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Especialistas veem risco baixo de terrorismo nas Olimpíadas

Cerca de 85 mil profissionais de segurança serão mobilizados durante os Jogos Olímpicos

21 nov 2015 - 16h12
(atualizado às 16h43)
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Os atentados que mataram 129 pessoas em Paris no último dia 13 – de autoria do grupo extremista autodenominado "Estado Islâmico" (EI) – reavivaram os temores de ataques terroristas em todo o mundo.

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Vários seguidores da página da nos questionaram sobre qual seria o risco de um episódio trágico como esse ocorrer no país, ainda mais tendo em vista a realização dos Jogos Olímpicos em agosto do próximo ano. Para autoridades e especialistas entrevistados, ele é baixo. "Falando da Olimpíada de 2016, O Brasil não é um alvo direto de ações terroristas do ISIS (uma das siglas para "Estado Islâmico"). Vai ter uma certa dose de tensão, é uma hipótese que não pode ser desconsiderada, mas ela é remota.", afirma André Luis Woloszyn, autor de diversos livros sobre terrorismo e atualmente assessor-chefe de Segurança Institucional do Ministério Público Federal gaúcho.

Ele baseia sua avaliação na análise do modus operandi usado pelo grupo até agora. "Mesmo que o evento traga grande visibilidade internacional, se formos analisar a estratégia que foi utilizada pelo 'Estado Islâmico' até o momento, podemos constatar que ela tem se caracterizado, principalmente, pela escolha de alvos civis que estão inseridos no cotidiano urbano, onde não há nenhuma concentração específica de agentes de segurança, tampouco estado de alerta dessas forças, que são fatores que dificultam a aproximação dos terroristas em relação aos alvos", observa.

O consultor de segurança Hugo Tisaka, da empresa NSA Brasil, concorda que a grande mobilização de forças policiais e militares tende a desencorajar a realização de atentados de grandes grupos terroristas durante os Jogos. Além disso, ele pondera que o próprio Estado Islâmico pode não considerar estratégico um ataque dessa magnitude. "Eu não sei o quanto que eles estariam dispostos, porque se você faz um ataque à Olimpíada, basicamente vocês está atacando o mundo. Não sei se seria uma boa estratégia ter o mundo inteiro contra eles. Seria um ataque com repercussão de mídia gigantesco", disse. "Agora, ainda que seja baixo, existe sim o risco dessa ameaça", ressalta.

Para Tisaka, a probabilidade de uma ação dos chamados "lobos solitários" – extremistas não vinculados a organizações conhecidas e monitoradas que realizam ações pontuais – é maior do que de um grande atentado. "São pessoas que estão totalmente isoladas. Esse tipo de ação é quase impossível de se detectar", observa. "Basta uma pessoa com uma bomba para gerar tensão e caos", nota Woloszyn.

Sem histórico

O Brasil é um país sem histórico de terrorismo, nota Tisaka. Isso torna ainda menor a probabilidade de um ataque fora de grandes eventos internacionais. "Se formos pensar à luz da origem dos ataques em Paris, foi muito mais um ataque voltado à nação, porque eles veem (a França) como uma nação que tem funcionado como ponta de lança para os problemas que eles têm tido lá".

O Brasil, por sua vez, nota ele, mantém uma política de bom relacionamento com outros países: "O Brasil nunca foi um país imperialista, mas sim uma colônia. Aparentemente, somos amigos de todos. Não apresentamos risco a ninguém. O Brasil não tem nenhuma disputa fronteiriça com ninguém, não tem grandes problemas comerciais. Aceita todos os imigrantes, independente de onde vêm".

Ataques em Paris deixaram pelo menos 129 mortos
Ataques em Paris deixaram pelo menos 129 mortos
Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

Já o fator distância geográfica, ou seja, o fato de o Brasil estar longe do Oriente Médio e da Europa, não reduz a probabilidade de ataques, concordam os dois analistas ouvidos pela BBC. "O terrorismo é uma ameaça global", afirma Woloszyn. "Por ser uma questão ideológica, acaba ultrapassando fronteiras geográficas", nota Tisaka.

Segurança

Os governos federal e fluminense também avaliam o risco como baixo e dizem que estão sendo feitos os investimentos necessários para a segurança dos Jogos.

Um Centro Integrado Antiterrorismo – com representantes de diversas agências de inteligência estrangeiras – está sendo criado para que o Brasil receba alertas contra possíveis ameaças com agilidade. Entre as nações envolvidas estarão Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França, Argentina, Colômbia, Israel, Japão e China.

Nesta semana, o ministro da Justiça lembrou que não houve incidentes durante a Copa do Mundo, e disse que isso deve se repetir na Olimpíada. "Nós tivemos contato com os órgãos de inteligência internacional e posso afirmar a vocês que o Brasil está plenamente preparado para um excelente padrão de segurança nessa Olimpíada", disse em declaração à imprensa brasileira nesta semana. "O Brasil não tem muitos casos [de terrorismo], mas isso não afasta a importância de acompanhar toda a situação mundial e de tomarmos todas as medidas necessárias", continuou.

Autoridades do Rio de Janeiro também mantiveram a avaliação de baixo risco de ataques durante os Jogos. "Nosso nível de atenção aumentou, mas não há nenhuma perspectiva, até o momento, de algum ato concreto", disse o subsecretário extraordinário de Grandes Eventos da Secretaria de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro, Roberto Alzir. "O que não quer dizer que a gente não possa rever todos os procedimentos, aumentar as ações de preparo, de treinamento, de engajamento à resposta caso o evento aconteça", ressaltou.

Cerca de 85 mil profissionais de segurança serão mobilizados durante os Jogos Olímpicos. Ao menos 47 mil serão policiais, guardas de trânsito, bombeiros e outros agentes civis. As Forças Armadas fornecerão 38 mil militares.

Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

Embora a Olimpíada pareça um evento mais simples por se restringir majoritariamente a uma cidade – em comparação à Copa do Mundo, que teve 12 cidades sede -, ela traz um cenário mais complexo, na avaliação do governo. Isso porque antes do início das competições, a tocha olímpica circulará durante 100 dias pelos 27 Estados do país.

Seis Estados também devem receber competições de futebol. "Na Copa eram 32 países, nos jogos serão mais de 200. (Em 2014) eram 800 atletas e agora serão mais de 10 mil. Então são números absolutamente distintos. São 42 campeonatos mundiais acontecendo simultaneamente, no caso dos Jogos, em 17 dias", afirmou em outubro à BBC Brasil Andrei Augusto Passos Rodrigues, secretário extraordinário de Segurança para Grandes Eventos do Ministério da Justiça.

O governo federal realiza na próxima semana um evento no Rio de Janeiro para apresentar o plano de segurança dos Jogos para autoridades estrangeiras. Já a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) realiza também semana que vem, em Brasília, o seminário "Enfrentamento ao Terrorismo no Brasil". Ambos os eventos estavam previstos antes dos atentados de Paris.

Nesta semana, o portal Contas Abertas revelou que o ajuste fiscal está afetando os gastos na área. De acordo com eles, o Ministério da Defesa tem R$ 65,8 milhões previstos para despesas "com prevenção de incidentes e ao terrorismo" em 2015. Porém, somente R$ 762,6 mil foram pagos, ou seja 1,2% do orçamento previsto.

Questionado pela BBC Brasil, o Ministério da Defesa informou que metade do valor previsto para este ano no programa citado pelo Contas Abertas foi empenhada (ou seja, está liberada para ser gasto). Além disso, o órgão informou que "está cumprindo o Planejamento Orçamentário referente aos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016, cujos valores são da ordem de R$ 674 milhões, sendo R$ 275 milhões em 2014, R$ 199 milhões em 2015 e R$ 200 milhões previstos no Projeto de Lei Orçamentária de 2016".

Ainda de acordo com o Ministério da Defesa, "os recursos estão sendo executados dentro dos prazos previsto" e correspondem a atividades integradas entre Forças Armadas, Ministério da Justiça e Abin.

*Colaboraram Luciani Gomes e Luis Kawaguti

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