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Libertadores

Herói de argentinos, brasileiro celebra 45 anos de gol histórico

7 fev 2012 - 11h19
(atualizado às 11h21)
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Dassler Marques

João Cardoso é brasileiro, tem 72 anos e mora hoje em Porto Alegre. Mas ele também tem trânsito livre em Avellaneda, cidade que integra a Região Metropolitana de Buenos Aires. Se chegar ao Estádio Juan Domingo Perón, certamente será carregado nos braços por uma multidão de camisas celestes. Fanáticos, saberão que ali está um herói de verdade, em carne e osso. Alguém a quem devem sua primeira grande glória continental.

Foi há 45 anos que João Cardoso entrou para a galeria de ídolos do Racing Club de Avellaneda. Na decisão da Copa Libertadores 1967, contra o Nacional do Uruguai, João marcou um dos gols da conquista histórica para quem, na época, já via o rival Independiente com dois títulos da competição. E venceu pela primeira vez.

"A pressão houve, sim. Você sabe como é, eram rivais, Avellaneda sempre foi dividida" conta João Cardoso, herói de uma das mais fanáticas torcidas argentinas, em entrevista exclusiva ao Terra. "Eles nunca deixaram de apoiar. Pressionavam, mas sempre apoiaram. Era como o Grêmio e Inter, que só foi vencer a Libertadores em 2006", define.

Do gol histórico, marcado após um par de empates sem gols nas duas primeiras decisões, João se lembra com detalhes. A partida definitiva ocorreu em Santiago, no Chile. "Eu fiquei na reserva em Buenos Aires, mas fui titular em Montevidéu. No terceiro jogo, eu não me sentia bem antes de começar", explica o atacante brasileiro, 28 anos à época.

"Não sei o que foi, acho que alguma coisa que eu comi. Mas fui jogar e fiz o gol aos 13min. O Cardenas cruzou uma falta na área, acertei a cabeçada e fiz o gol. Joguei mais uns 30 minutos, mas não suportei a dor no estômago e tive que sair". Raffo fez o segundo para os argentinos ainda na etapa inicial e o título histórico se confirmou com vitória por 2 a 1. No Mundial Interclubes, contra o Celtic, o Racing levou a melhor e vingou o Independiente ao se tornar o primeiro clube da Argentina campeão mundial.

Artimanhas da Libertadores: alfinetes e areia

"Os jogos de hoje não têm nada a ver com aquela disputa", compara João Cardoso. "Era uma guerra total. Você saía de casa e era uma luta, os guardas não te protegiam, mas batiam em você. Jogar fora de Buenos Aires era muito difícil e os argentinos eram odiados pelos latino-americanos. Os chilenos torciam para o Nacional naquela decisão".

Ele admite, porém, que não fazia parte de um time de santos. Pelo contrário, inclusive. "Na época, os calções tinham bolsos atrás. O grande Basile jogava com alfinetes guardados no bolso para espantar os caras no escanteio. Eles também jogavam com areia, para atirar no olho dos goleiros", se diverte o brasileiro. "Era um time guerreiro, que batia quando tinha que bater. Tinha o Cejas no gol, Perfumo, Maschio e Cárdenas. Um senhor time, eu era coadjuvante".

Os jogos contra o Nacional, conta João, faziam jus ao cenário de guerra já disseminado sobre a Libertadores de antigamente. "Em 95 minutos de jogo em Montevidéu (segundo jogo da final), uns 15 devem ter sido jogados. No resto, só brigamos. Bastava uma falta e todo mundo corria para brigar, dar tapa, cascudo, empurrar. Mas os jogos na Argentina, só não ganhamos um, do Universitário. Em casa era fácil", define.

A última visita de João Cardoso à Avellaneda foi em 2007, justamente por festejos dos 40 anos de Libertadores. Por lá, reencontrou amigos e também se lembrou de sua história de glórias no futebol argentino. De guri gaúcho, nascido em Uruguaiana, seu sonho era jogar pelo Grêmio, e conseguiu. Mas a fama veio com grande futebol por Newell's Old Boys, Independiente e enfim o rival Racing. Parou de jogar novo, por lesões, no Náutico, aos 30 anos.

"Joguei quatro temporadas no Newell's, começamos na segunda divisão. Eu já ia para o Racing depois, mas os dirigentes do Independiente chegaram em casa 1h da manhã e colocaram mais dinheiro, e me levavam". A estreia pelo time vermelho de Avellaneda foi com gol contra o Boca. Mas a glória viria mesmo com os azuis. "A Libertadores valeu mais que o Mundial", define hoje.

A ficha da finalíssima

Local: Estádio Nacional, em Santiago

Árbitro: Rodolfo Pérez Osório (Paraguai)

Gols: João Cardoso, aos 14min e Raffo aos 43min do 1º tempo; Viera aos 34min do 2º tempo

RACING

Cejas; Perfumo, Basile, Martín e Mori; Díaz, João Cardoso (Parenti), Rulli, Raffo, Cárdenas e Maschio

Treinador: Juan José Pizutti

NACIONAL:

Domínguez, Manicera, Álvarez, Ubiña e Castillo; Mujica e Espárrago; Viera, Celio, Morales (Oyarbide) e Urruzmendi

Treinador: Washington Etchemandi

João Cardoso faz pose nos dias atuais: 45 anos do gol que pôs Racing no mapa da América do Sul
João Cardoso faz pose nos dias atuais: 45 anos do gol que pôs Racing no mapa da América do Sul
Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação
Fonte: Terra
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