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Olimpíada 2016

Tiro com arco pode trazer medalha mais inesperada em 2016

5 ago 2015 - 17h11
(atualizado às 18h50)
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Foi em uma seletiva tradicional de atletas em 2012 que Marcus Vinícius D'Almeida, de apenas 14 anos, chamou a atenção de um dos maiores especialistas do tiro com arco, o sul-coreano Heesik Lim, então técnico da Seleção Brasileira.

Um talento raro com o arco aliado a um poder de concentração invejável: essa combinação conquistou o treinador e fez com que "Marquinhos", como é chamado até pelos dirigentes, fosse o único escolhido da seletiva, apesar da pouca idade.

Marquinhos aprendeu o esporte com 12 anos e com 16 já competia entre os profissionais
Marquinhos aprendeu o esporte com 12 anos e com 16 já competia entre os profissionais
Foto: Divulgação/BBC Brasil

Fazia apenas dois anos que o menino havia aprendido a modalidade. O coreano não está mais na seleção brasileira, mas a aposta dele mostrou-se justificada. Marcus Vinícius conquistou a medalha de prata na Olimpíada da Juventude no ano passado, foi vice-campeão da Copa do Mundo também em 2014 e, atualmente, aos 17 anos, já é o sexto melhor arqueiro do mundo no ranking.

Tudo isso faz dele uma das grandes promessas do Brasil para os Jogos de 2016. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) considera o arqueiro um "fenômeno" e o vê com boas chances de conquistar uma medalha para o país daqui a um ano.

Ao lado de nomes como Isaquias Queiroz (canoagem) e Etiene Medeiros (natação), ele é um dos candidatos a surpresa dos Jogos Olímpicos, como foi o ginasta Arthur Zanetti, que era pouco conhecido até chegar em Londres e faturar um ouro inédito para o Brasil na ginástica artística, em 2012.

Marcus Vinícius ganhou a medalha de prata no tiro com arco na Olimpíada da Juventude no ano passado, quando tinha 16 anos
Marcus Vinícius ganhou a medalha de prata no tiro com arco na Olimpíada da Juventude no ano passado, quando tinha 16 anos
Foto: Divulgação/BBC Brasil

Além disso, o arqueiro pode igualar o feito do judoca Tiago Camilo em Sidney-2000 como o brasileiro mais jovem a conquistar uma medalha olímpica - ele terá 18 anos de idade na competição, ano que vem.

Um indício de que Marcus Vinícius tenha virado esperança de medalha para o Brasil é que os ingressos para duas sessões do tiro com arco na Olimpíada já estão esgotados após a primeira fase de venda. O esporte nunca foi tradicional no país e uma medalha olímpica seria inédita.

Início

Foi em uma história triste que Marquinhos viveu na infância, aos 3 anos de idade, que fez com que o tiro com arco cruzasse seu caminho.

O menino morava com a família no Rio de Janeiro e viveu momentos de tensão em um sequestro relâmpago quando estava no carro junto com seu pai. Após algumas horas de desespero, a polícia conseguiu libertar os dois, mas a vida do pai, Marcus Maurício, nunca mais foi a mesma.

"Eu tive síndrome do pânico e até hoje eu ainda sinto as consequências do que aconteceu. E, depois disso, a gente decidiu 'se esconder' em Maricá", disse o pai do arqueiro em entrevista à BBC Brasil.

'Ele tem mostrado um amadurecimento esportivo muito grande. É um menino fantástico. Vocês ainda ouvirão falar muito o nome dele', disse o técnico Evandro.
'Ele tem mostrado um amadurecimento esportivo muito grande. É um menino fantástico. Vocês ainda ouvirão falar muito o nome dele', disse o técnico Evandro.
Foto: Divulgação/BBC Brasil

Maricá é uma cidade a 60km do Rio, de apenas 40 mil habitantes. E foi também o local escolhido para a Confederação Brasileira de Tiro com Arco (CBTArco) se estabelecer em 2009, após ganhar mais investimento para infraestrutura por causa dos Jogos de 2016 - antes, a entidade não tinha sede.

Os pais de Marquinhos viram no projeto criado pela confederação para crianças e adolescentes na cidade uma esperança de que ali o menino pudesse ter o sucesso que não conseguiu nos outros tantos esportes que tentou: capoeira, vela, natação e até jiu-jitsu.

"Ele sempre quis medalha. Ele fazia natação em um projeto aqui da cidade e disputava várias provas, então sempre ganhava medalha pelo menos por participação. Quando acabou o projeto da prefeitura e eu fui colocá-lo em uma escola particular de natação, ele não quis mais, 'porque não ganhava medalha'", relata o pai.

'Mentora'

Aos 12 anos, Marquinhos conheceu sua mentora no tiro com arco. Dirma dos Santos acompanhou o menino desde os primeiros dias no projeto e ensinou o be-a-bá do esporte para o futuro campeão.

"Ele chegou em Maricá como um qualquer. Com o tempo, fui vendo o desenvolvimento dele. Ele pegou o movimento do tiro com arco com bastante facilidade. Aí, percebi que ele tinha talento", conta Dirma à BBC Brasil.

Foi ela que deu o empurrãozinho que faltava para o técnico sul-coreano Heesik Lim levá-lo com apenas 14 anos para a seleção brasileira. "Ele gostou do Marquinhos, mas tinha receio, porque ele era muito novo. Mas eu disse: leva, que você não vai se arrepender."

De Maricá para Campinas e de Campinas para o mundo. Marquinhos passou a disputar campeonatos internacionais em todas as categorias, da juvenil à adulta. E foi colecionando medalhas e bons resultados. Dirma admite que tem ciúme por já não estar mais tão perto como gostaria - hoje ela é como uma 'conselheira à distância' a quem Marquinhos sempre recorre. Mas a treinadora ainda tem um consolo. "Eu já falei para ele: as medalhas que você conquistar são suas, mas a medalha olímpica é minha. Não vou abrir mão", brinca.

Sonho

Saindo de casa aos 14 anos para treinar com a seleção brasileira em Campinas, Marcus Vinícius virou o orgulho e, ao mesmo tempo, a preocupação da mãe, Denise Torres Carvalho. Mas hoje ela diz que 'vale a pena'.

"Ele sempre foi muito determinado. É isso que ele quer e ele se dedica muito por isso", explica a mãe à reportagem.

A vontade de melhorar sempre fazia com que Marquinhos muitas vezes ficasse no campo de treinamento até de noite, quando nem o técnico estava mais por perto. Quando treinava para a Olimpíada da Juventude, que aconteceu na China, no ano passado, o jovem arqueiro acordava antes das 4h da manhã para poder treinar a adaptação ao fuso-horário chinês mesmo antes de viajar.

"O sonho dele agora é a Olimpíada. E ele trabalha muito para isso. Ele ainda é novo, mas trabalha igual gente grande", diz Denise.

O atual técnico de Marquinhos, Evandro de Azevedo, que atualmente está com ele na Polônia para mais uma competição, vê como diferencial do jovem arqueiro a 'confiança' que ele traz na hora de competir.

Marcus Vinícius D'Almeida é a promessa do Brasil no tiro com arco
Marcus Vinícius D'Almeida é a promessa do Brasil no tiro com arco
Foto: Divulgação/BBC Brasil

O treinador conta que os adversários ficam admirados com Marcus Vinícius. "Eles ficam surpresos quando veem o Marquinhos atirar assim tão novo. E a pressão fica maior para eles, porque podem perder para um 'adolescente'", conta Evandro à BBC Brasil.

O atual campeão olímpico, o sul-coreano Oh Jin Hyek, tem 33 anos, quase o dobro da idade de Marquinhos. E atualmente, o brasileiro já está à frente dele no ranking mundial - Marquinhos está em sexto, enquanto o sul-coreano é o nono.

O resultado individual do Pan Americano, disputado no mês passado, em Toronto (Canadá), não foi o esperado - acabou caindo nas quartas-de-final para o mexicano Luis Alvarez, número 29 do mundo. Mas o técnico Evandro ressalta o aspecto 'positivo' da derrota. "Deu ainda mais motivação para buscar o resultado por equipes, que foi o que aconteceu". Marquinhos foi determinante para a conquista do bronze por equipes no Pan, que representou o fim de um jejum de 32 anos na modalidade.

Segundo Evandro, "Marquinhos pode disputar em condições de igualdade contra todos os melhores arqueiros do mundo". E o técnico já avisa: "Vocês ainda vão ouvir muito o nome dele".

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