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Copa do Brasil

Valdivia supera drama, decide e vai à loucura sem camisa na chuva

21 jun 2012 - 23h06
(atualizado em 22/6/2012 às 09h32)
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Allan Farina
Diego Garcia
Direto de Barueri

Decorriam 14 minutos do segundo tempo quando o técnico Luiz Felipe Scolari chamou Valdivia para entrar em um nervoso jogo contra o Grêmio nesta quinta-feira, pela semifinal da Copa do Brasil, em uma Arena Barueri debaixo de chuva forte. A expectativa decaiu em cima do meia chileno, que ainda não havia atuado desde o drama do sequestro relâmpago sofrido há duas semanas. Mas o jogador não quis saber: fez gol, empatou o duelo por 1 a 1, selou a classificação, tirou a camisa e levou a torcida à loucura.

Eram exatos 27min do segundo tempo quando Valdivia puxou contra-ataque para a equipe alviverde. Em bela triangulação com Mazinho e Juninho, o chileno puxou a bola até o campo de ataque, correu pelo meio e recebeu passe de volta para acertar uma bela conclusão, que morreu de mansinho na meta gremista. Era o gol de empate do Palmeiras, que classificava a equipe a uma decisão de Copa do Brasil após 14 anos.

O gol veio também para Valdivia selar de vez a paz com o Palmeiras. O meia havia sofrido um sequestro relâmpago em 7 de junho. Enquanto passeava com a mulher na Avenida Sumaré, zona oeste da capital, o chileno foi abordado por um homem que o manteve de refém no próprio veículo por cerca de duas horas antes de levar R$ 1 mil e outros bens.

Após o incidente, Valdivia retornou a Santiago e deu entrevistas a veículos locais dizendo que não sabia se retornaria ao Palmeiras, principalmente porque a mulher não desejava mais viver em São Paulo por medo da violência. Recebeu até acusações camufladas de palmeirenses, que diziam que o jogador queria apenas forçar uma saída do Palestra Itália. O Colo Colo se mostrou interessado, mas o atleta acabou ficando no Palmeiras.

Chateado pelo ocorrido, o meia retornou aos gramados pela primeira vez desde o drama nesta quinta. Em uma semifinal nervosa, decidiu com um belo gol e levou os 27 mil palmeirenses ao delírio na Arena Barueri. Após o tento, Valdivia tirou a camisa, abraçou o técnico Felipão - quase o derrubando na grama, inclusive - e saiu rodando o uniforme alviverde, deixando em êxtase os adeptos presentes. Recebeu o amarelo, mas nem ligou: seguiu celebrando.

Valdivia ainda enfiou uma bola na trave antes que o árbitro encerrasse uma partida truncada, que rendeu brigas, socos trocados e expulsões de ambos os lados. Foi um dia para selar a paz entre o ídolo e os fãs, que entoaram em coro o nome do xodó. O tento do chileno, aliás, levou o Palmeiras a uma decisão de Copa do Brasil após 14 anos de ausência. Que venha, agora, a grande final.

Entenda o caso:

Jorge Valdivia foi vítima de um sequestro relâmpago na noite da quinta-feira, dia 7 de junho, na Avenida Sumaré, na zona Oeste de São Paulo. O jogador foi rendido um homem armado e ficou durante quase três horas como refém até ser libertado na frente da Academia de Futebol, na Avenida Marquês de São Vicente. O chileno não sofreu ferimentos e teve R$ 1 mil roubados (máximo permitido para saques em caixas eletrônicos no horário).

No momento do sequestro, Valdivia estava acompanhado da mulher, Daniela Aránguiz, que ficou impressionada com o acontecimento e pediu para retornar ao Chile. O camisa 10 foi dispensado da partida de sábado (dia 9) contra o Atlético-MG, no Estádio do Pacaembu, e autorizado a viajar a Santiago na manhã da sexta. O meio-campista havia dito que se reapresentaria na segunda (11).

Em entrevista à emissora chilena TVN, porém, Daniela disse que havia sofrido uma tentativa de agressão sexual dos sequestradores e frisou que não regressaria a São Paulo. "Quando ficamos sozinhos, ele (sequestrador) tentou me tocar. Eu não posso voltar ao Brasil. Tínhamos uma vida, compramos um apartamento, mas eu e meus filhos não vamos voltar", assegurou.

Ciente dos problemas, o Palmeiras admitiu alongar o prazo para que Valdivia se reapresentasse. Gerente de futebol da equipe alviverde, César Sampaio declarou que o meia estava "bem abalado" com o ocorrido e que era necessário "respeitar o lado humano e dar o apoio necessário". O dirigente afirmou que o camisa 10 deveria retornar "quando estivesse bem" e "com a cabeça no clube".

Valdivia, aliás, não se reapresentou na data inicialmente marcada e faltou ao treinamento realizado na manhã de 11 de junho. O meia, porém, embarcou na companhia do pai (e sem a mulher) em Santiago a caminho do Brasil para se reapresentar ao Palmeiras. Contudo, o volante Claudio Valdivia, irmão mais novo do palmeirense, informou que o atleta está disposto a deixar o Palestra Itália.

"A ideia é voltar ao Brasil para conversar com os dirigentes e chegar a um acordo. O Jorge não está bem e viajará nosso pai com ele, para que veja o assunto do contrato. Talvez seja possível ver uma cláusula para deixar (o Palmeiras) e jogar em outro país. Ele quer estar com a família e não conseguirá isso lá (no Brasil)", disse Claudio Valdivia, que chegou a defender o Palmeiras B durante a primeira passagem do chileno pelo clube.

Na quinta (14), Valdivia deu entrevista na Academia de Futebol do Palmeiras e relatou o caso de sequestro aos jornalistas. O chileno admitiu que sofreu ameaças de morte durante o período em que esteve com o criminoso e que ficou abalado por vários dias. Durante a entrevista, inclusive, o camisa 10 não garantiu permanência no clube do Palestra Itália.

No dia seguinte, entretanto, Valdivia voltou a treinar com o restante para o Campeonato Brasileiro. Após a movimentação, o chileno, os representantes e a diretoria alviverde se reuniram e definiram que ele permanecerá no Palmeiras, ao menos, até o final da participação do time na Copa do Brasil.

Valdivia voltou ao Palmeiras duas semanas após ter sofrido um sequestro relâmpago em SP
Valdivia voltou ao Palmeiras duas semanas após ter sofrido um sequestro relâmpago em SP
Foto: Léo Pinheiro / Terra
Fonte: Terra
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