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Jogos Inverno 2010

Polêmicas transformam patinação na "prova que nunca termina"

15 fev 2010 - 19h58
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John Powers
Do The Boston Globe

Como sempre, a pose e a politicagem começaram bem antes da chama olímpica queimar. Na patinação artística, a competição nunca termina, mesmo depois das medalhas terem sido entregues.

Os russos não gostaram de um vídeo de treinamento para juízes que criticou Evgeny Plushenko, o medalhista de ouro de 2006, pela ausência de transições em seus saltos. E o sorteio de qual dança obrigatória seria usada nos Jogos acabou favorecendo Oksana Domnina e Maxim Shabalin, os questionáveis campeões mundiais russos.

Se não houvesse ocorrido o "Patinogate" - o escândalo de jurados avaliando conterrâneos que maculou os Jogos de 2002, em Salt Lake -, não haveria tanta suspeita, ou paranoia, sobre manobras fora do gelo que pretendem afetar os resultados dentro dele.

Embora o sistema de pontuação tenha mudado desde então, o mesmo não ocorreu com as pessoas. Muitos dos mesmos oficiais, juízes, técnicos e patinadores ainda estão na ativa, e, quando as Olimpíadas chegam, os joguinhos internos voltam a ser realidade.

É por isso que a competição de duplas de domingo à noite foi observada tão de perto, porque seria o prelúdio para o que vai acontecer nos próximos 11 dias. Desde que apareceram pela primeira vez, em 1964, os russos ganham o evento no Olimpo, mesmo se não chegam como campeões mundiais. Desta vez, está mais escancarado do que jamais esteve.

Os russos podem ser campeões olímpicos defendendo seus títulos, mas os alemães assumiram a coroa global nos últimos dois anos e os chineses derrotaram todo mundo nesta temporada. Depois do programa curto de domingo, Shen Xue e Zhao Hongbo (um recorde, 76,66) criaram uma boa margem sobre os campeões Aliona Savchenko e Robin Szolkowy (75,96), com os russos Yuko Kavaguti e Alexander Smirnov (74,16) em terceiro.

Quem quer que vença a patinação livre desta segunda-feira à noite, pode determinar quem vencerá as competições masculina e feminina. E isso pode muito bem depender de qual título a "Mãe" Rússia quer ganhar mais.

Na maioria dos anos olímpicos, os russos não precisam escolher uma categoria porque sabem que vencerão várias. Em Turim, há quatro anos, eles reclamaram o ouro no masculino (Plushenko), duplas (Tatiana Totmianina-Maxim Marinin) e dança (Tatiana Navka-Roman Kostomarov) e poderiam muito bem ter continuado a ganhar se Irina Slutskaya, a campeã mundial, tivesse patinado honestamente.

Desta vez, porém, as chances deles estão decididamente incertas. O programa masculino é tão fraco que Plushenko, aos 27 anos, foi chamado de volta da aposentadoria. Não existe uma candidata no feminino. Kavaguti, cujo nome original é Kawaguchi, se tornou cidadã russa pouco mais de um ano atrás. E Shabalin está patinando sobre joelhos que já foram reparados três vezes.

Se a Rússia tivesse que apostar suas fichas políticas em qualquer um deles, provavelmente seria Plushenko, que ainda é o melhor do mundo quando quer, como vem querendo neste inverno. Quatro campeões mundiais diferentes desde a última Olimpíada - Stephane Lambiel, Brian Joubert, Jeffrey Buttle e Evan Lysacek -, e nenhum deles têm habilidade técnica comparável à de Plushenko.

É por isso que a Federação Russa queimou um fuzil quando a Federação Internacional de Patinação no Gelo (ISU, em inglês) produziu um vídeo que deixava implícito que a pontuação de Plushenko havia sido exagerada. Se ele continuasse aposentado, como estava quando o vídeo surgiu, os russos não teriam se importado. Mas agora que ele está novamente no jogo, eles evidentemente temem que os juízes comecem a examinar suas transições mais de perto e subtrair pontos de sua apresentação.

Quando o juiz americano Joe Inman enviou um e-mail para outros juízes e oficiais, apontando que o próprio Plushenko havia admitido que nem ele nem Joubert usaram transições, os russos e os franceses denunciaram o que consideraram um viés antieuropeu.

"Isso prova que o lobby norte-americano está a caminho", disse o chefe da Federação Francesa, Didier Gailhaguet, ao jornal esportivo francês L´Équipe.

Gailhaguet, é claro, estava no centro do escândalo da patinação e foi quem a juíza francesa Marie-Reine Le Gougne acusou de pressionar seu voto em favor da dupla russa, em detrimento dos canadenses, como parte de um acordo que daria o ouro na dança para os franceses. Gailhaguet foi afastado do esporte por três anos, mas ele está de volta e ainda atua nos bastidores.

É mais difícil fazer acordos secretos do que era há oito anos. O novo sistema de pontuação seleciona aleatoriamente sete dos nove juízes para julgar a apresentação, ignora a maior e menor nota para cada elemento e componente e muda os jurados a cada estágio de cada competição. Mas isso não significa que a politicagem terminou.

Embora a ISU não identifique mais os juízes pela nacionalidade, todos os envolvidos sabem quem são eles. Na noite passada, os jurados incluíam representantes de todos os principais competidores, assim como da França. Plus ça change, plus c'est la même chose (quanto mais as coisas mudam, mais elas continuam as mesmas).

A pergunta depois de domingo à noite foi quanto os russos querem pressionar a favor de algum dos seus, frente à impressão geral de que este finalmente será o Ano do Tigre. Os chineses ganharam quatro títulos mundiais, mas nunca o ouro olímpico. Que melhor forma de dar a Shen e Zhao, os três vezes campeões mundiais que têm uma idade combinada de 67 anos, um belo presente de despedida?

Se a China ganhar nesta noite, então a melhor chance dos russos é Plushenko. Se ele não aguentar a barra, então a última chance está na dança, que os russos ganharam em sete de nove Olimpíadas. Quando eles perderam? Em 1984, quando Jayne Torvill e Christopher Dean, da Grã-Bretanha, deram um bolero em direção ao ouro, e em 2002, quando os franceses ganharam, de forma justa ou não.

Assim, quando a Tango Romantica foi sorteada, ao invés da Golden Waltz, como a dança compulsória dos Jogos, céticos da patinação (e quem não é?) imediatamente suspeitaram de uma armação. Os passos de tango são muito mais fáceis para o homem, especialmente aquele cujos joelhos rangem mais alto do que o Homem de Lata. Acontece que o tango havia sido escolhido a dança dos campeonatos europeus do mês passado, os quais Domnina e Shabalin ganharam acumulando uma margem enorme nas compulsórias. Acontece também que um oficial russo estava presente no sorteio, que relatos afirmam ter ocorrido em hora e local não particularmente bem divulgados.

Será que vídeos, e-mails e sorteios farão alguma diferença quando a música começar?

"Talvez eu seja um pouco ingênuo, mas ainda acredito que os juízes estão julgando o que veem", disse Lambiel.

Ou talvez não.

"Se os juízes quiserem que alguém fique no alto", disse Plushenko no mês passado, "eles dão um jeito".

O esporte de lantejoulas brilhantes mudou profundamente desde o "Patinogate" e, no entanto, não mudou nada. A competição no gelo termina em março. A fora do gelo nunca termina.

Tradução de Amy Traduções

Jogos Olímpicos de Inverno no Terra

O Terra transmite ao vivo a competição em 15 canais simultâneos de vídeo. Além disso, os usuários têm a possibilidade de assistir novamente a todo o conteúdo a qualquer momento. Todo o acesso é gratuito.

Uma equipe de 60 profissionais está encarregada de fazer a cobertura direto de Vancouver e dos estúdios do Terra, em São Paulo, no Brasil, com as últimas notícias, fotos, curiosidades, resultados e bastidores da competição.

A equipe conta com a participação do repórter especialista em esportes radicais Formiga - com 20 anos de experiência em modalidades de neve -, e o pentacampeão mundial de skate Sandro Dias, que comenta a competição em seu blog no Terra.

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Russo leva tombo em prova da patinação artística:
The New York Times
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