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Libertadores

Ídolo, Forlán pede paciência caso São Paulo opte por Sabella

Pablo Forlán, lateral tricolor na década de 70 e pai de Diego Forlán, recebeu o Terra no Uruguai para uma entrevista exclusiva

15 abr 2015 - 08h42
(atualizado às 14h33)
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Muitos têm opinião sobre o tema da possível contratação de Alejandro Sabella, ex-treinador da Argentina na última Copa do Mundo, para assumir o comando técnico do São Paulo no lugar deixado por Muricy Ramalho. Poucos têm a dimensão, porém, da importância de se dar tempo para um trabalho de longo prazo quando se trata de um intercâmbio entre culturas futebolísticas distintas. Pablo Forlán - ídolo tricolor na década de 70, treinador nos anos 90 e pai de Diego Forlán - é um dos poucos que pode falar com legítimo conhecimento de causa.

Forlán crê que Sabella sofrerá no São Paulo: lhe deem um ano:

"Se eu fosse o presidente do São Paulo, eu diria que ele (Sabella) vai ter um contrato de um ano. E nesse ano, por mais resultados ruins que você tenha, no começo ou na metade do torneio, o que seja, eu vou te manter um ano aqui. Você vai ter tempo para fazer dentro da nossa instituição o melhor para o nosso time ter os resultados que nós queremos", explicou o uruguaio Forlán, 69 anos.

Segundo Forlán, futebol brasileiro não tem paciência com técnicos estrangeiros
Segundo Forlán, futebol brasileiro não tem paciência com técnicos estrangeiros
Foto: André Naddeo / Terra

Curiosamente, o conselho vai justamente para o presidente Carlos Miguel Aidar, filho de Henri Aidar, presidente tricolor na década de 70 responsável pela contratação do raçudo lateral direito, que viraria ídolo da massa são-paulina – ainda mais por ajudar a acabar com o jejum de 13 anos sem títulos com o triunfo no Campeonato Paulista de 1970.

No momento em que o São Paulo está em Montevidéu para o decisivo jogo diante do Danubio, pela quinta rodada do Grupo 2 da Libertadores, Pablo Forlán mata saudades. Visitou a concentração do seu ex-clube em Punta Carretas, zona nobre da capital uruguaia, e teve longa conversa com o eterno auxiliar técnico Milton Cruz.

Pablo Forlán visitou a concentração do São Paulo em Montevidéu após conceder entrevista ao Terra
Pablo Forlán visitou a concentração do São Paulo em Montevidéu após conceder entrevista ao Terra
Foto: André Naddeo / Terra

Antes, ele recebeu o Terra em sua casa para uma entrevista exclusiva, onde foi bem claro sobre o maior assunto do São Paulo no momento: trazer o argentino Sabella para o lugar de Muricy Ramalho só vai funcionar se o Brasil "deixar de ser um país tão fechado para o restante do continente" e principalmente se "não acontecer de em quatro, cinco meses os resultados não acontecerem, aí você sai, entra outro e continua tudo a mesma coisa".

Como ídolo tricolor, ele conviveu no início dos anos 90 com a mesma ânsia que acometeu treinadores estrangeiros como Daniel Passarella, no Corinthians, e Ricardo Gareca, no Palmeiras, apenas para citar alguns exemplos mais recentes. Falando em casos em que "fofoquinha não adianta nada", ele lembra uma série de resultados ruins no Campeonato Paulista daquele ano, quando ele era o treinador e o clube do Morumbi ficou entre os piores times do torneio.

Forlán é um dos ídolos uruguaios do São Paulo, ao lado de nomes como Pedro Rocha, Darío Pereyra e Diego Lugano
Forlán é um dos ídolos uruguaios do São Paulo, ao lado de nomes como Pedro Rocha, Darío Pereyra e Diego Lugano
Foto: Arquivo pessoal

"O principal desafio do Sabella, se ele vier, vai ser vocês, os jornalistas", avisa logo. "O Brasil não é fácil. Eu sofri sendo ídolo do São Paulo. Eu chamei um preparador físico muito importante, que já trabalhava comigo, e começaram a me pressionar por aí", complementa já emendando.

"O São Paulo quer contratar o Sabella? Mas é claro que ele vai levar o seu preparador físico. É alguém de sua confiança. O Simeone (técnico do Atlético de Madrid), por exemplo, está com um preparador físico que jogou com ele, uruguaio", exalta ainda, relembrando que foi na sua época que o São Paulo fez determinantes contratações para a base da equipe que viria a ser bicampeã da Libertadores e do mundo, em 1992 e 1993, como Raí, Müller, Palhinha e Leonardo, entre outros nomes importantes.

"Mas a prioridade absoluta são os jogadores. Digo que de 75% a 80% são os jogadores. O resto é com o treinador de colocar o jogador no pedaço de campo onde ele vai render mais. Se você for parar para ver, não tem muito segredo".

Forlán mostra imagem de sua despedida do São Paulo
Forlán mostra imagem de sua despedida do São Paulo
Foto: André Naddeo / Terra

Eterno sonho frustrado

Pablo Forlán nunca escondeu de ninguém que um de seus maiores sonhos seria ver o filho caçula, Diego Forlán, brilhar com a camisa do São Paulo da mesma forma que ele o fez. Ainda mais depois do acidente automobilístico que sua filha Alejandra sofreu, em 1991, que a deixou paraplégica e o afastou de vez do sonho de ser um treinador de futebol profissional plenamente disponível.

Pai culpa calendário por saída de Forlán do Brasil: "cansou":

"Não dava mais para estar 24 horas por dia, totalmente 'full time' para isso. Ela ficou cinco meses com o respirador, e mais uns oito meses para sair do hospital", relembra, enquanto escapa o olhar para o retrato da família, com Alejandra, vitimada aos 17 anos, já numa cadeira de rodas. "Já em relação ao Diego, acho que passou o tempo. Mas assim é a vida. A gente não pode ter tudo".

Quis o destino que Diego Forlán, eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de 2010, vestisse a camisa do Internacional de Porto Alegre. Em teoria, tudo maravilhoso, afinal, um voo da capital gaúcha para Montevidéu leva cerca de uma hora. Ledo engano. "Sem dúvida que a questão das viagens complicou muito", afirmou Forlán, convicto sobre a passagem abaixo das expectativas do filho pelo time colorado, onde o atacante fez 22 gols em 55 partidas entre 2012 e 2013.

Diego Forlán (à dir.), filho de Pablo, e o ex-jogador argentino Alfredo Di Stéfano (centro), morto em julho de 2014
Diego Forlán (à dir.), filho de Pablo, e o ex-jogador argentino Alfredo Di Stéfano (centro), morto em julho de 2014
Foto: Arquivo pessoal

"(O Campeonato Brasileiro) É um torneio nacional que se joga de julho a dezembro (na verdade, de maio a dezembro), um torneio nacional que se deveria jogar, sem dúvida, de janeiro a dezembro, todo o ano. E no meio do ano, os Estaduais. A CBF poderia arrumar um jeito", diz ainda, relembrando que o filho se aterrorizava com o fato de que, em voos de carreira, não conseguia descansar ao se sentar ao lado de passageiros que queriam falar com ele sobre futebol, claro. "Ele me contava: 'papai, eu só queria dormir'. Ele ficava muito cansado".

"Isso incomodou muito o Diego. De estar em Porto Alegre e ter que ir a Recife. Viajar sem os companheiros (em voo de carreira), às vezes acontecia de numa viagem de quatro, cinco horas estar com gente que ficava lhe perguntando de futebol. É algo que cansa. É por isso que me dizia que não queria mais jogar no Brasil, pois era muito cansativo. Me lembro de uma vez que ele teve que jogar quatro ou cinco partidas em 15 dias", completou.

Forlán começou a carreira pelo Peñarol, em 1963
Forlán começou a carreira pelo Peñarol, em 1963
Foto: André Naddeo / Terra

Em tempos de movimento Bom Senso, em que jogadores fazem protestos e tentam, ainda de forma tímida, peitar a CBF por melhorias no calendário futebolístico nacional, Forlán é incisivo. "Os jogadores deveriam fazer, como dizemos aqui, colocar os ovos na mesa. 'Dessa forma, não jogamos mais. Dessa forma, estão nos matando'. Os jogadores são os artistas principais. E os artistas principais devem estar bem alimentados, descansados. Em 15 dias, jogar cinco, seis partidas, é difícil. Sair do frio para o calor, do calor para o frio", diz, sem papas na língua.

"Os jogadores devem sair com a bandeira para dizer que não vamos jogar mais. Quem é que vai jogar no lugar dos jogadores?", questiona, antes de admitir, obviamente, que sente saudade do Brasil e da cidade que tão bem o acolheu. "Para mim, o Brasil, e principalmente São Paulo, é a minha segunda pátria. Porque me deu tudo em 11, 12 anos como jogador e técnico". 

Fonte: Terra
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