De técnica a temor por parto: o Dia das Mães na 4ª divisão
Entre as 145 pessoas que foram em um domingo pela manhã ao Estádio Espanha, em Santos, para assistir ao jogo entre Jabaquara e Manthiqueira, pela quarta divisão do Campeonato Paulista, estavam algumas mães especiais. Elas largaram parte de seus dias para assistirem a filhos jogadores buscarem um sonho aparentemente distante em uma divisão que paga salários mínimos, dura seis meses e o campeão faz mais de 30 jogos.
“O meu grande presente seria o gol. A lasanha já está pronta, adiantei de madrugada para vir”, disse Marilene Marina de Aguiar, 47 anos, mãe de Alex, centroavante que ficou na reserva.
O dia, no entanto, contou com mais do que almoços e levou até uma grávida de sobreaviso médico, com parto marcado para os próximos dias. Roselene Miranda, 29 anos, só conseguiu sair de casa pela promessa ao marido de assistir ao jogo próximo de uma ambulância.
“O mais maluco é que fui eu que quis vir, mas a qualquer momento pode nascer. Talvez seja desejo de grávida. Só conseguir vir porque garanti que sentaria ao lado de uma ambulância, estou com todos os documentos aqui para a Maria Eduarda”, contou a tia de um dos reservas do Jabaquara, Marcio, acompanhada do cunhado e da irmã.
E no jogo não faltaram emoções. Após um primeiro tempo sem gols, o Jabaquara fez 2 a 0, viu dois jogadores serem expulsos, o seu goleiro defender um pênalti e segurar a pressão após sofrer um gol. “Minha mãe? Minha mãe está em campo, é a bola”, disse um dos presentes.
Uma das protagonistas, realmente, estava dentro de campo, a técnica Nilmara Alves, na terceira temporada à frente do Manthiqueira. “Minha mãe e meu pai já estão acostumados. Eles sentem um pouco, ainda, falam até hoje para mudar de profissão, mas respeitam”. Nilmara levou consigo a derrota, a terceira em quatro jogos na competição, e uma das muitas provocações que ouve a beira do gramado: “agora vai ter que cozinhar, hein?”. Ela diz não ligar mais.
A partida ainda teve uma mãe, irmã de um dos jogadores, representante adversário do dia, que veio de São Paulo para prestigiar o zagueiro Deivison com filha de 11 meses. “Seguimos ele para onde for: Limeira, São Caetano, São José do Rio Preto, vale a pena. Meu marido já disse que o meu presente surpresa está me esperando”, contou Meire Elen, 37 anos.
Sem luxo e por amor, as mães tiveram alguns motivos em comum para comemorar o dia: com os seus filhos ao lado e com a esperança por dias melhores.