PUBLICIDADE

Da angústia à impotência: a Copa que não matou a sede de Marta

13 jul 2011 - 07h27
(atualizado às 07h38)
Compartilhar
Dassler Marques
Direto de Dresden (Alemanha)

Para quem viu Marta chegar à Alemanha, onde iria disputar a Copa do Mundo feminina de futebol, a sensação era de alguém angustiada, com estresse e uma tremenda sede de conquistas pela Seleção Brasileira. "Todos só querem saber dela e isso às vezes a incomoda um pouco", identificou um membro da comissão técnica antes da estreia. Pois a Marta que deixou Dresden na última segunda, eliminada pelos Estados Unidos, era alguém com o semblante da impotência.

Marta, a quem o treinador Kleiton Lima definiu como "com poucas responsabilidades táticas", foi sempre o desafogo da Seleção durante a Copa. Apagada na estreia e fantástica no segundo jogo, contra a Noruega, ela verdadeiramente desarticulou Guiné Equatorial com dois lances. "Quando ela corre, só um homem pode alcançar", chegou a dizer Marcello Frigério, o brasileiro que treina Guiné.

Figurinha mais cobiçada por milhares de alemães que compraram o álbum da Copa feminina, Marta foi verdadeiramente ela também na hora H. No momento de tensão pelo placar adverso, chapelou duas americanas e arrancou um pênalti e um cartão vermelho. Tudo com dois toques na bola. Ao ver Cristiane desperdiçar a cobrança que foi anulada, pediu a bola e empatou. Na prorrogação, com um toque mágico de canhota que deixaria Romário com inveja, deu a vantagem no placar. Marta só não podia ir à defesa subir de cabeça com a grandalhona Abby Wambach, a artífice do empate ao apagar das luzes.

A eliminada Marta que deixava o Glücksgas Stadion, em Dresden, era o semblante da sensação de impotência. Por mais que fizesse, e fez novamente, não poderia mais uma vez ganhar um grande título coletivo com a Seleção. "Saímos daqui com a sensação do dever cumprido", alegou a caminho do ônibus na saída do estádio. Ali, centenas e centenas de torcedores foram recepcioná-la e aplaudi-la junto das demais atletas do Brasil.

Quanto contraste. Afinal, ela fora vaiada por todo o estádio contra Noruega e o próprio Estados Unidos. Pagando por decisões da arbitragem, Marta mostrou do que são feitos os craques. Se mais vaiam, mais eles jogam. "Eles me amam", disse aos torcedores americanos após a eliminação. Sozinha, sim, ela já ganhou tudo o que podia: cinco prêmios consecutivos de melhor do mundo da Fifa. Embaixadora da ONU, o que só outras quatro mulheres poderosas deste planeta têm. Única jogadora com os pés na calçada da fama do Maracanã. Na Copa, em quatro partidas, marcou quatro gols, sofreu dois pênaltis e ainda deu uma assistência.

Primeiro treinador de convivência mais longa com Marta na Seleção Brasileira, Renê Simões tem uma grande história sobre a camisa 10. "Na Olimpíada de 2004, olhei da sacada do meu quarto e vi Marta lavando roupas. 'São roupas íntimas, professor'. Ela lavava as roupas íntimas das companheiras. Na Suécia, onde ela jogava, fomos jogar e o carro da Marta era o carro de todos", recordou ao Terra conferindo um atestado da simplicidade da maior estrela do futebol mundial feminino.

Aos 25 anos, Marta ainda tem muita estrada pela frente e vai aguardar por mais evolução da modalidade onde já esgotou as possibilidades de títulos individuais. Só assim poderá se livrar do incômodo rótulo de jogadora sem conquistas relevantes pela Seleção Brasileira. E da triste sensação de impotência com a qual deixou a Alemanha na última segunda-feira.

Marta brilha, mas mais uma vez não consegue título pela Seleção
Marta brilha, mas mais uma vez não consegue título pela Seleção
Foto: AFP
Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade