Seleção se concentra em cidade de espírito orgulhoso e arrogante
28 jan2011 - 09h25
(atualizado às 12h21)
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Fábio de Mello Castanho
Direto de Arequipa (Peru)
Uma corrida de táxi com o motorista Jesus Rondon Chavez entregou muito mais do que as atrações turísticas de Arequipa, cidade em que a Seleção Brasileira se concentra para a fase final do Sul-Americano Sub-20. A conversa serviu para comprovar o espírito orgulhoso dos arequipenhos, que para os peruanos de outras regiões seria melhor classificado como espírito arrogante.
"Somos primeiro arequipenhos, depois peruanos", disse o motorista entre uma parada no Convento Santa Catalina e a Praça das Armas. "Qual outra cidade do Peru tem construções tão bonitas como essa?", questiona Jesus, sobre as igrejas que formam a paisagem da cidade conhecida por sua tradição religiosa.
O orgulho dos habitantes desta localidade no sul do país e nos pés dos Andes pode ser medido em camisetas que brincam com a fama por meio da frase "eu amo ser arequipenho". Ou ainda por um alerta feito pelo taxista. "Se for paquerar as mulheres daqui, cuidado. Nós não gostamos que estrangeiros falem com nossas garotas", disse, como se se esforçasse para se encaixar no estereótipo que cerca Arequipa.
Este "ar superior" dos arequipenhos é relatado no livro de um dos filhos ilustres da cidade, o escritor e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa. Em "Dicionário Amoroso da América Latina", o escritor descreve a sua cidade-natal como um típico habitante.
"Eu acredito que as zombarias que correm a respeito de nós no Peru - dizem que somos arrogantes, antipáticos e até mesmo loucos - têm origem na inveja que despertamos. Afinal, não falamos nós o espanhol mais puro? Não temos, então, o convento de Santa Catalina, essa maravilha arquitetônica (...)? E a nossa cidade não conheceu os mais grandiosos terremotos e maior número de revoluções da história do Peru?".
Conhecida como cidade branca por ser erguida com silhar, pedra de origem vulcânica com a coloração branca, Arequipa desde a sua fundação, em 1540, sofre com catástrofes naturais. Com vulcões ao seu redor, a cidade teve de se reerguer de erupções e terremotos e está suscetível a novos desastres. O último forte tremor, em 2001, levou destruição à cidade, e o vulcão Misti entrou em erupção, sem grandes danos, em 1985.
Arequipa também é conhecida pelo seu espírito contestador e revolucionário. Principalmente por seu papel central na Guerra do Pacífico, que entre 1879 e 1883 envolveu também o Chile e a Bolívia. "Enquanto a gente pegava arma e defendia o Peru dos chilenos, o pessoal de Lima se escondia embaixo da cama", disse o taxista Jesus Rondon Chavez ao final de uma corrida esclarecedora sobre quem são os arequipenhos.
Veja treino da Seleção Brasileira Sub-20 em Arequipa:
O Misti, com topo a 5.820 m, é o mais conhecido dos vulcões que cercam a cidade de Arequipa. A última vez que entrou em erupção, em 1985, quase não provocou estragos. Porém, no século XIX o vulcão provocou a destruição da cidade
Foto: Fábio de Mello Castanho / Terra
Localizada a 2.300 m de altitude, Arequipa fica localizada em uma região montanhosa, no pé da Cardilheira dos Andes
Foto: Fábio de Mello Castanho / Terra
onto central da cidade, a Praça das Armas concentra bares, restaurantes, loja e uma bela paisagem com a Catedral Basílica de Arequipa
Foto: Fábio de Mello Castanho / Terra
A Praça Yanahuara é uma síntese da urbanização da cidade. A cada igreja, uma praça bem conservada em sua volta
Foto: Fábio de Mello Castanho / Terra
Com ruas estreitas, o trânsito de Arequipa é caótico. Buzinas e desrespeitos às regras de trânsito são corriqueiros em uma cidade com todas as características de metrópole
Foto: Fábio de Mello Castanho / Terra
Construído em 1580, o Convento de Santa Catalina é um dos lugares mais visitados de Arequipa e orgulho da cidade. Atualmente, cerca de 20 freiras moram no local, mas o espaço é aberto para visitação de turistas
Foto: Fábio de Mello Castanho / Terra
A vida noturna de Arequipa é agitada. Ao redor da Praça das Armas, bares e restaurantes garantem a diversão de jovens
Foto: Fábio de Mello Castanho / Terra
Bonito e bem conservado, o Centro Histórico de Arequipa foi considerado Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco em 2000
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A Igreja de San Francisco fica localizada em um complexo que guarda ainda um convento com uma biblioteca de 20 mil livros e uma galeria de arte
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Hotel onde a Seleção Brasileira está hospedada, o Libertador é um dos mais luxuosos da cidade. A cidade conta com um grande rede hoteleira e de serviços para os turistas
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Segunda maior cidade do Peru, com quase 1 milhão de habitantes, Arequipa tem grande desigualdade social
Foto: Fábio de Mello Castanho / Terra
Com seu topo a 6.095 m, o Chachani é o mais alto vulcão que cerca a cidade de Arequipa. O Pichu-Pichu, com 5.670 m,completa a lista de vulcões de Arequipa
Foto: Fábio de Mello Castanho / Terra
Catedral Basílica de Arequipa foi destruída por terremotos ao longo do tempo, mas as marcas de sua arquitetura seguem inabaláveis
Foto: Fábio de Mello Castanho / Terra
Localizada na Praça das Armas, a Catedral Basílica de Arequipa foi fundada em 1540 e impressiona por sua arquitetura
Foto: Fábio de Mello Castanho / Terra
Casa feita a partir de silhar, pedra de origem vulcânica. Região central da cidade é repleta de construções antigas e bem conservadas