Zico completa amanhã 60 anos de uma vida dedicada ao futebol
Celebrado como um dos maiores ídolos da história do futebol pelo conjunto de sua obra, alçado ao status de divindade pela torcida do Flamengo e dono de uma carreira cujo brilho nos gramados não dá margem a qualquer "mas", Arthur Antunes Coimbra, para alguns o "Galinho de Quintino", para outros o eterno camisa 10 da Gávea e para todos Zico, completa neste domingo 60 anos.
Nascido em 3 de março de 1953 no bairro de Quintino, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Zico viveu intensamente o Flamengo, seu único clube no Brasil como jogador e cuja torcida o idolatra como poucas mundo afora - talvez nenhuma - o faça com outro craque.
Dizer que Zico era um meio-campista é simplificar equivocadamente o que desenho tático algum pode explicar. Afinal, no Rubro-Negro, por vezes era encontrado em campo começando as jogadas atrás dos volantes, ditando o ritmo da equipe na intermediária ou - com a categoria e a frieza dos atacantes mais refinados - dando o toque final para o fundo das redes.
Aliás, Zico fazia gols como poucos, em arte e quantidade. Foram mais de 800 em uma carreira profissional que começou em 1971, no Flamengo, e culminou no Japão no Kashima Antlers, clube pelo qual pendurou definitivamente as chuteiras em 1994. Neste último, também se tornou ídolo e ganhou o respeito dos japoneses.
O também inesquecível camisa 10 da seleção brasileira que encantou o mundo na Copa de 82 deu seus primeiros dribles no futsal, e chegou à escolinha do Flamengo aos 14 anos, em 1967. Quatro anos mais tarde, chegou ao time principal, estreando em um clássico contra o Vasco.
A partir daí, Zico construiu uma carreira ímpar, que nem mesmo a ausência do troféu de campeão do mundo pela seleção consegue ofuscar. No Flamengo, conquistou em 1981 o Mundial Interclubes, em Tóquio, quando o time bateu o Liverpool por 3 a 0. No caminho rumo a essa conquista, o craque liderou o Rubro-Negro na campanha que culminou com o título da Taça Libertadores.
Quando deixou o clube, em 1983, para se transferir à Udinese, prometeu que voltaria. E cumpriu, em 1985, após duas temporadas no futebol italiano, nas quais também se destacou, mesmo jogando por um time modesto e sem pretensões de título.
Porém, uma grave lesão sofrida em uma partida contra o Bangu, naquele mesmo ano, deixou Zico afastado dos gramados por um longo período e marcou sua carreira a ponto de ele ter perdido a capacidade de explosão. Sua genialidade, entretanto, fez com que, mesmo mudando sua forma de jogar para um estilo mais cadenciado, continuasse a ser decisivo para o Rubro-Negro.
Zico ainda viveria outro drama na carreira, desta vez na seleção. Em 1982, ele já havia tido a frustração da "tragédia de Sarriá" - a derrota por 3 a 2 para a Itália, que eliminou da Copa do Mundo uma equipe espetacular, que contava, além dele, com nomes como Falcão, Sócrates e Éder.
Mas em 1986, ainda sem estar em suas melhores condições físicas devido à lesão no ano anterior, uma nova oportunidade se abrira.
Apesar de não ter chegado às quartas de final com uma campanha tão destacada como a de quatro anos antes, a seleção novamente dirigida por Telê Santana voltava a se ver na rota da conquista do tetracampeonato. Quis o destino que em um equilibrado jogo contra a França, até então empatado em 1 a 1, o Brasil tivesse um pênalti a seu favor. E Zico, que havia acabado de entrar na partida e feito a jogada que originou a penalidade, fez a cobrança e a desperdiçou.
Muitos que o culpam pela eliminação do Brasil não se lembram, mas Zico voltou a bater um pênalti naquele jogo, desta vez nas cobranças após o tempo regulamentar, e converteu. A seleção perdeu na série decisiva por 4 a 3 - Sócrates e Júlio César desperdiçaram suas chances.
Zico atuou pelo Flamengo até 1989, quando se despediu do futebol em um amistoso contra o Fluminense em Juiz de Fora - uma goleada por 5 a 0, com direito a gol de falta do Galinho.
Após um parêntese de dois anos, em 1991 ele foi para o Japão, contratado pelo clube embrião do Kashima Antlers, onde fechou sua carreira em 1994 e também foi elevado à categoria de ídolo. Zico, já como treinador, chegou a dirigir o clube e a seleção japonesa, à qual levou à Copa do Mundo de 2006.
Em sua carreira como técnico, Zico comandou ainda Fenerbahçe (Turquia), Bunyodkor (Uzbequistão), CSKA (Rússia) e Olympiacos (Grécia), e mais recentemente a seleção iraquiana, a qual deixou no final do ano passado.
Em 18 anos com a camisa rubro-negra, o eterno craque disputou 703 partidas e marcou 509 gols, ganhou sete vezes o Campeonato Carioca, quatro vezes o Brasileirão, levantou uma Taça Libertadores e um Mundial Interclubes, entre outras muitas conquistas.
Esse histórico está resumido em uma camiseta que o clube lançou para festejar o aniversário do ídolo de "40 milhões de torcedores", segundo o Flamengo, que neste sábado inaugurou em sua sede uma estátua de Zico como testemunho de gratidão a sua lenda viva.