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Seleção goleia, se diz 'do povo' e não se sente alvo de protestos

3 jun 2014 - 20h35
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Depois de um começo sem muita inspiração, a seleção brasileira se soltou a partir de um belo gol de falta de Neymar para vencer a equipe do Panamá por 4 a 0 no primeiro dos dois amistosos de preparação para a Copa do Mundo - Neymar foi, aliás, o principal nome da equipe, participando ativamente das jogadas de ataque a arriscando dribles e passes de efeito no estádio Serra Dourada, em Goiânia.

E se os 30 mil pagantes vibraram no embalo do camisa 10 da seleção, por volta de 300 professores em greve da rede municipal de capital de Goiás fizeram um protesto cobrando que o investimento no evento futebolístico poderia ser usado na melhoria dos serviços públicos locais.

De manhã, manifestantes ligados ao mesmo grupo, o Sint-Ifes (sindicato dos servidores técnicos administrativos das instituições de ensino superior), já tinham sido retirados pela polícia, à força, da frente do hotel onde estava o time brasileiro.

Na saída de campo, o lateral Daniel Alves, que marcou o segundo gol, foi questionado pela TV Globo sobre a atual relação com o torcedor nacional. E citou os protestos. "A conexão (com o torcedor) já foi demonstrada. Quando ela acontece, o resultado é positivo. Sei que é difícil, bastante complicado que esqueçam os problemas, mas peço que a gente curta a Copa e depois volte a cobrar (os políticos)".

Mais tarde, na zona mista, jogadores disseram à BBC Brasil que os protestos não são contra a seleção e defenderam o direito de manifestação da população. Fred, Hernanes e o próprio Daniel Alves, três cabeças importante do grupo da seleção, usaram exatamente os mesmos termos para falar do assunto, o que indica um discurso unificado da seleção para tratar do tema. "Também somos do povo" é o lema.

"O maior exemplo foi a da Copa das Confederações. Toda aquela manifestação do povo deixou nós, jogadores, mais orgulhosos. Eles estão representando a gente. Nós, da seleção, a maioria saiu da dificuldade e também queremos o Brasil inteiro com coisas melhores, saúde, educação, mais investimento. Sabemos que o povo tem um carinho especial pelo jogador, que vai torcer pra gente e contamos com o apoio de todo mundo", disse à BBC Brasil Fred, um dos capitães de Luiz Felipe Scolari.

"Se alguém tem alguma dúvida que somos do povo, é só dar uma olhada no histórico dos jogadores que aqui estão, o povo vai se identificar bastante com todos eles. Viemos ali de baixo, se há uma seleção que representa o povo é a nossa", falou Daniel Alves. "Somos do povo, nossa história mostra isso. Viemos do povo, de situações desfavoráveis. Sabemos que o protesto não é contra nós, porque nós somos do povo, mas é a oportunidade que aquele pessoal tem para fazer seu protesto ganhar uma dimensão internacional. A gente entende isso, mas sabemos que a maior parte do Brasil está torcendo por nós", acrescentou Hernanes.

Em campo, o técnico Luiz Felipe Scolari escalou Dante e Ramires nas vagas de Thiago Silva e Paulinho, que foram poupados e ficaram em Teresópolis (assim como Fernandinho). E o Brasil começou o jogo sem conseguir incomodar o Panamá, encontrando inclusive dificuldades para penetrar na defesa rival. Até que aos 26 minutos, Neymar sofreu falta, cobrou com perfeição para abrir o placar e começou a roubar a cena em Goiânia.

Logo na sequência, o atacante do Barcelona deu belo drible no defensor panamenho, cruzando para Fred quase ampliar. E no calor do bom momento do Brasil no jogo, Daniel Alves arriscou de fora da área e fez o segundo gol brasileiro no Serra Dourada.

Como prometido na véspera, Felipão começou a usar as seis substituições que tinha direito já no intervalo, promovendo as entradas de Maicon, Maxwell e Hernanes. E bastaram poucos segundos para Neymar achar grande passe de calcanhar, Hulk concluir com categoria e o Brasil fazer o terceiro.

Aos 27, Willian, que veio do banco (Jô e Henrique também entraram), completou cruzamento de Maxwell para fechar o placar em 4 a 0.

Neymar brilha, e Felipão banca

Para colocar fim ao pior momento do Brasil no jogo - a primeira metade do primeiro tempo -, Neymar marcou de falta e deu novo ânimo ao time e à torcida goiana. Depois do jogo, ele se mostrou otimista com o atual momento, próximo do ponto ideal para a Copa do Mundo.

"Vou até pedir um pouco mais de paciência para nossa torcida pelo começo. A gente não está acostumado com esse gramado, mas depois entramos no nosso ritmo. Eu não estou pronto ainda, falta um pouco de ritmo de jogo, cansei um pouco no final. Faltam nove dias e vamos chegar na forma física ideal."

Depois de conviver com lesões na reta final da temporada pelo Barcelona, Neymar voltou a atuar em um jogo inteiro e, como admitiu, saiu bastante desgastado. Ainda assim, Felipão não pensa em tirar a estrela do time do amistoso contra a Sérvia, sexta-feira, no Morumbi.

"Não (será poupado). Ele estava sendo poupado no time dele porque estava machucado. Tanto que hoje, mesmo com cartão, deixamos os 90 minutos porque ele precisa de ritmo. Não será poupado, a não ser que aconteça algo."

Começo ruim, 70 minutos bons

Para Felipão, a seleção brasileira até tentou começar o jogo com a intensidade demonstrada na Copa das Confederações, mas não conseguiu.

"Nossa conexão de defesa e meio não estava correta. E a equipe do Panamá marcava com dez jogadores, fechados, não tinha espaço. O time até que tentou, mas estava um pouco mal distribuído e não conseguiu. E aí, contra quem joga com duas linhas de quatro lá atrás, até o primeiro gol é difícil."

Depois desses 20 minutos iniciais, porém, a equipe convenceu o treinador, que se disse ainda preocupado com a evolução do time, mas não no mesmo nível que no treino de domingo. Agora, resta apenas um novo teste de 90 minutos antes do início da Copa do Mundo, dia 12, contra a Croácia.

"Gostei do segundo tempo, com muito mais movimentação, acerto nos passes, agilidade, e gostei dos 25 finais do primeiro tempo também", completou o técnico brasileiro, que pretende enfrentar a Sérvia já com o time que inicia o Mundial.

"Para o jogo de sexta, nenhum deve ser poupado. Terei todos os jogadores à disposição e a ideia é colocar 100% da equipe que poderá iniciar contra a Croácia".

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