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Mundial de Clubes

Sem dinheiro, argentinos improvisam para acompanhar Mundial

18 dez 2014 - 14h03
(atualizado às 16h11)
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Pouco mais de nove mil quilômetros e alguns milhares de dólares separam Buenos Aires, na Argentina, de Marrakech, no Marrocos. Tente explicar a segunda parte da frase a um torcedor do San Lorenzo. Você vai desistir em alguns segundos. Para os argentinos, dinheiro - ou a falta dele - não é empecilho.

O ano de 2014 foi agitado para os vizinhos sul-americanos que torcem para o time de Boedo. Duas Copas do Mundo (a de seleções e a de clubes), dois continentes, e, no caso de muitos, duas grandes despesas a serem pagas em suaves prestações para acompanhar de perto os feitos futebolísticos. Por isso, os hinchas precisaram improvisar. E, dessa vez no Marrocos, mostram que é possível viajar longe gastando pouco para acompanhar o time do peito.

<p>Torcedores do San Lorenzo se esforçam para ver o Mundial</p>
Torcedores do San Lorenzo se esforçam para ver o Mundial
Foto: Ulisses Neto / Especial para Terra

Nossos vizinhos gostam de pegar a estrada, quase sempre com a mão fechada. Na Copa do Mundo, os argentinos lideraram o ranking de turistas estrangeiros no Brasil, segundo dados da Polícia Federal, com pouco mais de 100 mil. No entanto, também foram os que gastaram menos no País, com média de R$ 127 por dia, segundo levantamento de uma empresa de cartões de crédito.

No Marrocos a história não é diferente. Carro, van, ônibus e até mesmo motocicletas tiveram que ser substituídos pelo avião para chegar no local dos jogos. Mais gastos, no entanto, a mesma filosofia.

"Albergue, cartão de crédito e pouca comida. Sai tudo barato, estou pagando em 24 vezes a viagem. Não sei quanto saiu isso aqui. Tem uma calculadora?", disse Gabriel Iglesias, torcedor do San Lorenzo.

No quesito "farofagem", é difícil superar os argentinos. Para uma viagem "baixo custo", há quem recorra até às pequenas contravenções. "No Brasil foi fácil e barato. Fui de carro e levei comida da Argentina. Não pagamos nenhum pedágio. Era só colar no carro da frente na cancela automática. Esse foi o segredo", disse, às gargalhadas, Matias Vasquez, que saiu de Mar del Plata no litoral argentino.

Mas para chegar ao norte da África foi preciso recorrer ao gerente do banco. "Pedi um empréstimo e vou pagar em 36 vezes. Meu Mundial vai terminar em três anos. Se o San Lorenzo voltar ao torneio ano que vem, vou levar seis anos para pagar. E espero ficar pagando a vida inteira".

A Argentina vive um longo período de turbulências econômicas. Um dólar equivale a cerca de 8,5 pesos no câmbio oficial. No mercado paralelo, porém, chega facilmente ao dobro desse valor. Isso dificulta ainda mais a vida dos torcedores.

<p>Torcedor conta dinheiro da carteira</p>
Torcedor conta dinheiro da carteira
Foto: Ulisses Neto / Especial para Terra

Ainda assim, pouco mais de cinco mil argentinos foram a Marrakech nesta semana. Alguns, além de abdicarem do conforto, também tiveram que deixar para trás emprego e até mesmo o casamento. "É um sacrifício, 'raspei as panelas'. Me separei e larguei o emprego. Tudo pelo San Lorenzo. Vai valer a pena", contou Bruno Housain, um dos "cuervos", como é conhecida a torcida do San Lorenzo.

Mesmo com os bolsos vazios e incontáveis prestações, o time do papa Francisco está na final do Mundial de Clubes e irá enfrentar o poderoso Real Madrid, com plantel galáctico e multimilionário. Uma vitória poderia ser classificada como "milagre de Marrakech". Para alguns torcedores, a força de algo divino terá que se fazer presente não só no gramado, mas também no pagamento da viagem.

Por enquanto, eles fazem graça. Sebastian Moreno, que exaltava o fato de ter viajado com apenas US$ 100 na carteira, resume o sentimento dos que cruzaram o Atlântico. "Devo, não nego. Pago quando puder", enquanto saia gritando com suas poucas notas de dirhams marroquinos nas mãos.

Fonte: Especial para Terra
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