Saiba os efeitos que a cocaína causa no corpo de um atleta
O suposto caso de doping por cocaína envolvendo o atacante botafoguense Jobson, um dos destaques do Campeonato Brasileiro, faz voltar à pauta o efeito que o uso dessa substância tem no corpo do atleta profissional. A cocaína realmente faz o desempenho do esportista melhorar dentro de campo? A reportagem do Terra buscou um infectologista para esclarecer a questão.
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Irineu Francisco Delfino Silva Massaia, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e infectologista, ajudou a entender melhor o que a cocaína faz no corpo do atleta. Segundo ele, a cocaína pode melhorar o desempenho do esportista em campo, mas o risco para a saúde é alto demais - os efeitos colaterais são muito graves.
"A cocaína funciona tanto na parte neurológica quanto nos órgãos. No sistema nervoso causa um grande prazer, que está ligado a perda do medo e a gerar uma inebriante sensação de poder. O emocional é que simula essa sensação. Mas efetivamente ela não deixa mais forte, mais potente. O que é desencadeado é o ânimo, a sensação de ser um super-homem", disse Massaia.
Diante desse quadro, é razoável supor que, ao usar a droga antes de entrar em campo, a performance do jogador vá ser incrementada.
Mas, embora a cocaína possa de fato gerar aumento da performance em um espaço limitado de tempo, depois tudo pode ficar bem pior. "A ação é muito rápida e quando passa pode desencadear depressão e a necessidade de voltar a usar", disse o médico. "A cocaína aumenta a freqüência cardíaca, a pressão arterial e pode causar inclusive um infarto. Pode gerar sérios danos à estrutura física do atleta porque coloca o corpo em intensa atividade. Como o atleta está sempre em situações de limite físico, a droga destrói agudamente o corpo dele e debilita a parte cardiovascular", disse o médico.
Massaia disse ainda que o efeito desse tipo de droga pode ser substituído por uma preleção muito bem feita antes do jogo. É o doping psicológico, aquele motivado por um discurso que empolga e coloca o time em um estado de espírito totalmente vencedor e moralmente elevado. Um exemplo sempre citado é o de Vanderlei Luxemburgo, cujas palestras conseguem estimular a esse ponto.
Massaia afirmou que conhece atletas amadores que usam cocaína para se beneficiar do efeito motivador antes de um jogo, mas que isso acontece mais em encontros universitários. E lembrou que o excesso do uso pode causar outros graves problemas como, é claro, a dependência química.
"É o que a gente chama de efeito de tolerância. A primeira vez que usamos vai ter um efeito X, depois vai ser menor. Vou ter que usar uma dose maior para preencher o mesmo efeito. E tem horas que mesmo usando a máxima não consegue alcançar o prazer que alcançava. Aí ele apela para outra droga ou tem overdose. Aí vai misturando com outras coisas. Começa a depender quimicamente e não só emocionalmente", explicou Massaia.
Quando questionado se o efeito de o atleta usar a cocaína minutos antes do jogo ou na noite anterior à partida era o mesmo, Massaia disse que o efeito é totalmente diferente, mas que os problemas serão os mesmos.
"Usar, digamos, um dia antes vai fazer o atleta entrar em campo sem a sensação da euforia e poder que ele experimentou após o uso. De um dia para o outro é menos provável que ele tire proveito do que entende como o 'benefício' da droga. Por outro lado, o que pode ficar é a justamente o resíduo nocivo do uso: a forma como ela age e danifica órgãos como o coração. Já o uso no pré-jogo vai fazer ele achar que está se sentindo melhor, e será submetido ao tal efeito psicologicamente revigorante. Nesse caso, ele acha que se sente melhor. O que ele talvez ignore é que está correndo o risco de infartar em campo, de ter falta de ar, pressão alta etc", afirmou Massaia.
Quando comparada à maconha, a cocaína é completamente diferente. Segundo o médico, a única similaridade entre as duas drogas é que ambas dão prazer.
"Os efeitos da canabis para cocaína são bem diferentes. A maconha não é um estimulante, ela dá prazer. A cocaína dá prazer e é um estimulante. Em alguns lugares a maconha é usada na medicina. Mas ambas causam dependência", concluiu.