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Amarilla irritou Corinthians em 2006 com Grondona alvinegro

Apesar de filho de ex-presidente da AFA como funcionário do Corinthians, Amarilla complicou brasileiros em 2006 contra River Plate

25 jun 2015 - 08h12
(atualizado às 13h17)
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Agora irritado com os indícios da participação de Julio Grondona em sua eliminação na Copa Libertadores de 2013 para o Boca Juniors, o Corinthians já teve em sua lista de empregados um filho do poderoso dirigente argentino. Em 2006, justamente na tentativa de se beneficiar do conhecimento dos meandros da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), o clube apelou, sem sucesso, a Humberto Grondona. Como se repetiria sete anos mais tarde, a campanha no torneio continental foi encerrada com papel decisivo do juiz Carlos Amarilla.

A atuação do paraguaio ficou diluída na revolta dos corintianos com o próprio time - em noite de tentativa de invasão em massa do campo no Pacaembu, com derrota por 3 a 1 -, mas seu trabalho já havia sido feito uma semana antes. No Monumental de Núñez, na vitória por 3 a 2 do River Plate, o árbitro foi ao menos tão determinante quanto a fragilidade defensiva alvinegra.

Em 2006, o Corinthians, do atacante Carlos Tévez, foi eliminado pelo River Plate-ARG nas oitavas de final da Libertadores. Após perder na Argentina por 3 a 2, o time alvinegro até saiu na frente no Pacaembu, mas levou a virada e perdeu por 3 a 1. Revoltada, a torcida do Corinthians tentou invadir o campo e a Polícia Militar teve que agir para impedir a invasão
Em 2006, o Corinthians, do atacante Carlos Tévez, foi eliminado pelo River Plate-ARG nas oitavas de final da Libertadores. Após perder na Argentina por 3 a 2, o time alvinegro até saiu na frente no Pacaembu, mas levou a virada e perdeu por 3 a 1. Revoltada, a torcida do Corinthians tentou invadir o campo e a Polícia Militar teve que agir para impedir a invasão
Foto: AFP

Auxiliado por Ricardo Grance e Amelio Andino, o juiz deu seu cartão de visitas à Fiel anulando um gol legal de Tevez, como faria com Romarinho e Paulinho anos mais tarde. Antes disso, ainda no primeiro tempo, preferira não mostrar o vermelho a Ferrari - autor de belo gol na sequência - por falta dura em Mascherano. Bem mais rigoroso foi com o próprio Mascherano, expulso por falta que nem cometeu.

"Jogar contra os bandeiras e o árbitro não dá!", esbravejou, ainda no Monumental, o técnico Ademar Braga. Após quase dez anos, como mostrou em contato com a Gazeta Esportiva, a raiva não passou. "Ele anulou gol que não era para anular, expulsou o Mascherano sem necessidade... Pô, não foi nada! O cara (Gallardo) foi dominar e se jogou lá para fora."

Tite mede palavras, mas descarrega ira contra Amarilla:

Para quem estava dentro do campo, além dos lances capitais, chamou a atenção o comportamento autoritário de Amarilla. "Ele não dava nem espaço para a gente conversar com ele. Ficava falando que ia expulsar um e outro, que ia colocar para fora", recordou o zagueiro Marcus Vinícius, observando claras semelhanças com o Corinthians x Boca Juniors de 2013. "Foi o mesmo que aconteceu com o Emerson."

A referência ao Sheik é uma das muitas queixas dos corintianos em relação a seu último encontro com o paraguaio, este no Pacaembu. Ao reclamar de um pênalti claro de Marin, que meteu a mão na bola logo no começo do jogo, Emerson viu o cartão amarelo lhe ser exibido de maneira espalhafatosa. O árbitro ainda anulou dois gols legais do Corinthians e ignorou outro pênalti pedido pelo atacante.

Carlos Amarilla está em meio a escândalo na Libertadores
Carlos Amarilla está em meio a escândalo na Libertadores
Foto: Marcos Bezerra / Futura Press

Na esteira das atuais investigações sobre corrupção no futebol, surgiu nesta semana um telefonema no qual Julio Grondona - presidente por décadas da Associação do Futebol Argentino (AFA), morto no ano passado - apontou Carlos Amarilla como "maior reforço do Boca". Na mesma ligação, Abel Gnecco, representante argentino na arbitragem da Conmebol, gabou-se de ter forçado a escalação do paraguaio no Pacaembu.

Para o técnico Tite, o Corinthians não buscaria o resultado "nem se estivesse jogando até hoje". Diferente do que aconteceu em 2006, quando, apesar de Amarilla, havia esperança no jogo de volta. Aí, as falhas de Coelho e Betão fizeram a Fiel transferir seu ódio a outros personagens. Derrotado em casa, o time alvinegro foi eliminado nas oitavas de final e viu ruir de vez o que havia arquitetado com a presença de Humberto Grondona, contratado duas semanas antes da estreia na Libertadores.

Corinthians quer "tirar a limpo" possível ajuda ao Boca Jrs.:

O filho de Julio Grondona foi anunciado como um profissional para coordenar as categorias de base e atuar como um consultor para a competição sul-americana. Os dirigentes do Parque São Jorge citavam o São Paulo como exemplo de força nos bastidores na conquista continental do ano anterior e viam em Humbertito, como era conhecido, alguém capaz de fazer a balança pender para o lado preto e branco.

Não foi bem assim. Na conturbada relação entre o Corinthians e a investidora MSI, o argentino se indispôs com o vice-presidente do clube, Nesi Curi, que tinha histórico domínio sobre a base. Posteriormente, também se desentenderia com o técnico Emerson Leão e deixaria o Brasil aparentemente sem cumprir os papéis para os quais havia sido contratado.

"Amarilla nem deveria ter saído do Pacaembu", diz dirigente:

"Não me recordo direito dele. Cheguei no final da gestão daquele pessoal russo", disse o diretor de futebol da época, Edvar Simões. A contratação de Edvar, na verdade, foi anunciada no mesmo pacote que incluía Humberto, mas o ex-jogador de basquete voltou a se ocupar com seu esporte favorito depois que se desligou do futebol e não parece afeito a reminiscências.

O pessoal russo referido por ele são os investidores da MSI - liderados, de acordo com investigações da Polícia Federal, por Boris Berezovsky. Quem respondia como presidente do fundo era o iraniano Kia Joorabchian, que foi justamente o responsável pela indicação de Humbertito e se irritou com o presidente Alberto Dualib quando o argentino foi demitido.

Em escutas telefônicas que ajudaram o Ministério Público Federal a concluir que a MSI lavava dinheiro no Corinthians, o empresário Renato Duprat lamentou o "mal-estar quando a PF foi à Fifa", entidade que tinha, veja só, Julio Grondona como responsável pela fiscalização da lavagem de dinheiro. "Mandaram falar exatamente com o Grondona, que foi até questionado por ser o responsável por essa área e o filho estar envolvido com o Corinthians", comentou o preocupado Duprat - para quem Kia havia botado Humbertito no clube "estrategicamente".

Higuaín e Gallardo se abraçam no Pacaembu em 2006; depois de vencer a ida por 3 a 2, River Plate superou o Corinthians por 3 a 1 e quase provocou uma tragédia no estádio - torcedores alvinegros tentaram derrubar o alambrado e invadir o gramado
Higuaín e Gallardo se abraçam no Pacaembu em 2006; depois de vencer a ida por 3 a 2, River Plate superou o Corinthians por 3 a 1 e quase provocou uma tragédia no estádio - torcedores alvinegros tentaram derrubar o alambrado e invadir o gramado
Foto: AFP

O fato é que, se a ideia com a chegada de um membro da família Grondona era ganhar força nos bastidores da Copa Libertadores, ela não funcionou. O Corinthians sofreu com Carlos Amarilla em Buenos Aires, falhou demais contra o River Plate em São Paulo e deu adeus ao sonho da então inédita conquista continental sem que ficasse claro para os funcionários do clube o papel do filho de Julio.

"Eu tinha contato com ele, todo o mundo tinha contato com ele, mas ele pouco interferia, era mais um observador mesmo. Ele ficava por lá, mas não trabalhava no campo, nas reuniões, nada", afirmou o técnico Ademar Braga, esforçando-se para reavivar a memória. "Eu realmente não sei te dizer o que ele fazia lá. E olha que passei um bom tempo no Corinthians, viu?"

Corintianos se revoltaram com eliminação em 2006
Corintianos se revoltaram com eliminação em 2006
Foto: Getty Images

JÁ TEM INGRESSO, CAMPEÃO?"

Após a passagem misteriosa pelo Corinthians, Humberto Grondona voltou a trabalhar em seu país. Técnico das seleções argentinas de base desde 2009, veio ao Brasil na Copa do Mundo do ano passado com um time de garotos que servia como espécie de sparring para a equipe principal nos treinamentos. E ele aproveitou para fazer um dinheirinho extra.

Ao menos um de seus ingressos foi parar na mão de cambistas e vendido de maneira ilegal. Uma torcedora divulgou a entrada que utilizou para acompanhar a partida entre Argentina e Suíça, em Itaquera, pelas oitavas de final. O bilhete de US$ 220 (R$ 650) tinha o nome Humberto Mario Grondona e o endereço do estádio do Corinthians, que ainda não existia na época de Humbertito no clube.

"Ofereceram-me entradas para comprar, como instrutor da Fifa, e disse que sim. Comprei porque sempre há amigos que querem vir. Queria presenteá-los, queria que passassem bem. Nesse caso, vendi as entradas a um amigo que acabou de me dizer que as deu a outro amigo para ele ir com sua família", defendeu-se. "Você acha que eu me mancharia por US$ 220?"

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