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Sul-Americano Sub 17

Aqui não tem estrela e nem vedete, diz técnico da Sub-17

7 abr 2009 - 14h35
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Dassler Marques

O cotidiano com categorias de base está no DNA de Lucho Nizzo, treinador da Seleção Brasileira Sub-17 há quase dois anos. Antigo treinador da categoria Sub-15, ele foi promovido com a saída de Edgar Soares e atingiu seu momento máximo depois de realizar outros trabalhos também com jovens. Com isso, tem a experiência necessária para não se deslumbrar ao receber atletas do quilate de Phillipe Coutinho.

Lucho afirma que não há estrelas e, sim, um grupo de jogadores. Um grupo, aliás, que o treinador afirma ser fortíssimo do ponto de vista técnico e que tem tudo para fazer barulho no Sul-Americano Sub-17 no Chile, a despeito de uma mudança de regulamento que tornou as coisas mais perigosas para a definição das quatro vagas que levam ao Mundial do Egito.

Lucho Nizzo, que recebeu a geração anterior às vésperas dos Jogos Pan-Americanos e do Mundial Sub-17, em que a Seleção decepcionou, comemora agora o fato de ter tido mais tempo para a observação dos jogadores. E se diz "esperançoso" com as perspectivas da turma liderada por Neymar e Coutinho.

Confira a entrevista na íntegra:

Terra - Qual a lição que você trouxe com o trabalho da outra geração com o Mundial Sub-17?

Lucho Nizzo - Aquele outro grupo foi definido muito cedo e não sei até que ponto foi benéfico. Já com esse, nós mudamos bastante, observamos ao longo dos últimos tempos e trouxemos jogadores para avaliar. Já a outra turma, por critérios do Edgar (Soares, treinador anterior), foi fechada muito cedo e acabou indo com ele até o Mundial. Nem pude mudar muita coisa.

Terra - Quais as maiores qualidades desse grupo?

Lucho - Destaco a qualidade técnica. Muita movimentação, habilidade, rapidez de raciocínio de vários jogadores. Coutinho, Wellington, João Pedro e Dudu, por exemplo. Estou muito esperançoso.

Terra - O legado de já conhecer os meninos desde o Sub-15 e trabalhar com mais tempo torna as coisas melhores para você?

Lucho - Não foi o período exatamente ideal, se você for avaliar. Tivemos poucas competições ao longo do ano, mas montamos uma equipe que já tem padrão definido e entendeu bem a nossa proposta. É uma equipe com a qual iniciei esse processo. Até ressaltei para os jogadores que, do elenco final, só sete jogadores estiveram comigo no Sub-15. Os outros 13 foram da nossa busca, observação. Realmente rodamos o Brasil.

Apesar de essa denominação de estrelas que se dá para vários deles, todos estão imbuídos e aqui não existe estrela. Não tem vaidade, só responsabilidade.

Terra - O fato de receber jogadores já com certo cartaz, como Coutinho e Zezinho, exige cuidados especiais? Sem contar o Neymar que não veio...

Lucho - - Tenho conversado muito, inclusive com o Neymar. Às vezes, dou uma duras. Outro dia ele estava na televisão aparecendo com o boné pra trás e dei umas broncas (risos). Acontece que o tratamento aqui não é como o Santos e o Vasco dão para eles. Aqui não tem estrela, não tem vedete. A força do grupo é o conjunto, nenhum dos dois vai ganhar jogo para nós e é uma equipe imbuída. E eles entendem isso.

São garotos com muita tranqüilidade, entendem esse processo. A preocupação é mais com o homem, do caráter, do cidadão. Depois é com o jogador e, dentro disso, temos conseguido que eles entendam.

Terra - Sobre os adversários. O que já deu para perceber?

Lucho - A competição sofreu uma mudança significativa de regulamento e é preciso explicar. Agora, são dois grupos com cinco e os dois primeiros já garantem vaga diretamente e decidem o título. Sobram quatro para um quadrangular, definindo a terceira e a quarta vaga. Então diminuiu o número de jogos e essa é uma competição traiçoeira. Antes era possível ter um tropeço e recuperar, mas agora é preciso vencer tudo para ir até a final. Ficou mais perigoso.

Na minha chave, a Colômbia vem com uma equipe fisicamente forte. Acompanhamos uma competição no Peru e também deu para observar a Bolívia e o Peru, já que consegui muito material com um amigo meu e estou passando em vídeos para os jogadores. Só estamos buscando ainda do Paraguai. Nessa categoria é complicado de conseguir esse material. Mas estamos fuçando.

Terra - A gente observa vários jogadores badalados nessa geração Sub-17, como Fábio Pinto, Léo Lima e, recentemente, Kerlon e Lulinha, que não vingaram. É uma idade perigosa?

Lucho - É perigosa pela questão da estabilidade. Eles passam por alternâncias nessa idade e a situação financeira dos clubes faz com que os meninos sejam lançados prematuramente, com muitas responsabilidades.

Então você perde a oportunidade de treinar fundamentos e chega sem estar preparado. Lembro que o Lulinha, que todos endeusavam, foi lançado às feras e aconteceu o que aconteceu. Tem que dar muito tempo para o jogador maturar, e cada um faz isso de uma forma. Há o lado fisiológico e o emocional. E não podem tratar todos os jogadores da mesma forma.

As comparações, como do Neymar com o Robinho, não são boas. Cada jogador é único. Mas a pressa que os clubes têm de fazer caixa leva ao lançamento prematuro e, conseqüentemente, muitos não suportam.

Costumo dizer que no colégio você passa por todas as etapas, não vai direto para o colegial. Aí imagina no futebol, com o menino chegando de uma hora para a outra. Dou dois exemplos ótimos de jogadores que foram preparados: os gêmeos (Fábio e Rafael), que ficaram por um ano e meio sendo preparados pelo Alex Ferguson. E o Denílson, que o Arsenal tratou como jóia rara e só agora virou titular. Temos que ter muita calma.

Fonte: Especial para Terra
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