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Futebol Internacional

Ex-Mazembe, Júlio Santos diz que vexame do Inter não foi esquecido

20 mai 2012 - 10h45
(atualizado às 10h50)
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Allan Brito

Em 2010, a República Democrática do Congo entrou no mapa do futebol mundial. Em 2012, foi a vez de um brasileiro entrar no mapa do futebol congolês. O autodenominado "todo poderoso" Mazembe (Tout Puissant Mazembe) esteve envolvido nessas duas transformações. Primeiro, o time venceu o Internacional na semifinal do Mundial de Clubes, em uma das maiores zebras da história. Depois, foi a vez de Júlio Santos, zagueiro revelado no São Paulo, vestir a camiseta do Mazembe e tornar-se o primeiro brasileiro a jogar na República Democrática do Congo. A aventura foi curta, mas ele voltou com histórias para contar.

Segundo Júlio, tudo que o Inter tenta esquecer ainda é muito lembrado na República Democrática do Congo: o técnico vai ao treino com o uniforme do time gaúcho só para relembrar a maior vitória da história do Mazembe. O goleiro Kidiaba, que inventou uma exótica dança para comemorar os gols no Mundial, é outra lembrança desegradável para a torcida colorada. Mas Júlio Santos minimizou o espírito brincalhão do seu antigo companheiro de clube: "eu não via muita brincadeira do Kidiaba não".

Júlio Santos foi sozinho para a República Democrática do Congo, mas sua aventura durou menos tempo do que o esperado. Foram cerca de dez jogos disputados e, antes de completar três meses na África, o zagueiro de 30 anos voltou ao Brasil. Agora ele está à procura de um novo clube para jogar e, equanto tenta manter a forma física, se diverte com as histórias que vivenciou no Mazembe. Em entrevista para o Terra, ele relembrou alguns desses divertidos momentos. Confira:

Terra - Como surgiu a possibilidade de jogar no Mazembe?

Júlio Santos -

Júlio Santos (atrás) foi para o Mazembe com a intenção de disputar o Mundial de Clubes pelo time congolês
Júlio Santos (atrás) foi para o Mazembe com a intenção de disputar o Mundial de Clubes pelo time congolês
Foto: AFP

Eu tinha uns amigos em comum, uns empresários que tinham um projeto lá na África. Eles entraram em contato comigo e disseram que precisavam de um zagueiro. E como eu já tinha jogado na França (atuou pelo Tours em 2008), já sabia falar francês, então isso ia ajudar bastante. Para fazer a adaptação seria mais fácil. Eles olharam meu DVD, meu currículo e me contrataram.

Terra - O que você pensou antes de chegar lá?

Júlio Santos -

Fiquei receoso. Porque eu não conheço a África. Pela TV a gente só vê coisa ruim, de pobreza, guerra e essas coisas. Foi a primeira coisa que pensei, em segurança mesmo. Mas lá não é bem como a gente vê daqui. Tem suas pobrezas, claro, mas não tem isso de guerra e violência. Pelo menos onde eu fiquei não é tudo como a gente vê daqui.

Terra - Tem alguma história mais engraçada que você lembra de ter passado lá?

Júlio Santos -

Tem várias, mas é difícil lembrar assim. Uma coisa que eu lembro muito é que, quando acaba o treino, eles saem correndo para o vestiário e ninguém toma banho antes. Então, no primeiro treino, eu peguei a toalha e eles já falaram para mim: 'não, você não está no Rio de Janeiro' (risos). Foi muito engraçado, porque eles fecham a água para o vestiário. Então eu botei a roupa e fui para o hotel.

Terra - No Mazembe ainda lembram da vitória sobre Inter?

Júlio Santos -

Lembram, com certeza. Para eles isso foi a maior conquista do clube. Até hoje eles são vice-campeões do mundo. Então tem, por exemplo, o treinador que vai para o treino com a camisa do Inter. Eles até falaram comigo disso quando eu cheguei, porque chegou um brasileiro. Para eles foi a maior conquista de um clube da África e ainda tinha muitos jogadores que disputaram aquele jogo, como o Kidiaba.

Terra - O Kidiaba é brincalhão como a gente viu no Mundial?

Júlio Santos -

Acho que essa foi a imagem que mais marcou, mas ele é bem tranquilo. Ele treina sério, trabalha sério. Eu não via muita brincadeira dele não. Mas ele é bem extrovertido sim, até porque o povo congolês é bem parecido com o brasileiro. Apesar de tudo, do sofrimento, de tudo de ruim, o povo é bem feliz.

Terra - E você se adaptou bem ao estilo de jogo?

Júlio Santos -

No começo eu estranhei e fui até surpreendido. Porque eu encontrei muitos bons jogadores de lá. É um um dos melhores time de lá, já que 80% dos jogadores são de seleções africanas. Eu me surpreendi, mas me adaptei bem, até pelo fato de falar francês. Quando não fala, é mais dificil. E em termos de futebol eles são bem parecidos com os brasileiros. Eles gostam de dribles e a torcida vai à loucura com isso.

Terra - E tem bastante torcida lá?

Júlio Santos -

Sim, porque na República Democrática do Congo o povo não tem muito o que fazer. Então o futebol é a diversão do povo. Em dia de treino, iam umas quatro mil ou cinco mil pessoas para ver. E em dia de jogo também, sempre tinha estádio lotado lá.

Terra - E a estrutura era muito pior que no Brasil?

Júlio Santos -

Nesse clube não. Claro que esse clube não tinha CT, não tinha algumas coisas, não é igual aqui. Mas o clube é estruturado, tinha academia moderna e sala de fisioterapia. Tem um estádio que vai ser inaugurado em julho e vai ser um dos melhores estádios da África. E tem muita coisa que alguns times daqui não têm, como essas coisas - a academia e a sala de fisioterapia. E eles pagam tudo em dia, não tem atraso.

Terra - E como foi essa questão financeira para você? Deu para igualar com o salário que você recebia aqui?

Júlio Santos -

Minha intenção não era essa. Minha intenção era disputar a Liga dos Campeões de lá. Quando cheguei, ia começar as oitavas de final. Então minha intenção era estar com eles até o final, já que eles foram bicampeões (em 2009 e 2010, além de terem conquistado a Liga dos Campeões da CAF em 1967 e 1968 também). Eu queria ser campeão para ir para o Mundial e lá ia ter muita repercussão. Um brasileiro no Mundial pelo Mazembe ia ter muita repercussão. Então eu queria colher muitas coisas boas disso, além da proposta ter sido boa financeiramente sim.

Terra - E por que você ficou menos tempo do que esperava? O que atrapalhou?

Júlio Santos -

Quando eles me chamaram, não era porque algo atrapalhou. O time tinha seis jogadores que eram da seleção da Zâmbia e esses jogadores não estavam tão valorizados quando eu cheguei, antes da Copa Africana. Mas eles voltaram campeões da África e ainda tinha dois da seleção do Congo e mais dois da Zâmbia. Aí o presidente me chamou e falou: 'olha, a gente te contratou, mas os jogadores voltaram valorizados e para o clube não vale a pena ficar te pagando'. E no meu contrato tinha uma cláusula de que os dois lados poderiam rescindir sem multa antes dos três meses. Então, quando estava para fechar esses três meses, eles falaram que preferiam rescindir. A gente fez um acordo e tudo bem.

Terra - E como ficou sua cabeça com isso? Foi uma frustração?

Júlio Santos -

Não digo frustração, mas meus planos foram cortados no começo. Mas eu sei que o futebol é assim, no futebol infelizmente acontece isso. Eu estou acostumado, tenho 30 anos e agora tenho que esperar para ver se aparece alguma coisa.

Terra - O que você tem feito?

Júlio Santos -

Eu treino corrida no parque, treino a parte física que é para, quando acertar alguma coisa, eu já chegar no nível dos outros atletas.

Terra - Está envolvido em alguma negociação?

Júlio Santos -

Tem uns contatos, mas por enquanto não tem nada de concreto. Eu estou só esperando as respostas de uns clubes do Brasil e de uns clubes de fora também, mas por enquanto é só em conversa mesmo.

Fonte: Terra
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