Valdivia supera drama, decide e vai à loucura sem camisa na chuva
- Allan Farina
- Diego Garcia
- Direto de Barueri
Decorriam 14 minutos do segundo tempo quando o técnico Luiz Felipe Scolari chamou Valdivia para entrar em um nervoso jogo contra o Grêmio nesta quinta-feira, pela semifinal da Copa do Brasil, em uma Arena Barueri debaixo de chuva forte. A expectativa decaiu em cima do meia chileno, que ainda não havia atuado desde o drama do sequestro relâmpago sofrido há duas semanas. Mas o jogador não quis saber: fez gol, empatou o duelo por 1 a 1, selou a classificação, tirou a camisa e levou a torcida à loucura.
Eram exatos 27min do segundo tempo quando Valdivia puxou contra-ataque para a equipe alviverde. Em bela triangulação com Mazinho e Juninho, o chileno puxou a bola até o campo de ataque, correu pelo meio e recebeu passe de volta para acertar uma bela conclusão, que morreu de mansinho na meta gremista. Era o gol de empate do Palmeiras, que classificava a equipe a uma decisão de Copa do Brasil após 14 anos.
O gol veio também para Valdivia selar de vez a paz com o Palmeiras. O meia havia sofrido um sequestro relâmpago em 7 de junho. Enquanto passeava com a mulher na Avenida Sumaré, zona oeste da capital, o chileno foi abordado por um homem que o manteve de refém no próprio veículo por cerca de duas horas antes de levar R$ 1 mil e outros bens.
Após o incidente, Valdivia retornou a Santiago e deu entrevistas a veículos locais dizendo que não sabia se retornaria ao Palmeiras, principalmente porque a mulher não desejava mais viver em São Paulo por medo da violência. Recebeu até acusações camufladas de palmeirenses, que diziam que o jogador queria apenas forçar uma saída do Palestra Itália. O Colo Colo se mostrou interessado, mas o atleta acabou ficando no Palmeiras.
Chateado pelo ocorrido, o meia retornou aos gramados pela primeira vez desde o drama nesta quinta. Em uma semifinal nervosa, decidiu com um belo gol e levou os 27 mil palmeirenses ao delírio na Arena Barueri. Após o tento, Valdivia tirou a camisa, abraçou o técnico Felipão - quase o derrubando na grama, inclusive - e saiu rodando o uniforme alviverde, deixando em êxtase os adeptos presentes. Recebeu o amarelo, mas nem ligou: seguiu celebrando.
Valdivia ainda enfiou uma bola na trave antes que o árbitro encerrasse uma partida truncada, que rendeu brigas, socos trocados e expulsões de ambos os lados. Foi um dia para selar a paz entre o ídolo e os fãs, que entoaram em coro o nome do xodó. O tento do chileno, aliás, levou o Palmeiras a uma decisão de Copa do Brasil após 14 anos de ausência. Que venha, agora, a grande final.
Entenda o caso:
Jorge Valdivia foi vítima de um sequestro relâmpago na noite da quinta-feira, dia 7 de junho, na Avenida Sumaré, na zona Oeste de São Paulo. O jogador foi rendido um homem armado e ficou durante quase três horas como refém até ser libertado na frente da Academia de Futebol, na Avenida Marquês de São Vicente. O chileno não sofreu ferimentos e teve R$ 1 mil roubados (máximo permitido para saques em caixas eletrônicos no horário).
No momento do sequestro, Valdivia estava acompanhado da mulher, Daniela Aránguiz, que ficou impressionada com o acontecimento e pediu para retornar ao Chile. O camisa 10 foi dispensado da partida de sábado (dia 9) contra o Atlético-MG, no Estádio do Pacaembu, e autorizado a viajar a Santiago na manhã da sexta. O meio-campista havia dito que se reapresentaria na segunda (11).
Em entrevista à emissora chilena TVN, porém, Daniela disse que havia sofrido uma tentativa de agressão sexual dos sequestradores e frisou que não regressaria a São Paulo. "Quando ficamos sozinhos, ele (sequestrador) tentou me tocar. Eu não posso voltar ao Brasil. Tínhamos uma vida, compramos um apartamento, mas eu e meus filhos não vamos voltar", assegurou.
Ciente dos problemas, o Palmeiras admitiu alongar o prazo para que Valdivia se reapresentasse. Gerente de futebol da equipe alviverde, César Sampaio declarou que o meia estava "bem abalado" com o ocorrido e que era necessário "respeitar o lado humano e dar o apoio necessário". O dirigente afirmou que o camisa 10 deveria retornar "quando estivesse bem" e "com a cabeça no clube".
Valdivia, aliás, não se reapresentou na data inicialmente marcada e faltou ao treinamento realizado na manhã de 11 de junho. O meia, porém, embarcou na companhia do pai (e sem a mulher) em Santiago a caminho do Brasil para se reapresentar ao Palmeiras. Contudo, o volante Claudio Valdivia, irmão mais novo do palmeirense, informou que o atleta está disposto a deixar o Palestra Itália.
"A ideia é voltar ao Brasil para conversar com os dirigentes e chegar a um acordo. O Jorge não está bem e viajará nosso pai com ele, para que veja o assunto do contrato. Talvez seja possível ver uma cláusula para deixar (o Palmeiras) e jogar em outro país. Ele quer estar com a família e não conseguirá isso lá (no Brasil)", disse Claudio Valdivia, que chegou a defender o Palmeiras B durante a primeira passagem do chileno pelo clube.
Na quinta (14), Valdivia deu entrevista na Academia de Futebol do Palmeiras e relatou o caso de sequestro aos jornalistas. O chileno admitiu que sofreu ameaças de morte durante o período em que esteve com o criminoso e que ficou abalado por vários dias. Durante a entrevista, inclusive, o camisa 10 não garantiu permanência no clube do Palestra Itália.
No dia seguinte, entretanto, Valdivia voltou a treinar com o restante para o Campeonato Brasileiro. Após a movimentação, o chileno, os representantes e a diretoria alviverde se reuniram e definiram que ele permanecerá no Palmeiras, ao menos, até o final da participação do time na Copa do Brasil.