MG recebe o São Paulo no Mineirão.
Enquanto a partida não chega e o vencedor não é conhecido, tudo é motivo de provocação. Ao entrar em um táxi, o discurso é politicamente correto. "Sou atleticano, mas nem gosto muito de futebol", diz o taxista Leonardo Martins, de forma despretensiosa.
Mas basta um pouquinho de corda para o sentimento pelo rival transparecer. "Gozado. Quase não tem bandeira nas ruas. Se tivesse o Atlético-MG na final, a cidade ia estar mais animada", diz o mesmo taxista antes de ser traído com a vista de mais uma camisa cruzeirense no centro de Belo Horizonte.
Em frente ao Mineirão, a concentração é de cruzeirenses em busca de uma foto da taça da Copa Libertadores, exposta desde a última segunda-feira no Hall Principal do estádio. Um menino atleticano surge e não escapa da provocação.
"Aproveita para ver agora que vocês nunca mais vão ver", grita um cruzeirense no meio de um grupo, para risos descontrolados de seus amigos.
Até mesmo aqueles que estavam desligados do futebol não escapam do clima. O analista de sistema Paulo Fernandez, 24 anos, não comprava uma camisa oficial do Cruzeiro desde o título da Copa Libertadores de 1997.
Na última terça-feira, foi até a loja oficial de produtos do clube, escolheu o modelo azul, mas até agora não sabe ao certo porque resolveu fazer a compra. "Boa pergunta. Acho que deu vontade de comprar e eu vim".
Aos poucos, o vermelho também passa a fazer parte da paisagem de Belo Horizonte. Torcedores do Estudiantes chegam à cidade para apoiar o time na decisão em número superior à capacidade do setor que terão direito no Mineirão.
Três mil deles têm lugar garantido no estádio. Os outros encontrarão na metade alvinegra da cidade um bom lugar para se acolherem durante o jogo.
