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Ginástica

Fora de Londres, ginasta supera "pane" e sonha com 2016

14 jan 2012 - 07h38
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Ulisses Neto
Direto de Londres

Não bastasse a já conhecida falta de incentivo, Giovanna Matheus ainda precisa superar um problema emocional sério para enfrentar as adversárias no trampolim acrobático. A ginasta carioca, 22 anos, participou na sexta-feira do Pré-Olímpico na capital britânica, em busca de uma vaga para os Jogos de Londres. Terminou na 13ª posição e viu o sonho adiado.

Com os olhos vermelhos e lágrimas escorrendo pelo rosto, a brasileira comentou o desempenho abaixo do que havia projetado. "Realmente, era bem difícil conseguir a vaga. Todas as meninas que estavam aqui eram muito boas, de alto nível, bem experientes e já competem há muitos anos. Mas acho que poderia ter sido melhor", disse ela ao Terra.

"Preciso ter um pouco mais de frieza na hora de competir". A avaliação remete a um grave problema que a atleta teve nos últimos anos. Giovanna Matheus sofreu com a Síndrome dos Movimentos Perdidos, conhecida no meio da ginástica como "pane".

A condição, que afeta principalmente atletas do trampolim e do salto ornamental, resulta na perda de confiança gradativa nos movimentos. Ou seja, um profissional de alto nível chega a um estágio em que não consegue executar nem ao menos os movimentos básicos ensinados aos amadores.

Os britânicos Bryony Page, do trampolim, e Tom Daley, dos saltos ornamentais, também sofreram com o mesmo problema. A brasileira foi seriamente afetada pela síndrome e ficou cerca de dois anos e meio sem pisar em um ginásio.

A condição veio justamente no momento em que Giovanna crescia no trampolim e já começava a pensar em voos mais altos. Em 2007, aos 17 anos, conquistou uma medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro.

Cerca de um ano depois, a Síndrome dos Movimentos Perdidos interrompeu a trajetória promissora. "Parei completamente. Não fazia nada quando estava com 'pane'. Só estudava. Desisti do esporte", conta a brasileira.

Giovanna explica que "você simplesmente perde os saltos. O problema é que não tem tratamento". Em janeiro do ano passado, a ginasta decidiu que era o momento de investir de novo e retomar a carreira, apesar do então atual quadro desanimador.

"Voltei bem e me esforcei bastante. Precisei começar do zero, como se fosse uma iniciante. Eu comecei a treinar tudo de novo, desde os saltos simples. Aos poucos fui pegando confiança em cada um. Por isso, só o fato de estar aqui já é uma conquista. Mas, é claro, eu queria a vaga nos Jogos", afirma.

A treinadora Tatiana Figueiredo, que acompanha a carreira de Giovanna desde o início, também ressalta a importância do retorno da atleta e prevê melhor desempenho para a Olimpíada de 2016.

"Para mim foi muito difícil (o período de 'pane'). Eu sei que ela é a atleta mais talentosa do Brasil, mas foi a parte psicológica que a tirou do esporte. No ano passado foi quase um milagre. Quando ela voltou, a gente não sabia nem se ela poderia participar de competições, de como estaria. Por isso, o resultado, mesmo sem a classificação, já é importante".

Por ser o país sede da competição, o Brasil terá vaga garantida no trampolim em 2016. Entretanto, Tatiana Figueiredo ressalta que é preciso investimento para evitar que talentos como o de Giovanna sejam perdidos. Quando esteve com "pane", a ginasta não contou com nenhum apoio para se recuperar. E a síndrome pode voltar a se manifestar, caso nenhum acompanhamento profissional seja feito.

"Isso é um problema. Eu sou apenas uma academia particular, não sou um clube. Então, a Giovanna não tem acompanhamento de nada. Nenhum tipo de apoio. Não tem psicólogo, não tem fisioterapeuta, não tem médico. Só tem a mim e eu tenho que tentar fazer o meu melhor. Nem equipamento de ponta para treinar ela tem. A Giovanna treina em um equipamento velho, comprado em 2003", desabafou a técnica.

Londres 2012 no Terra

O Terra, maior empresa de internet da América Latina, transmitirá ao vivo e em alta definição (HD) todas as modalidades dos Jogos Olímpicos de Londres, que serão realizados entre os dias 27 de julho e 12 de agosto de 2012. Com reportagens especiais e acompanhamento do dia a dia dos atletas, a cobertura contará com textos, vídeos, fotos, debates, participação do internauta e repercussão nas redes sociais.

Giovanna Matheus, 22 anos, elogiou rivais após perder sonhada vaga
Giovanna Matheus, 22 anos, elogiou rivais após perder sonhada vaga
Foto: Ulisses Neto / Especial para Terra
Fonte: Especial para Terra
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