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Traffic não põe revólver no peito de ninguém, diz presidente

16 dez 2009 - 17h05
(atualizado às 17h32)
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Qual é o clube brasileiro que tem direitos federativos de mais de 70 jogadores, incluindo nomes consagrados como Elias, Hernanes, Diego Souza e Conca, revelações como Fernandinho e Giuliano ou promessas como Alan e Pedro Ken? Qual o clube brasileiro que lucra mais de 30% ao ano e tem uma equipe de 15 profissionais só para mapear talentos? Provavelmente, nenhum. A Traffic tem tudo isso e muito mais.

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Hoje o fundo de investimentos mais poderoso do futebol brasileiro, a Traffic foi uma empresa criada para a negociação de placas de publicidade na década passada e entrou de cabeça na compra de atletas em 2007. Desde então, construiu um verdadeiro império e teve jogadores em pelo menos metade dos clubes que jogaram a última Série A.

À frente do fundo está Julio Mariz, chefe executivo no filão do mercado de transferências. O Terra visitou a luxuosa sede da Traffic em São Paulo e conversou em caráter de exclusividade com o dirigente. Na entrevista, ele conta detalhes sobre o modelo de negócios, margem de lucro e carteira de atletas contratados, entre muitos outros temas.

A entrevista faz parte de série de reportagens especiais publicadas pelo Terra entre terça e sexta-feira. Traçamos um raio-x de como os fundos de investimentos se estruturaram e tomaram conta da movimentação dos atletas - leia programação no rodapé.

Confira a entrevista na íntegra:

Terra - Costuma se dizer que a Traffic se aproveita da fragilidade dos clubes. Você concorda?

Julio - Não colocamos revólver no peito do clube e nem faca para o vender o jogador. Eles aceitam porque chegamos no valor interessante ou porque têm necessidade de caixa. E os bancos e outras organizações que trabalham em torno do futebol e também visam lucro, não são criticadas? Existe um ambiente de negócio e todos os players desse ambiente têm a sua função. A nossa é super importante e precisa ser respeitada. Terra - O Palmeiras está preparado para viver sem a Traffic?

Julio - Está preparado para viver sem a Traffic e sem outro tipo de investidor, mas precisa acelerar isso um pouco. Acho que no futuro, a forma correta é não termos 10 jogadores no Palmeiras. Mas só três ou quatro.

Terra - Como se dão as parcerias com Botafogo e Fluminense?

Julio - Totalmente diferente do Palmeiras, quando a gente tem tudo muito discutido para a temporada. No Botafogo, apresentamos nosso fundo de investimentos para fazerem o mesmo modelo. Eles têm um grupo que investiu dinheiro para compra de jogadores.

No Fluminense, nós temos direitos econômicos de alguns jogadores. No início, ensaiamos uma parceria maior, mas já há algo consolidado com a Unimed e achamos que, junto, isso poderia dar um duplo comando.

Terra - Se comenta de um ciúme da Unimed pela presença da Traffic no clube. Houve isso?

Julio - Os objetivos são distintos. A Unimed é um seguro de saúde, é patrocinadora e os jogadores que contrata têm um perfil diferente do que contrataríamos. São nomes de qualidade também, mas a Unimed não se importa se tem 30 anos. Nossos jogadores são de até 24 anos e com grande potencial mercadológico. Se fosse igual, poderia haver conflito. Acho até que poderiam ser complementares, mas infelizmente não deu certo.

Terra - A Traffic ajudava a pagar o salário do Luxemburgo no Palmeiras?

Julio - Nunca pagamos salário. O que nós fizemos com ele foi discutir a montagem do elenco e vários jogadores chegaram com o aval dele, o que é normal: Diego Souza, Cleiton Xavier, Keirrison, Henrique, Jumar, Jefferson, Fabinho Capixaba. Terra - O acerto com o Cruzeiro indica que a Traffic aumentou seu investimento?

Julio - Todo final de ano no futebol brasileiro tem a dança das cadeiras, tem essa mexida. Às vezes, um que é reserva do Palmeiras pode ser titular do Cruzeiro por questão de posição. Mas claro que pode ter aquisição para o Cruzeiro.

Terra - A pobreza dos clubes brasileiros ajuda?

Julio - Não. Seria até melhor se em vez de investirmos em 70% do jogador, isso fosse de 30%. Sempre é bom para o clube ter um parceiro, no meu entender. Se posso comprar dois jogadores por cinco, melhor é comprar três jogadores por cinco e dar um pedaço de cada um ao parceiro. A chance de eu ganhar títulos é muito maior.

Terra - Hoje em dia, empresários como Carlos Leite, Eduardo Uram e Juan Figger, por exemplo, usam suas carteiras de atletas para reforçar os clubes. É um trabalho igual ao da Traffic?

Julio - Eles são importantes, mas quero diferenciar a Traffic. São quase 30 anos de futebol, é uma empresa detendora de direitos de vários torneios, investimos muito. Nossa envergadura é diferente. É uma comparação difícil de ser feita.

Terra - Mas eles também têm o poder de levar os jogadores para os clubes, como faz a Traffic. Você concorda?

Julio - Sim, concordo. Eles são muito importantes. O Carlos Leite foi fundamental no Corinthians e no Vasco.

Terra - Conte um pouco da sua história até chegar na Traffic.

Julio Mariz - Antes de chegar aqui, eu era o presidente da Traffic nos Estados Unidos. É uma grande empresa, mas comparando com a do Brasil, é pequena. Chamo de mini Traffic. Na época, o Hawilla (Jota, proprietário) me convidou e eu era diretor da Globo Esporte e trabalhava direto com o Marcelo Campos Pinto. Também fui presidente do Mundial de Clubes em 2000. Aqui já estou há quase sete anos.

Terra - A Lei Pelé ajudou a Traffic para entrar de cabeça nos investimentos em futebol?

Julio - Ela criou esse estatuto do contrato e acabou com o passe. Possibilitou outros investidores, o mundo inteiro tem isso. Há destaque na Traffic pelo volume de investimentos que chegou e o número de jogadores no portfólio.

Terra - Quantos jogadores profissionais?

Julio - Já são cerca de 70 jogadores, além do Desportivo Brasil que tem atletas de 20 e 21 anos, disputando a Segunda Divisão do Paulista.

Terra - Há um grande volume de dinheiro investido. Como evitar prejuízos?

Julio - Um contrato mau feito é um risco. Temos um departamento legal e fazemos um contrato justo, de muita qualidade, que impede que a gente tenha rescisão pelo atleta ou pelo clube parceiro. Outro risco é lesão, mas você vai por estatística.

E também a performance que é subjetiva, mas tentamos objetivar. Temos área de observação com 15 pessoas e só fazemos uma contratação depois de muita observação. Não é só olhar a parte técnica, mas também fora de campo. O risco de perder jogador por queda de nível técnico é bem pequena.

Terra - Qual tem sido o lucro da Traffic?

Julio - A taxa de retorno é entre 25% e 30%. Por ser um negócio de risco, a empresa precisa de uma taxa de retorno agressiva. Temos tido acima de 30% ao ano.

Terra - O meio do futebol é muito conservador com quem entra por esporte para lucrar financeiramente?

Julio - Por isso que te dou essa entrevista, para esclarecer. Quanto mais tivermos contato, melhor. Se a Traffic tem oportunidade de falar com o público e esclarecer, é melhor. Somos um negócio como qualquer outro, colocamos nosso capital, arriscamos, e queremos um resultado.

Ainda nesta semana:

Histórico: as parcerias dos clubes brasileiros

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Fonte: Redação Terra
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