Prodígio, Zico já era atração nas peladas da zona norte do Rio
Terra faz uma série de cinco reportagens em homenagem aos 60 anos de Zico. Saiba tudo sobre o craque, desde a infância, passando pelas glórias no Flamengo, até o caminho trilhado após encerrar a carreira
Criado em uma família de jogadores de futebol, o pequeno Arthur Antunes Coimbra não ganhou uma chupeta quando nasceu, e sim, uma bola de futebol. É desta forma bem humorada que seu irmão, Edu, 66 anos, exemplifica a relação que Zico sempre teve, desde bem pequeno, com o futebol. Três dos quatro irmãos mais velhos de Zico jogaram profissionalmente e o caçula da família sempre acompanhou os irmãos nos treinamentos, se ambientando desde cedo ao mundo do futebol.
"Ele sempre acompanhava a gente. Em 1967, Edu, Antunes e eu estávamos no América. Ele ia a todos os treinos. Quando tinha disputa de pênaltis, ele, descalço, chutava várias bolas. Nem goleiro pegava a bola dele. Isso com 11, 12 anos", relembrou Fernando, conhecido como Nando, 67 anos, que jogou no Ceará e no Belenenses, entre outros clubes.
O primeiro a trilhar o caminho dos gramados foi Antunes, o mais velho dos cinco filhos homens do casal Matilde e Antunes, moradores de Quintino, tranquilo bairro da zona norte do Rio. Antunes se destacou no Fluminense. Nessa época, o franzino e já talentoso Zico já acompanhava o irmão nos treinamentos, e batia bola com craques do futebol daquela época, como o capitão do Brasil na Copa do Mundo de 1970, Carlos Alberto Torres.
"O Zico se apaixonou pelo futebol vendo a gente jogar, e ele era muito agarrado com o Antunes. Quando o Antunes chegava do jogo, ele ia tomar banho, e o Zico ficava no vaso sanitário, ouvindo as histórias do jogo da boca do Antunes. O Zico ficava ali num interesse incrível. Às vezes, ficava ali uma hora", contou Nando.
Algum tempo depois, quem passou a se destacar foi Edu, habilidoso meia do América. A rotina do pequeno Zico não mudava. Vira e mexe, lá estava ele nos treinos do clube, e já batendo bola com jogadores do time profissional.
Ao mesmo tempo em que se acostumava com o mundo dos clubes de futebol profissional, Zico se estabelecia como uma referência nas peladas de rua em Quintino e nos bairros do entorno. Na Rua Lucinda Barbosa, onde a família Antunes morava, o futuro craque do Flamengo fazia jogadas espetaculares, recorda Edu, e era o principal destaque das disputas que eram travadas ali.
"Quando ele era pequenininho, jogava mais do que quando cresceu. A rua enchia para vê-lo jogar, era uma coisa absurda, na Lucinda Barbosa. Todo mundo em volta para ver o Zico jogar. Ele era sensacional, fazia coisas do arco da velha", afirmou o irmão que se destacou no América.
No Juventude, time criado pelo bicheiro Maneco, e no qual todos os irmãos Antunes jogaram, o loirinho franzino que dava lições de futebol nos garotos mais velhos era atração, mesmo jogando nas preliminares.
"Ele era a principal atração. Ele carregava uma quantidade imensa de aficionados. Todo mundo perguntava pelo loirinho. Já gritavam o nome dele. A torcida do Flamengo não foi a primeira", disse Edu.
"Eu tinha 15 anos, os outros dois 14, e o Zico, 12. Ele era o caçula. O mais novo dos nossos adversários tinha 18 anos. Era muito difícil ganhar da gente. Fizemos gol a quilo aqui, como a gente dizia. Vinha time de tudo que é lugar jogar contra a gente", observou Tunico, 63 anos, outro irmão de Zico, que não chegou a jogar profissionalmente.
Diante do talento explícito do caçula, os irmãos que já militavam no futebol profissional não tinham dúvidas. O melhor da família ainda estava por vir. Nas entrevistas que eram dadas, na época, Antunes, Edu e Nando eram unânimes em afirmar que o caçula seria o grande destaque dos talentosos irmãos de Quintino.
"A certeza de todos nós era absoluta. Inclusive, a imprensa vinha sempre fazer matéria com a gente, impressionada com tantos irmãos bons de bola. A gente dizia que o bom mesmo era o pequenininho, ele é que vai ser a fera", destacou Nando.
"Perguntavam para a gente quem era o melhor, e dizíamos que ainda estava por vir. Nossa resposta era única. Não erramos. Não precisava ser profeta", acrescentou Edu.