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No Grêmio, Luxemburgo larga "lado gestor" e rebate rótulo de velho

10 out 2012 - 08h26
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Cristiano Silva
Direto de Porto Alegre

Com mais de quarenta anos de serviços prestados ao futebol, o técnico Vanderlei Luxemburgo está pela primeira vez no comando de um time gaúcho. O treinador já trabalhou no Rio Grande do Sul, quando na década de 70 atuou como jogador no Internacional, de Figueroa e Falcão, e aprendeu a gostar de sapatos de grife. Em entrevista exclusiva ao Terra, o comandante tricolor diz que encontrou a felicidade no clube gaúcho em um projeto diferente do que estava acostumado a trabalhar ao longo da carreira. Com um contrato curto, ele deixou de acumular a função de gestor junto com a de técnico, como fez por outros times em que passou.

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Focado dentro de campo, Luxemburgo fala pouco sobre uma renovação de contrato para 2013, sobre reforços que podem chegar e prefere apenas pensar no elenco que está no clube. Apesar de não influenciar tanto na gestão, Luxemburgo reconhece ter sido decisivo na chegada de nomes como Elano e Zé Roberto ao Olímpico. "É claro que eu estando aqui os caras querem trabalhar comigo, acham que é legal, sei lá, alguma coisa tem aí e eles confiam no meu trabalho".

Na terceira posição no Campeonato Brasileiro e com grandes chances de colocar o Grêmio na Copa Libertadores, o treinador mostra que acertou ao largar o período de férias e aceitar a nova oportunidade. Aproveita o bom momento, inclusive, para rebater quem o rotulava de decadente e ultrapassado. "É proibido você ser inteligente no Brasil".

Confira abaixo a entrevista completa do técnico do Grêmio:

Terra - Você atuou como jogador no Inter, na década de 70 e hoje treina o Grêmio. Mudou muito a rivalidade Gre-Nal da época de jogador para os tempos atuais?

Vanderlei Luxemburgo - Eu acho que esta rivalidade tem que ser sustentada, mas dentro de uma coisa moderada, para que os clubes tirem proveito. Tanto o Inter quanto o Grêmio, se tirarem proveito desta rivalidade, só tendem a ter crescimento de suas torcidas. Com um estado forte como o Rio Grande do Sul, com pessoas fortes, a tendência é dos clubes crescerem e se tornarem potências, tanto no Brasil quanto na América do Sul.

Terra - O Grêmio tem como projeto disputar a Libertadores do ano que vem, ano em que o Grêmio vai começar uma nova fase que é atuar no novo estádio. Como foi receber o convite para comandar este projeto?

Vanderlei Luxemburgo - Primeiro que eu não estava querendo trabalhar, eu tinha falado para minha mulher que eu tinha que dar um tempo para família, ficar em casa. Eu estou há 20 e poucos anos direto e sem férias, mas aí veio o Grêmio com o projeto e a proposta da Arena. Eu olhei e pensei: 'poxa, é um negócio interessante'. Aí eu topei. Tenho um compromisso até o final do ano porque não tinha como ser do jeito que eu gosto, porque tem eleição (para presidência do clube, no dia 21 de outubro). Pela primeira vez eu assino um contrato com um prazo mais curto e sem estar participando diretamente da gestão. Estou satisfeito e, mesmo que eu não tenha um contrato longo, eu tenho que trabalhar pelo Grêmio, pelo objetivo que eu fui contratado e preparando o Grêmio para frente.

Terra - Os três candidatos à presidência do Grêmio já disseram que querem te manter como treinador do Grêmio no próximo ano...

Vanderlei Luxemburgo - Eu prefiro me manter distante disto, não cabe a mim entrar na parte política sobre interesses concretos ou não. Eu tenho que fazer aquilo que eu tenho por contrato determinado. Esta é a obrigação profissional. Tentar afastar os jogadores também deste assunto de política e nós estamos conseguindo. Eu fico contente do que estão falando, mas não mexe com a minha cabeça no sentido de avançar. Eu tenho que ter os pés no chão e saber que eu tenho até o final do ano para concluir o meu trabalho. O que vai acontecer para frente, a gente não sabe.

Terra - Como é pra você chegar a um clube que encontra uma certa dificuldade em contratar um jogador de ponta e aí você liga para o atleta e convence o jogador a vir trabalhar contigo, como foi nos casos do Elano e Zé Roberto, por exemplo?

Vanderlei Luxemburgo - Sempre foi assim, mas eu não vendo o Vanderlei Luxemburgo, muito pelo contrário, eu vendo o clube. E eu cheguei aqui e encontrei um clube com muita credibilidade. Eu falo para os jogadores que eles podem vir para cá porque o Grêmio é um clube que cumpre com seus compromissos e tem a tendência de crescimento. Tem bons profissionais engajados neste projeto. É claro que eu estando aqui os caras querem trabalhar comigo, acham que é legal, sei lá, alguma coisa tem aí e eles confiam no meu trabalho. Se o clube não tiver credibilidade, primeiro é que eu não vou estar, porque ninguém trabalha de graça.

Terra - E ainda tem isto no Brasil, clube que não paga?

Vanderlei Luxemburgo - Muito, então quando eu vou para o clube eu falo, se a gente quiser tem que ser assim, senão não tem resultado. Fica que nem uma frase que o Vampeta falou do Flamengo: 'eles fingem que pagam e eu finjo que jogo'. Quando fui para o Flamengo, a primeira coisa que eu falei para a Patrícia (Amorim, presidente do Flamengo) era dos compromissos que ela tinha que cumprir. O problema do Ronaldinho foi mais em função do pagamento que a Traffic não pagou e o Flamengo não queria pagar. Aí deu no que deu.

Terra - O que aconteceu com o Elano, que no Santos não estava jogando bem e no Grêmio é um dos principais jogadores do time?

Vanderlei Luxemburgo - Se você não estiver feliz onde você está trabalhando a sua produção cai. O Elano não estava feliz no Santos, eu via ele saindo do campo, a torcida xingando, ele brigado com a direção e você não consegue render. Aí ele vem pro Grêmio, muda o ambiente e se torna feliz. Está feliz com a família aqui, ajeitou a vida dele. É que nem eu, por exemplo, eu saio da minha casa e venho com prazer para dar treino aqui no Grêmio. O dia que eu estiver aporrinhado e começar a sentir que eu não estou querendo acordar, que não estou querendo dar treino, são porque tem alguma coisa errada, ai já está na hora de puxar o carro.

Terra - Muitos críticos falaram que treinadores como você e o Felipão já estão superados, estão virando o fio. Você concorda que estava em uma fase descendente e aqui no Grêmio você retomou a carreira?

Vanderlei Luxemburgo - Não concordo (pausa). Sabe, é proibido você ficar experiente no Brasil, mais maduro e avançar e modernizar no treinamento, você pegar os assistentes e os deixar trabalharem, darem o treinamento e você ficar observando, sendo gestor. É proibido você ser inteligente no Brasil. Você tem que ser um coitadinho? Nada disto. Eu sou um profissional que me dedico bastante e sou uma pessoa preparada, fui me modernizando e acompanhando tudo que está acontecendo no meu meio. E nisto as pessoas começam a te rotular. No Brasil só técnico fica velho. Mas, na verdade, todo mundo fica velho. Só que eu fico velho e acabo. Eu acho isto um pouco de covardia, mas faz parte. Se você pegar os meus últimos anos, que eles acham que é de insucesso, eu só não ganhei Campeonato Brasileiro, mas fui campeão estadual em todos os clubes, mesmo no Atlético-MG, que foi o pior trabalho meu de todos os tempos. E levei todos os clubes para Libertadores, fui campeão invicto da Taça Guanabara, da Taça Rio e Carioca e fiquei um monte de tempo invicto com o Flamengo. Levei Santos campeão, Palmeiras campeão e Flamengo para Libertadores. Ué caramba, se você pegar quantos técnicos no Brasil tem os títulos que eu ganhei neste período. Os títulos que eu tenho, você vai ver que são poucos (técnicos).

Terra - Isso te incomoda?

Vanderlei Luxemburgo - Eu acho que isto aí faz parte, acho que é um pouco de direcionamento das coisas e não me incomodo, eu passo por cima, porque se eu não enfrentar isto eu estou roubado. O importante é que eu estou aqui e eu sempre fui desta forma, falam que eu estou mais feliz, mas eu sempre fui assim. O que eu faço é o seguinte, eu quero entender onde eu estou. Eu não estou mais no Rio de Janeiro, eu não vou mais à praia. E quando eu falei que eu quero me enraizar aqui é porque eu quero entender o lugar aonde eu estou feliz da vida. Então o pessoal rotula bastante a gente no futebol como se fosse proibido ficar experiente.

Terra - Mas também tem aqueles que gostariam de te ver novamente comandando a Seleção Brasileira, você projeta retornar ao comando da Seleção?

Vanderlei Luxemburgo - Não, não é uma coisa que eu esteja trabalhando para isto. Primeiro que nós técnicos no Brasil somos, entre aspas, assistentes do Mano Menezes, contribuindo com ele, ajudando a preparar bem os seus jogadores nos clubes para que eles possam ir bem para a Seleção e o Mano fazer o que acha que tem que fazer. E eu não direcionei mais a minha vida para a Seleção Brasileira, um tempo atrás sim, até o Zagallo ficou brabo comigo porque eu disse que iria ser o técnico da Seleção Brasileira e ele e Parreira estavam lá. Quando eu falo isto é porque eu tracei um objetivo na minha vida, não estava sendo sacana ou fazendo trairagem com eles, eu simplesmente queria ser o técnico da Seleção Brasileira um dia, quando o cargo estivesse vago. Em 1998 eu fui. Hoje eu sou um profissional preparado, a minha história mostra isto, para que caso eu venha a ser convidado para treinar a Seleção eu possa ir e desenvolver um trabalho tranquilamente, mas não estou direcionado para isto.Terra - O Muricy Ramalho, quando treinava o Fluminense, foi convidado e disse que tinha contrato em vigor com o clube e só iria se o Fluminense liberasse. Com você é a mesma coisa?

Vanderlei Luxemburgo - É complicado você responder sobre o que as pessoas irão falar ou que falaram. Presta bem atenção, quem toma a decisão na minha vida sou eu através de um contrato que você deixa pré- estabelecido, então eu prefiro ficar nesta situação de contrato pré-estabelecido.

Terra - No contrato com o Grêmio tem definido algo neste sentido?

Vanderlei Luxemburgo - Não, porque o meu contrato com o Grêmio acaba no final do ano. As regras do jogo estão estabelecidas em contrato e para ser bem sincero no contrato com o Grêmio não tem nenhuma cláusula em relação à Seleção Brasileira. No Corinthians também não tinha. Quando eu fui convidado, eu conversei com a direção e disse que era o meu objetivo. Acabei indo treinar a Seleção Brasileira.Terra - O Alex, que foi seu jogador no Palmeiras, no Cruzeiro e na Seleção Brasileira, acabou saindo do Fernerbahce, e já disse que te admira, que gostaria de voltar a trabalhar contigo. Você já conversou com o Alex projetando o Grêmio para 2013?

Vanderlei Luxemburgo - Olha, eu sempre digo que o Alex tem que interessar ao Grêmio e eu acho que o Grêmio tem que se interessar por um jogador como o Alex, e parou para mim aí. Como foi com o Paulo Henrique Ganso. Onde está o Ganso hoje? No São Paulo. Vocês todo o dia me perguntavam sobre o Ganso e quem ganhava os jogos para mim? Os jogadores que estão aqui. Então isto tudo é discussão, faz parte e eu tenho que saber aquilo que eu posso fazer. O Alex é um jogador que tem que interessar ao Grêmio e não ao Luxemburgo. Agora o que vai acontecer para frente é muito complicado, eu quero é que o meu elenco jogue e ganhe os jogos. O que vai acontecer para frente ai é outra história.

Terra - Você sempre deixou claro que o objetivo neste ano é a vaga para Libertadores, mas o Grêmio ainda tem chances reais de título no Brasileiro.

Vanderlei Luxemburgo - Esta é uma das coisas que o pessoal fala que o Luxemburgo abdicou do título. Pô, eu quero é ganhar cara, está apontado para o céu, mas de vez em quando falha né cara...(risos).

Vanderlei Luxemburgo reclamou que "é proibido ser inteligente no Brasil"
Vanderlei Luxemburgo reclamou que "é proibido ser inteligente no Brasil"
Foto: Ricardo Rimoli / Agência Lance
Fonte: Cristiano Leonardo S. da Silva Jornalismo - Especial para o Terra Cristiano Leonardo S. da Silva Jornalismo - Especial para o Terra
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