PUBLICIDADE

Rixa com Del Nero e polêmicas; conheça futuro chefe da FPF

17 abr 2014 - 08h30
Compartilhar
Exibir comentários
Reinaldo Carneiro Bastos na posse de Del Nero em 2003; mais de dez anos de espera para chegar ao poder
Reinaldo Carneiro Bastos na posse de Del Nero em 2003; mais de dez anos de espera para chegar ao poder
Foto: Gazeta Press

Dia 20 de janeiro de 2014. No Salão Nobre da Federação Paulista de Futebol, dirigentes e funcionários comemoram a reeleição do presidente Marco Polo Del Nero, candidato único, para – teoricamente – mais quatro anos à frente da entidade. Mas no meio da festa, uma das pessoas, em tom de brincadeira, já chama o vice Reinaldo Carneiro Bastos de "presidente"; rindo, ele diz que ainda não, mas os dois se abraçam e pulam de alegria. É o retrato de uma ambição que, para Bastos, deve ser concretizada 12 anos mais tarde que o esperado.

A aclamação de Del Nero como presidente da Confederação Brasileira de Futebol na quarta-feira abre o caminho para que Reinaldo, vice da FPF desde 1996, finalmente chegue ao cargo mais alto do futebol paulista. Sem adversário no pleito da CBF, Del Nero tomará posse na confederação nacional em 2015. Seu vice mais velho, Bastos, assumirá em seu lugar na FPF – um cargo que já poderia ser seu desde 2003, quando o ex-presidente Eduardo José Farah renunciou em meio a denúncias de corrupção e investigações da CPI do futebol.

Foi Bastos quem leu, com voz embargada, a carta de renúncia de Farah na FPF em 5 de agosto de 2003. Mas não foi ele quem assumiu a federação: o advogado Marco Polo Del Nero, ex-membro do TJD e que havia sido eleito vice da FPF naquele mesmo ano, foi aclamado presidente por ser 13 anos mais velho, conforme dita o estatuto da entidade. A "ultrapassagem" de Del Nero sobre Bastos causou clima tenso e relação fria entre os dois durante muitos anos, mas a fase foi recentemente superada – Reinaldo esperou sua hora chegar, e nos últimos tempos esteve eufórico com a perspectiva de chegar ao topo da FPF.

Del Nero quer seguir administração "exemplar" de Marin na CBF:
Raízes em Taubaté e relação com times pequenos

Reinaldo Carneiro Bastos, 61 anos, nasceu no Rio de Janeiro e se diz torcedor do Flamengo. Mas sua vida política tem muita relação com a cidade de Taubaté, interior de São Paulo. O dirigente começou no esporte como diretor de futebol do Esporte Clube Taubaté, em 1980, e foi presidente do clube entre 1984 e 1988. Nesta época, já era membro da FPF como diretor administrativo; depois, virou membro e eventual presidente da Comissão de Arbitragem de São Paulo, cargo que ocupou por três mandatos. Depois, virou diretor financeiro, e em 1996, vice-presidente.

Bastos é visto na FPF como a "ponte" entre a cúpula da entidade e os clubes do interior. Também tem um cargo na CBF como diretor de Desenvolvimento e Projetos – na prática, é o responsável pela organização das Séries B, C e D desde 2010, quando foi convidado para a função pelo então presidente Ricardo Teixeira. Seu contato com equipes de menor expressão é constante, com discursos e "mimos" a dirigentes; a aprovação da atual gestão da FPF entre clubes do interior do estado, por exemplo, é grande.

Conselheiro vitalício do E.C. Taubaté, Reinaldo tem outros negócios na cidade. Sua empresa Milclean, de materiais de higiene, causou controvérsia na Copa São Paulo de 2009 por conta do excesso de jogos na grade de televisão com placas de publicidade da firma – cinco em Taubaté, quatro em São José dos Campos. À época, Bastos confirmou participação na definição das grades de emissoras de TV, mas não falou sobre os valores das placas.

O dirigente também é dono de uma escola particular ao lado das dependências do E.C. Taubaté, no metro quadrado mais valioso da cidade. No time em que ainda tem influência, Bastos divide opiniões: algumas pessoas de dentro acham que ele deveria "fazer mais" pelo clube, que vive situação financeira crítica e está atualmente na Série A3 do Paulista. Mas Reinaldo, oficialmente, se mostra aberto a diálogos – no ano passado, por exemplo, recebeu na FPF um grupo de vereadores taubateanos para discutir projetos de incentivo ao esporte na cidade.

De Máfia do Apito a Madonna, períodos conturbados na FPF

Além da boa relação com clubes do interior, a gestão de Reinaldo na Federação Paulista foi marcada por algumas polêmicas. Em 2005, no caso que ficou conhecido como Máfia do Apito, o árbitro Edilson Pereira de Carvalho – que confessou ter manipulado resultados de partidas do Campeonato Brasileiro – acusou Bastos de pressionar a arbitragem e pedir favorecimentos a determinados times havia cinco anos. Nada foi provado contra o então vice da FPF e ex-presidente da Comissão de Arbitragem, mas Reinaldo chegou a se afastar da federação por um período.

Três anos depois, Bastos se viu no centro de outra turbulência. Na rodada final do Brasileiro de 2008, o presidente da FPF, Marco Polo Del Nero, denunciou um suposto "agrado" ao árbitro Wagner Tardelli para que ele apitasse em favor do São Paulo, que precisava de um empate contra o Goiás para ser campeão: um envelope com ingressos para o show da cantora Madonna, no Morumbi. O intermediário que entregaria o pacote ao juiz seria justamente Reinaldo, amigo pessoal de Tardelli.

O caso resultou na troca do árbitro para a última rodada, mas a acusação não foi provada. Além de um processo por danos morais de Tardelli, Del Nero também teve que arcar com o ápice do estremecimento de sua relação com Bastos – as informações são de que presidente e vice da FPF sequer se falavam à época. A reaproximação foi difícil, mas cresceu à medida em que a sucessão de Del Nero na federação foi se tornando uma possibilidade real.

A relação de Reinaldo com José Maria Marin, que será vice quando Del Nero assumir a CBF, também é antiga: os dois já faziam parte da diretoria da FPF na época de Farah. E segundo informações do jornal Lance!, uma das primeiras medidas de Bastos como presidente da FPF pode ser o retorno de seu amigo José Manuel Evaristo, outro ex-dirigente do Taubaté, para cuidar da arbitragem paulista; Evaristo foi afastado do cargo justamente no "caso Madonna" em 2008. No fim das contas, a "Continuidade Administrativa" – nome da chapa de Del Nero e Marin – não acontecerá apenas na CBF.

A reportagem tentou entrevista com Reinaldo Carneiro Bastos pela assessoria da FPF, mas não obteve resposta.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade