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Libertadores

Com gripe suína e racismo, bagunça marca Libertadores

15 jul 2009 - 10h35
(atualizado às 14h43)
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As diferenças entre a Liga dos Campeões da Europa e a Copa Libertadores sempre foram grandes. Entretanto, o que foi visto no principal torneio da América do Sul em 2009, que se encerra nesta quarta-feira em Belo Horizonte com a final entre Cruzeiro e Estudiantes, o afastou ainda mais da organização no Velho Continente. O fato de a gripe suína ter tirado partidas do México, mas não a final da Argentina, é só um dos pontos a serem criticados em uma competição que teve times se classificando para as quartas de final sem passar pelas oitavas, acusações de racismo e confusões nos horários e datas dos jogos.

A inabilidade da Conmebol já poderia ser prevista muito antes do pontapé inicial da competição. O sorteio dos grupos é tradicionalmente realizado em janeiro. Para a edição de 2009, a entidade decidiu retirar as bolas das urnas em 25 de novembro, quando apenas 19 dos 36 clubes estavam definidos - do Brasil, estavam classificados apenas o Sport, campeão da Copa do Brasil, e o São Paulo, que ainda não sabia que seria tricampeão nacional. Com isso, dirigentes e ex-jogadores colocaram nos painéis mais tarjas com as inscrições "Brasil 1", "Argentina 3", "México 2" do que nomes de times.

Entre os papéis, apareceram três vezes "posição vaga", que deveriam representar agremiações peruanas. Naquele momento, a Fifa havia suspendido preventivamente a Federação de Futebol daquele país de disputas internacionais por intervenção do governo - o que é proibido no estatuto da entidade mundial. A dois meses da estreia da Libertadores, a Conmebol ainda não tinha achado solução até que, pouco depois, entrou em acordo com a Fifa, liberando o Peru no torneio e nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010.

Atrasos e indefiniçõesCom a bola rolando, os atletas visivelmente fora de forma do Real Potosí que enfrentaram o Palmeiras por uma vaga na fase de grupos eram o de menos. Quem usou o fato para justificar a baixa qualidade de uma Libertadores com 36 participantes aumentou as críticas ao ver que o duelo entre LDU e Palmeiras, o primeiro da etapa principal, foi atrasado em 15 minutos para que funcionários equatorianos tirassem do gramado do Estádio Casa Blanca uma infinidade de papéis picados atirados pela torcida do atual campeão.

Ao longo da fase com chaves, mais problemas. Ainda no Grupo 1, o confronto entre Palmeiras e Sport gerou uma grande confusão para os torcedores. Três horários diferentes eram informados: um no ingresso comercializado no Palestra Itália, outro na placa que anunciava as vendas no estádio e um terceiro publicado no site oficial da Conmebol. Prevaleceu o último depois de uma série de comunicações dos clubes e da entidade tentando corrigir a desorganização.

Na mesma etapa, mas pelo Grupo 5, o Cruzeiro não conseguiu driblar o trânsito de Buenos Aires e chegou ao estádio do Estudiantes 40 minutos depois do previsto. Foi a campo sem aquecer e acabou goleado por 4 a 0 pela equipe local. E os mineiros já haviam feito outra reclamação com a Conmebol: em dois jogos disputados, o atacante Kléber recebeu dois cartões vermelhos, o que era visto como "perseguição" ao atacante.

O caos da gripe

As trapalhadas nas fases iniciais não pareciam suficientes. Logo nas oitavas de final, primeira de uma sequência de etapas decididas no mata-mata, a Libertadores teve de lidar com a gripe suína. E não soube o que fazer com isso desde a definição dos classificados.

No fim de abril, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que a gripe suína já era uma pandemia (epidemia de doença infecciosa na população de uma grande região geográfica ou até o planeta), a Confederação Sul-Americana de Futebol tentava arrumar uma maneira de fazer com que São Paulo e Nacional, do Uruguai, enfrentassem pelas oitavas de final respectivamente Chivas e San Luís - ambos convidados, pois estão filiados à Concacaf, que abrange as Américas Central e do Norte - sem fazer com que ambos fossem ao México, então segundo maior foco da doença.

Após uma semana de negociações, Paraguai e Chile se recusaram a receber as agremiações mexicanas e autoridades brasileiras e uruguaias fizeram apelos para que suas equipes não visitassem o país. Apoiados por seu governo e federação, os times do México desistiram da Libertadores, alegando até preconceito.

Pouco mais de dois meses depois, o Cruzeiro classificou-se para enfrentar o Estudiantes na final. Atualmente, a Argentina tem o segundo maior número de mortos pela gripe A - 137 até a última terça-feira, contra 124 no México. Mesmo assim, a Conmebol nem cogitou tirar a decisão de La Plata, recusando até a proposta dos mineiros em disputar os dois jogos no Paraguai, país neutro e que abriga a sede da entidade, em Assunção.

Restou aos brasileiros impor à delegação que deixasse o hotel na Argentina apenas poucas horas antes da partida e fazer a viagem de volta minutos após o apito final. À Prefeitura de Belo Horizonte ficou a incumbência de montar um forte esquema de proteção sanitária para receber os hermanos no segundo jogo, que será disputado nesta quarta-feira. O perigo, porém, gerou piadas no país vizinho. Antes da primeira final, os jornais locais faziam graça do medo dos cruzeirenses e o mascote dos Estudiantes desfilou com uma máscara no focinho.

"Graça" similar fez o zagueiro Reynoso, do Chivas. Em duelo no Chile que classificou sua equipe na fase de grupos, o defensor tossiu, espirrou e cuspiu em Sebástian Penco, do Everton, fingindo estar com a gripe suína e passaria ao atacante. Reynoso foi suspenso de toda a competição pela Conmebol antes mesmo de seu clube abdicar do torneio.

Precipitações

Na tentativa de ter tempo para resolver o caso com os mexicanos, a Conmebol adiou os jogos de São Paulo e Nacional. Simultaneamente, acatou a pressão da televisão argentina, que já não tinha mais o River Plate - eliminado na fase de grupos - e ficaria uma semana sem exibir partida da Libertadores. Optou-se por postergar também o duelo entre Boca Juniors e Defensor, do Uruguai, que acabaram realizando um confronto isolado naquela semana com a desistência de Chivas e San Luís.

Ainda para atender às emissoras que transmitem a mais renomada disputa das Américas, a organização avisou em uma sexta-feira que o decisivo encontro entre Sport e Palmeiras, pelas oitavas de final no Recife, foi transferido de terça para quarta-feira. Os pernambucanos reclamaram, pois já haviam vendido ingressos com a partida na terça, e no sábado à tarde a Confederação Sul-americana recuou e aceitou a data original.

Para completar a bagunça, a solução para a desistência dos convidados do México foi classificar São Paulo e Nacional automaticamente para as quartas de final. Símbolo de desorganização inimaginável na Europa. Para se ter ideia, a Uefa anunciou em 1º de junho todas as datas da próxima edição Copa dos Campeões, e àquela altura já se sabia até as sedes das finais de 2010 e 2011 (Madri e Londres, respectivamente).

Água e racismo

As quartas de finais aumentaram a lista de confusões na Libertadores com um fato hilário, envolvendo o Grêmio, que por si só já merecia destaque - realizou a melhor campanha mesmo utilizando três técnicos no torneio, Celso Roth, Marcelo Rospide e Paulo Autori.

Na estreia de Autuori, os gaúchos foram à Venezuela enfrentar o Caracas. Poucos depois de conseguirem o empate por 1 a 1, o duelo foi paralisado porque o sistema de irrigação do estádio foi acionado, com canos giratórios aparecendo no gramado e atirando água em todos. Enquanto seu treinador esbravejava na beira do campo, indignado, Ruy refrescava a cabeça direcionando-a a um dos jatos e o goleiro Victor brincava atirando água em uma pessoa que tinham feito o mesmo com ele ao pular uma placa de publicidade.

Nas semifinais, mais polêmica envolvendo o time tricolor gaúcho. Pela segunda vez em sua história, a Libertadores teve um jogador detido na saída de uma partida por racismo. Novamente, envolvendo um argentino e um brasileiro. Em 2005, o então são-paulino Grafite acusou Désabato, que era do Quilmes e hoje está no Estudiantes, de chamá-lo de "macaco". Em 2009, Elicarlos, do Cruzeiro, disse ter ouvido a mesma palavra de Maxí Lopez, do Grêmio. Neste ano, contudo, o caso foi resolvido sem prisões, apenas na conversa.

Quando parecia que tudo já havia acontecido no maior torneio das Américas, a grande decisão ainda teria mais um detalhe. A Fifa e a Uefa obrigam em todos os seus torneios que os treinadores dêem entrevistas coletivas nas vésperas dos jogos. O cruzeirense Adílson Batista, porém, avisou que respeitaria sua regra de só se manifestar às sextas-feiras. A Conmebol, possivelmente, nem percebeu isso. Como fez com uma série de outras irregularidades em toda a Libertadores.

Gripe suína causou prolêmicas na Libertadores
Gripe suína causou prolêmicas na Libertadores
Foto: Getty Images
Fonte: Gazeta Press
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