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Com 100 anos de vida, Inter prova ser o "clube do povo"

3 abr 2009 - 16h08
(atualizado às 20h25)
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Relatos dão conta de que Henrique Poppe nasceu em Niterói e se radicou rapidamente em São Paulo. Mas foi em Porto Alegre que, o homem que fundaria o Sport Club Internacional em 1909, com José Poppe e Luís Poppe, escreveu as páginas mais memoráveis de sua história. Foi por sua persistência e iniciativa que surgiu o Inter, cujo hino e especialmente trajetória apontariam para o rótulo de "clube do povo".

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Nesta sexta-feira, no quarto especial da série de reportagens sobre os 100 anos do Inter, o Terra reescreve a história de uma das mais vitoriosas e marcantes instituições do futebol brasileiro. Um longo caminho marcado pela conquista de praticamente todos os títulos possíveis, de ícones dentro de campo, por uma das rivalidades mais acirradas do mundo e, ainda, pela relação especial com a gigante comunidade de torcedores colorados.

Nasce o clube do povo

Desde o início, a história colorada está ligada ao arqui-rival Grêmio. Os jovens irmãos Poppe vieram de São Paulo para Porto Alegre e sentiram a necessidade de praticar esportes, em especial o futebol. Procuraram a sede gremista, mas, por não serem conhecidos e, sobretudo, membros da comunidade italiana, não foram aceitos. O que se repetiu em mais tentativas fracassadas com outras agremiações.

Empreendedores, os Poppe então decidiram fundar seu próprio clube e informaram à imprensa: "Há dias, noticiamos que um grupo de jovens empregados no commercio e residentes no 2º districto, havia formado uma sociedade para o cultivo do foot ball. A nova agremiação, que conta já com regular número de sócios, denomina-se Sport Club Internacional. Almejamos vida longa e perenes felicidades", anunciou o Correio do Povo .

A origem do nome, apesar de adotado pouco mais de um ano após a fundação da Inter de Milão, é outra. Sport Club Internacional era justamente o clube paulistano no qual os irmãos Poppe haviam estado em São Paulo. Foi natural que se fizesse a escolha, sobretudo por membros da comunidade estrangeira. Ficava claro o objetivo de uma instituição aberta a todos: democrática e sem preconceitos.

Desafiar o já estruturado Grêmio para um confronto foi prova da coragem do Internacional, que se negou a enfrentar um combinado de reservas e quis medir forças com o rival em 100%. O incrível placar de 10 a 0 dá mostras do quão avançados já estavam os gremistas em relação aos ainda incipientes colorados, que entenderam o recado e passaram a construir sua própria história.

Com menos de quatro anos de vida, o Internacional já deu mostras de que seria vitorioso. Em 1913, aproveitou-se do abandono do rival Grêmio, insatisfeito com a arbitragem, para vencer o seu primeiro título, o Campeonato Metropolitano. Nos quatro anos seguintes, repetiu a dose, incluindo a camisa vermelha entre as mais poderosas do Estado.

Já a partir da década seguinte, em uma época em que aceitar jogadores negros era um grande tabu, o Internacional se mostrou pioneiro. Em 1925, o defensor Dirceu Alves foi o primeiro negro a vestir a camisa vermelha. Dois anos depois, o Inter conquistou seu primeiro Campeonato Gaúcho, batendo o Bagé na decisão. Estava, definitivamente, estabelecida uma potência no Rio Grande do Sul e, também, a instituição que podia ser chamada de clube do povo.

Dos Eucaliptos ao Beira-Rio

Com a inauguração do Estádio dos Eucaliptos em 1931, o Inter deu uma casa aos seus torcedores e jogadores, mas demorou a engrenar e viu o cenário local ficar aberto para outros concorrentes. Com a chegada de Hoche de Almeida Barros à presidência em 40, estava pronto o campo para o mais assombroso esquadrão que o Sul do Brasil conheceu na primeira metade do último século.

O Rolo Compressor venceu oito de nove títulos estaduais da década de 40, colocando jogadores como Nena, Russinho, Carlitos e especialmente Tesourinha, nome marcante do futebol brasileiro àquele momento, na vida do Inter. A história seguiu pendendo para o lado vermelho do Rio Grande do Sul em 50, com o treinador Teté montando uma equipe quase tão boa quanto à anterior. Surgia o Rolinho, ou Máquina do Teté, que venceu mais cinco dos seis Gaúchos consecutivos. Era o time de Paulinho, Salvador, Oreco, Bodinho e Larry, entre outros.

A continuidade das duas equipes se deve também ao ambiente sadio e familiar que já habitava o cotidiano colorado. Diversas propostas valiosas de clubes paulistas e cariocas chegaram aos jogadores do Internacional, que só puderam construir a história graças à permanência no Rio Grande do Sul.

A comunidade de torcedores colorados se fez presente quando o Estádio dos Eucaliptos, a partir de 1947, ganhou arquibancadas de concreto, recebendo inclusive dois jogos da Copa do Mundo de 1950. Depois disso, o Inter se planejara para ter uma casa ainda mais significativa e o Gigante da Beira-Rio foi sendo planejado às margens do Rio Guaíba.

A década de 60, dominada pelos gremistas, terminou com o Beira-Rio sendo concluído e inaugurado, em 1969, com sete anos de jejum sendo finalizados. Duas temporadas antes, o Inter já dava sinais de que se preparava para tempos gloriosos: em 67, veio até São Paulo, venceu o Corinthians por 1 a 0 e se transformou no primeiro gaúcho a triunfar em terrenos paulistas. No que seria o esboço do Campeonato Brasileiro, foi vice-campeão do Robertão. E quando a casa já estava pronta, se desenhava um timaço a caminho.

O maior do Brasil e a queda

Já a partir de 67 e até 74, o Inter havia se mantido sempre entre os cinco primeiros colocados no Robertão e, a partir de 71, no Campeonato Brasileiro. Depois de sete anos espreitando conquistas, chegava a hora de mostrar ao Brasil que havia um novo campeão. Rubens Minelli chegou para dar mais peso a um time que já tinha grandes figuras como Caçapava, Falcão, Figueroa, Carpegiani e Valdomiro.

Embora 2006 seja a temporada que deu os títulos mais expressivos ao Inter, os esquadrões da década de 70 são os mais marcantes da camisa vermelha. O bicampeonato em 76, com o melhor aproveitamento da história do torneio, ainda foi seguido pelo título invicto em 79, com Ênio Andrade no comando e algumas alterações em relação ao time anterior. Entre 69 e 75, foram ainda sete títulos gaúchos consecutivos.

Apesar do vice-campeonato da Libertadores no início dos anos 80, a década seguinte significou um recesso de glórias na vida centenária do Inter, especialmente a partir de 1984, quando viu interrompida uma seqüência de quatro títulos gaúchos.

O Grêmio roubava a cena com o título da Libertadores, do Mundial Interclubes e ainda com um hexacampeonato gaúcho. Estava indicado que o Inter precisava se reciclar para formar outro time forte, capaz de medir forças.

Entre 88, com a vitória no Gre-Nal do Século no Brasileiro e o vice-campeonato nacional, a ida às semifinais da Libertadores em 89, e o título da Copa do Brasil em 92, o Inter flertou com o retorno aos holofotes, mas não conseguiu engatar a quinta marcha. O Grêmio novamente estava em evidência, com as fortes e vitoriosas equipes forjadas por Luiz Felipe Scolari.

Com times frágeis, pouco orçamento e as contas em frangalhos, o Inter passou a conviver com o rebaixamento no Campeonato Brasileiro, o que por pouco não aconteceu em 1999 e 2002, quando só se salvou nos instantes finais. Mas, ao contrário de clubes que precisam da queda para se reorganizar, os colorados mudaram da água para o vinho já em 2003 e sem deixar a elite.

As coisas em seu devido lugar

Já em contagem regressiva para o centenário, o Inter voltou a se fazer respeitado. A gestão de Fernando Carvalho superou a ameaça de rebaixamento e começou a trabalhar de maneira diferente. Foi criada a meta de vender pelo menos um bom jogador por ano e incentivar as categorias de base, fazendo surgir jogadores bons como Daniel Carvalho, Nilmar, Diogo Rincón, Cleiton Xavier, Diego, Edinho, Renan, Rafael Sobis e Alexandre Pato.

O primeiro objetivo, de recuperar a hegemonia regional, foi conquistado com o tetracampeonato gaúcho a partir de 2002. Com boas campanhas nos Brasileiros seguintes, o Inter, especialmente sob o comando de Muricy Ramalho, começava a mostrar que estava pronto para as grandes conquistas. Por pouco, em 2005, não tirou do Corinthians o título nacional, mas preparou o terreno para ganhar o mundo em 2006.

Abel Braga, que já tinha três passagens pelo Beira-Rio, chegou para seguir tocando o barco, e o elenco recebeu uma maior injeção de investimento para a disputa da Libertadores. O quadro social forte já era uma característica no orçamento e foi possível, então, brigar com qualquer adversário de igual para igual.

O "clube do povo" então ultrapassou os adversários, um a um, e ainda venceu o então campeão São Paulo, na final, para levantar o primeiro título de Libertadores em sua história. Com mudanças pontuais e a saída de quatro titulares - Bolívar, Tinga, Jorge Wagner e Rafael Sobis - para a Europa, o Inter seguiu forte e chegou ao Japão como o vice-campeão brasileiro pelo segundo ano seguido.

Diante de um Barcelona que todos diziam ser imbatível, o Internacional se agigantou e, anulando o melhor do mundo, o ex-gremista Ronaldinho, venceu graças a uma jogada arquitetada por Iarley e concluída por um herói improvável: Adriano Gabiru. Bancado por Abel e criticado pela torcida, o meia fez o gol mais importante da história do clube.

Com um modelo de gestão consagrado por títulos, o Internacional seguiu com elencos fortes nos anos seguintes. Em 2007, as coisas não deram certo e Abel Braga chegou a deixar o cargo e retornar logo depois, mas sem conseguir qualquer façanha. No ano do 99º aniversário, o Inter venceu o Gaúcho novamente e ainda conquistou a Copa Sul-Americana.

Neste sábado: ídolos do Internacional falam sobre sua relação com o clube e seus maiores momentos com a camisa colorada

Henrique Poppe foi rejeitado em outros clubes gaúchos e fundou o Internacional
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Foto: Divulgação
Fonte: Especial para Terra
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