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Carrasco do Palmeiras revela calote em mala branca do Inter

5 dez 2014 - 09h20
(atualizado às 10h29)
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<p>Andr&eacute; Neles na &eacute;poca de Andr&eacute; &quot;Balada&quot;</p>
André Neles na época de André "Balada"
Foto: Gazeta Press

Hoje concorrente direto do Palmeiras na disputa pela permanência na Série A do Campeonato Brasileiro, o Vitória ouviu a promessa de que seria financeiramente recompensado se colaborasse com o rebaixamento do adversário em 2002. A revelação da popular "mala branca" foi feita pelo atacante André Neles, conhecido como André "Balada" na época de jogador.

Mesmo na reserva do Vitória na ocasião, André foi decisivo para a primeira queda de divisão da história do Palmeiras. Foi dele o último gol sofrido pela equipe de Levir Culpi na temporada, decretando o triunfo por 4 a 3 no Barradão. Doze anos depois, o atacante já fala abertamente sobre a mala branca que moveu o seu time naquele 17 de novembro e aponta um envolvido - segundo ele, o Internacional fez uma proposta por telefone - e até acha graça por jamais ter recebido a quantia acordada.

Curiosamente, após deixar o Vitória, André passou justo por Inter e Palmeiras em 2003. Ganhou fama de "André Balada" em São Paulo e não conseguiu se firmar em um ataque que tinha Vágner Love e Edmílson como titulares. Para ele, a culpa foi de uma briga entre o técnico Jair Picerni e a diretoria palmeirense.

Aos 36 anos, André Neles diz ter encontrado a salvação para os seus problemas através da religião. Virou cantor gospel e, após defender o Operário, estuda convites do Icasa e de um time da Série A2 do Campeonato Paulista para continuar em atividade no futebol. Ao mesmo tempo em que torce para o Palmeiras se vingar do Vitória no Campeonato Brasileiro de 2014 - embora já considere "rotina" as frustrações da torcida que ajudou a entristecer no passado.

Você estava em campo quando o Palmeiras foi rebaixado pela primeira vez, em 2002, e até marcou um gol pelo Vitória. O que se lembra daquela partida?

André Neles: Foi um jogo tenso. O Vitória estava bem no campeonato e poderia ficar entre os oito melhores com uma combinação de resultados. Entramos determinados a vencer. Já o Palmeiras estava nervoso, não conseguiu fazer um bom jogo. Acabamos ganhando, e eu tive a felicidade de marcar o quarto gol. Saiu de uma grande jogada do Zé Roberto, que entrou na área, driblou dois zagueiros e chutou. O Sérgio rebateu, e a bola caiu no meu pé. Só tive o trabalho de empurrar para dentro. Isso praticamente rebaixou o Palmeiras.

Junto com o Botafogo, que voltou a cair em 2014, o Palmeiras foi o primeiro grande clube do eixo Rio-São Paulo a ser rebaixado. Foi uma situação que mexeu com vocês?

André Neles: Não estávamos nem pensando tanto no Palmeiras ali, até porque tínhamos chances matemáticas de classificação. Ficamos em nono lugar (em décimo, na verdade). Pensávamos mais em nós mesmos. Mas é claro que houve um pouco de tristeza pelo Palmeiras, um grande clube, de história, que representa muita coisa. Um time da grandeza do Palmeiras cair é algo ruim para o futebol brasileiro.

Fala-se muito em mala branca no Campeonato Brasileiro. Embora vocês tivessem possibilidade de classificação, houve esse tipo de incentivo financeiro para rebaixar o Palmeiras?

André Neles: Naquela época, houve, sim. Vários clubes ligaram para a gente, oferecendo a mala branca para vencer o jogo. Mas também não pagaram. Então, não adiantou nada (risos).

Ninguém pagou?

André Neles: Não. Ninguém arcou com o combinado.

Quais foram os clubes que ofereceram dinheiro para o Vitória?

André Neles: O Inter foi um deles. Ofereceu um dinheiro e não mandou. A gente ganhou também porque o Inter precisava do resultado, estava para cair. Foi um dos clubes que entraram em contato e fizeram a oferta. Mas ninguém pagou. Futebol é assim: a mala branca é oferecida às vezes, mas acaba não aparecendo.

(O Internacional terminou o Campeonato Brasileiro de 2002 na 21ª colocação, com só dois pontos de vantagem para o Palmeiras.)

Como a proposta da mala branca é feita de maneira sigilosa, imagino que seja difícil para vocês cobrarem.

André Neles: Não tem como porque é um telefonema, né? Você até tenta cobrar depois, vai atrás de quem prometeu. Mas aí é a palavra de quem prometeu e não vai pagar contra a sua. Fica aquele jogo de empurra, e não sai nada.

Como funciona a oferta?

André Neles: A pessoa te liga e fala: olha, tenho tanto para você ganhar o jogo amanhã. Ganhando, a gente leva o seu dinheiro depois do jogo. Aí, você ganha, mas o dinheiro não vem.

Já te pagaram algum prêmio de mala branca ao longo da carreira?

André Neles: Já me ofereceram várias vezes. Mas, receber mesmo, nunca recebi. Jamais chegaram a pagar (risos). Mesmo assim, é uma coisa feita mais para te motivar.

E dá certo?

André Neles: Nem precisa disso. O jogador já está muito focado em partidas assim, então nem pensa nessa ajuda. Dinheiro é bom, né? Mas acaba sendo algo imprevisível, que pode não chegar. Você nem fica esperando muito.

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Como foi defender o Palmeiras logo um ano depois de colaborar com aquele rebaixamento?

André Neles: Participei da campanha do Palmeiras na Série B. Foi algo muito bom. Cheguei ao clube em meio a um clima conturbado. Parece que o Jair Picerni não tinha pedido a minha contratação. Ele brigou com o diretor (Fernando Gonçalves), e essa pessoa caiu. Então, eu sabia que não jogaria, que não seria aproveitado. Mas mantive o profissionalismo e cumpri o meu contrato até o final. Depois, segui a minha carreira. Mesmo assim, foi muito bom ter a oportunidade de defender o clube em que teoricamente marquei o gol que o rebaixou. Foi gratificante.

Você ficou frustrado por não ter recebido mais oportunidades no Palmeiras?

André Neles: Isso me frustrou um pouco, sim. Esperava ter jogado mais, mas praticamente não fui aproveitado . O Jair Picerni não me deixou jogar por causa de briga interna com a diretoria, não sei bem. Mas fiquei no meio do fogo cruzado. Só que fui profissional e não pedi para ir embora em momento algum. Fiquei seis meses lá e poderia ter ficado mais um ano, mas tinha contrato com o Benfica na época, que não liberou. Aconteceu o que tinha que acontecer.

Hoje, por causa dessa passagem rápida pelo Palmeiras, você torce para que o clube permaneça na Série A ou caia novamente para a segunda divisão?

André Neles: Estou torcendo pelo Dorival Júnior. É um treinador com quem trabalhei em duas oportunidades, primeiro no Figueirense e depois no Fortaleza, para onde ele me levou em 2005. É uma pessoa sensacional, um técnico muito bom. Acho que não merece isso na carreira dele. Ele pegou o Palmeiras mal, mas torço para que vença na última rodada e escape da queda.

Se o Palmeiras escapar, desta vez será o Vitória o time rebaixado para a Série B.

André Neles: O Vitória não tem jeito, né? Fez um ano ruim, com má administração, com trocas de diretoria e de treinadores. Quando o planejamento é assim, você automaticamente cai. Isso vale para o Bahia também. Eles não se programaram bem para esse ano.

E o Palmeiras?

André Neles: O Palmeiras tentou correr atrás. Perdeu o Alan Kardec, mas foi buscar alguns jogadores. Foi atrás do Dorival. Teve uma ressurgida até. Não está bem, é verdade, mas me parece mais organizado do que Vitória e Bahia. Torço mais pelo Palmeiras do que pelo Vitória, por sua desorganização neste ano.

Está otimista com as possibilidades de o Palmeiras se safar no domingo, então?

André Neles: Você sabe que, em se tratando de Palmeiras, tudo pode acontecer, né? Já vi o Palmeiras perder vários jogos em casa, muita coisa ruim acontecer. Espero que não se repita o de sempre: na hora final, quando precisa, o Palmeiras vai lá e perde em casa, frustra a sua torcida e acaba caindo, mesmo estando com a vantagem na tabela. Tomara que esse capítulo seja diferente dos anteriores.

Você acha que a história está repetitiva?

André Neles: Vira uma rotina. O torcedor do Palmeiras sabe que o seu time vai perder, que ele vai sofrer, mas vai para o jogo. É preciso fugir um pouco disso. Espero que agora o Palmeiras possa jogar bem e vencer.

Doze anos após aquele jogo com o Vitória, o Palmeiras está novamente lutando contra o rebaixamento. E você, como anda? Vai continuar no Operário?

André Neles: Estou jogando ainda. Pretendo continuar por mais uns dois, no máximo três anos. Até porque tenho condição física: não bebo, não fumo, não vou para a balada, nada. Por isso, tenho o corpo inteiro, sem lesão, sem problema muscular. Fisicamente, estou muito bem.

A religião te ajudou nessa nova fase da sua vida. Você segue como cantor gospel?

André Neles: Continuo cantando. Vou lançar um CD agora, em janeiro. Estou conciliando as duas coisas. Vinha jogando pelo Operário, e o meu contrato acabou. A gente está discutindo uma renovação, mas creio que não permanecerei mais lá.

Vai para onde? Gostaria de retornar ao futebol paulista?

André Neles: São Paulo é bom porque dá uma visibilidade maior. Mas estou em contato com o pessoal do Nordeste também. Tenho duas situações para analisar, uma de um clube da Série A2 do Campeonato Paulista e outra para disputar o Campeonato Cearense. Vou ver qual é a melhor opção e acertar.

A proposta do Ceará é do Icasa?

André Neles: Isso. Já fizeram contato comigo. O Icasa caiu para a Série C, o que não deveria ter acontecido, mas, enfim... Vamos ver se a gente consegue fazer um bom ano para o time subir de novo, até porque participei da campanha do acesso para a Série B em 2012. É um clube que sempre me procura. O presidente é meu amigo, e tenho um carinho especial por eles. Ainda vou decidir se vale a pena voltar para lá ou ir para São Paulo, que dá uma visibilidade maior, mesmos sendo na A2.

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