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'Megaeventos com telões são chave para evitar frustração com Copa'

20 ago 2013 - 06h43
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Os ingressos para a Copa do Mundo de 2014 mal foram postos à venda, mas Pedro Trengrouse, consultor da ONU para o Mundial, prevê que o resultado desse processo será frustração para muitos e satisfação para uns poucos.

"Afinal, somos 200 milhões de brasileiros e o total de ingressos é de 3,8 milhões, contando os que serão distribuídos para patrocinadores ou vendidos para estrangeiros", disse o consultor à BBC Brasil.

O desnível entre oferta e demanda tende a ser particularmente grande nos centros urbanos mais populosos, como São Paulo e Rio, e para os ingressos mais baratos, de menos de R$ 100 ou R$ 200.

"Por isso, a 'chave' para se evitar um sentimento de desencanto com o torneio são os chamados eventos públicos de exibição dos jogos", opina Trengrouse.

Ele se refere às festas populares ou megaeventos com telões nos quais torcedores de todas as partes do mundo podem acompanhar as partidas e experimentar o "clima" da Copa.

Grandes encontros como esse foram organizados pela primeira vez na Copa da Coreia do Sul, em 2002. Na Alemanha, em 2006, reuniram 18 milhões de pessoas enquanto apenas 3,5 milhões foram aos estádios, segundo o consultor.

Os eventos oficiais, com carimbo da Fifa, recebem o nome de "Fan Fests", mas outros também podem ser realizados por governos locais ou entes privados.

"Esses eventos são parte de uma 'tendência' que veio para ficar", diz Trengrouse. "Cada vez mais eles representam a 'experiência' da Copa para a maior parte da população. E, como o Brasil tem uma larga tradição em eventos públicos de massa ─ como o Carnaval e a Jornada Mundial da Juventude comprovam ─ seria uma pena não aproveitar a oportunidade para fazer dessa a Copa das ruas."

Para Trengrouse, o sucesso dos megaeventos públicos gratuitos vai ajudar a determinar se o governo conseguirá "justificar os custos do Mundial" aos olhos da população ─ colocados em xeque durante os protestos da Copa das Confederações.

"O Brasil já investiu muito para receber a Copa e atender às demandas da FIFA. Os custos desses eventos com telões são bem menores que os dos estádios e, portanto, falta investir muito pouco para garantir que o povo será mesmo incluído na festa", diz Trengrouse.

"O brasileiro não pode ver uma Copa no Brasil como veria uma Copa no Japão."

Fan Fests

No total, serão realizados 12 Fan Fests "oficiais" nas 12 capitais que receberão os jogos.

Tratam-se de empreendimentos conjuntos entre a FIFA, o Comitê Organizador Local, as sedes dos jogos, a TV Globo e alguns patrocinadores, mas segundo a FIFA, seus os custos de financiamento "não podem ser divulgados nesta fase".

Em São Paulo, uma grande festa será organizada no Vale do Anhangabaú. No Rio, Copacabana abrigará o evento oficial e em Brasília milhares de pessoas devem acompanhar os jogos em uma Fan Fest na Explanada dos Ministérios.

Além dos telões, esses espaços também receberão shows, atrações culturais e terão praças de alimentação.

Trengrouse acha o número de eventos oficiais pequeno e mostra preocupação o o fato de também terem que se submeter às regras da FIFA. Para o consultor, o ideal seria que fossem realizados mais eventos oficiais gratuitos, organizados pelo governo federal ou locais.

"Temos milhares de municípios de grande porte que não vão receber jogos, mas cuja população deveria ter a chance de 'experimentar o clima do Mundial'. Além disso há sempre o risco de que, com muitas regras ─ por exemplo, em relação a quem poderá vender nas proximidades do local e quais as marcas permitidas, a população tenha a impressão de que tais eventos foram organizados também com uma mentalidade muito comercial", acredita ele.

A Fifa ressalta que as Fan Fests são apenas os locais oficiais para exibição dos jogos.

Outros, não-oficiais, poderão ser organizados desde que sigam algumas regras comerciais dos regulamentos estabelecidos pela entidade e pela Rede Globo, que detém os direitos de transmissão das partidas do Mundial.

Uma plataforma para o registro online de interessados em realizar quaisquer tipos de eventos nos quais serão exibidas partidas da Copa será aberta em 1º de outubro.

Segundo a FIFA, para a Copa das Confederações, 44 eventos foram licenciados em todo o país e atraíram um total de 548 mil espectadores. "Podemos dizer que o número será significativamente maior durante a Copa do Mundo", afirmou a entidade em comunicado.

Sucesso ou fracasso

Wolfgang Maennig, Professor da Universidade de Hamburgo especializado em economia do esporte também é um grande entusiasta dos eventos públicos de exibição da Copa.

Para ele, eventos que criam oportunidades de participação para o público sem ingresso são cruciais para contrabalançar eventuais frustrações com o processo de venda dos tickets.

Eles amplificariam, o que os especialistas chamam de "feel-good factor", ou seja, os ganhos intangíveis que uma competição internacional desse porte pode trazer para a população em termos de "bem-estar" e "felicidade".

"Às vezes a atmosfera que se cria nesses encontros pode ser até mais empolgante que a dos estádios, pelo que vimos na Alemanha. Há gente de todas as partes do mundo torcendo juntas e as regras costumam ser menos rígidas: você pode assistir aos jogos junto com toda a família e os amigos, pode levar algo para comer ou beber", afirma Maennig.

Ele explica, porém, que tais eventos também podem ter mais ou menos sucesso, dependendo de uma série de fatores, como segurança.

Na África do Sul, por exemplo, muitos telespectadores que participaram das Fan Fests notaram que elas estavam mais vazias que as da Alemanha.

Entre os fatores que poderiam ter provocado esse esvaziamento, segundo alguns especialistas, estaria o medo da falta de segurança nos entornos desses locais ou caminho de volta para casa.

Para Maennig, uma festa desse tipo também pode ser considerada pouco satisfatória pelo público se houver problemas na qualidade técnica do telão e equipamentos de som, em questões ligadas ao suprimento de comida e bebida (postos de venda muito caros, com muita fila, etc) e dificuldades de transporte.

"Muitas coisas podem dar errado em um evento que reúne centenas de milhares pessoas. Em Duisburg, em 2010, tivemos um festival de música terminou com cerca de 20 mortos após uma correria gerada por pânico. A probabilidade de um atentado terrorista também deve ser sempre considerada em uma competição internacional do porte da Copa", diz o especialista.

"Não há como negar que tais eventos representam alguns riscos ─ e estes devem ser mitigados com muito planejamento. Mas eles também são uma grande oportunidade para potencializar os ganhos coletivos da Copa, fazendo do Mundial uma festa para todos."

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