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Olimpíada 2016

O outro lado do olímpico Engenhão: asfalto virou 'maquiagem'

16 mai 2016 - 09h40
(atualizado em 23/5/2016 às 10h55)
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Algumas ruas do entorno do Engenhão integram o caminho da família olímpica – atletas e jornalistas do mundo todo vão passar por ali em agosto – e representam parte do ‘legado’ dos Jogos. Estão redesenhadas, com novas camadas de asfalto e calçadas refeitas. Mas a realidade no Engenho de Dentro, o bairro do estádio olímpico, é bem diferente. Do outro lado da estação ferroviária, por exemplo, o que se vê é a ausência do poder público até mesmo em serviços básicos, como a pavimentação das vias.

O lado ‘B’ do bairro olímpico não recebeu nenhum benefício por conta dos Jogos. A queixa de seus moradores registra uma lista de problemas crônicos que inclui, entre outros, a quantidade de buracos por onde passam automóveis e pedestres.

Acúmulo de água parada em buraco da rua Monsenhor Jerônimo irrita moradores do Engenho de Dentro
Acúmulo de água parada em buraco da rua Monsenhor Jerônimo irrita moradores do Engenho de Dentro
Foto: Silvio Barsetti / Especial para Terra

O Terra tem publicado desde a semana passada uma série de reportagens sobre mazelas que atingem o bairro olímpico, como a ausência de coleta regular de lixo, as valas com esgoto a céu aberto e a falta de água crônica em alguns locais do Engenho de Dentro.

Questionado pela reportagem do Terra, na quinta (12), sobre a existência de duas realidades no bairro, e da insatisfação de muitos moradores por causa disso, o prefeito Eduardo Paes reagiu com irritação e ironia. “Não existe lado ‘A’, lado ‘B’ no Engenho de Dentro. Quando a prefeitura tiver dinheiro, a gente faz mais um Engenhão do outro lado da estação e fica tudo bem.”

"Quando a prefeitura tiver dinheiro, a gente faz mais um Engenhão do outro lado da estação e fica tudo bem", respondeu, com ironia, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), ao ser questionado sobre a falta de estrutura nas regiões distantes do estádio no Engenho de Dentro
"Quando a prefeitura tiver dinheiro, a gente faz mais um Engenhão do outro lado da estação e fica tudo bem", respondeu, com ironia, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), ao ser questionado sobre a falta de estrutura nas regiões distantes do estádio no Engenho de Dentro
Foto: Silvio Barsetti / Especial para Terra

A falta de sintonia das autoridades com quem vive no local é flagrante e as críticas dos moradores são constantes. “Houve apenas uma maquiagem no Engenho de Dentro para os Jogos. E só maquiaram ali nas proximidades do Engenhão, com pequenas intervenções. Na grande extensão do bairro não se viu nenhuma melhoria, não se viu nada”, protesta o professor de história Allan da Silva Corrêa, 27 anos, administrador da página ‘Voz do Engenho de Dentro’ no Facebook.

O professor de História Allan da Silva Corrêa é administrador da fanpage no Facebook "Voz do Engenho de Dentro", que aponta problemas no bairro e cobra resposta das autoridades
O professor de História Allan da Silva Corrêa é administrador da fanpage no Facebook "Voz do Engenho de Dentro", que aponta problemas no bairro e cobra resposta das autoridades
Foto: Silvio Barsetti / Especial para Terra

Nascido e criado no bairro, Allan sabe de cor a ‘idade’ de algumas minicrateras que resistem a reparos mal feitos e se perpetuam pelo bairro. Na Rua Alberto Leite, ele aponta para um buraco que existe pelo menos desde 2008. O desleixo se estende por ruas como a Monsenhor Jerônimo, Pernambuco, ambas situadas a menos de um quilômetro do estádio olímpico, e tantas outras não contempladas com novas pavimentações.

“Perdemos uma grande oportunidade de melhorar a qualidade de vida no Engenho de Dentro e bairros próximos. Os Jogos Olímpicos não nos trouxeram nenhuma vantagem, ainda mais para quem vive do outro lado da linha do trem”, afirma Sérgio Luiz Leite, 46 anos, morador da Rua Pernambuco.

Sérgio Luiz Leitem, morador do Engenho de Dentro, se diz contrariado com o descaso do poder público no bairro
Sérgio Luiz Leitem, morador do Engenho de Dentro, se diz contrariado com o descaso do poder público no bairro
Foto: Silvio Barsetti / Especial para Terra

O contraste de um piso em perfeito estado, ao redor do Engenhão, com ruas sem calçamento na comunidade Camarista Méier, a única do Engenho de Dentro, expõe uma situação sem justificativa aparente. A cuidadora de idosos Elza Venâncio lamenta a precariedade da Rua União Vitória, por onde se dá o único acesso a várias casas do morro. “Quando chove, é difícil alguém sair de casa por aqui, porque algumas pedras rolam e as pessoas escorregam com a lama e a inclinação do terreno.”

A rua José dos Reis, no entorno do estádio do Engenhão, apresenta nova pavimentação
A rua José dos Reis, no entorno do estádio do Engenhão, apresenta nova pavimentação
Foto: Silvio Barsetti / Especial para Terra

João Batista de Lima, morador da Camarista há mais de 50 anos e dono de um bar no começo da Rua União Vitória, conta que já viu pequenos acidentes com quem tentava subir ou descer a pé por aquela rua. “O risco de uma queda é enorme. Muita gente se machuca. Uma pena que ninguém veja isso.” Indagado sobre eventuais benefícios do bairro com a Olimpíada, o comerciante abre um sorriso antes de responder. “Melhorou o quê? Nada, nadinha.”

A rua Bento Gonçalves, no entorno do Engenhão, teve calçadas reformadas...
A rua Bento Gonçalves, no entorno do Engenhão, teve calçadas reformadas...
Foto: Silvio Barsetti / Especial para Terra
Já a rua Amaro Cavalcanti, que não fica tão próxima do estádio, não recebeu nenhuma melhoria e apresenta asfalto com buracos
Já a rua Amaro Cavalcanti, que não fica tão próxima do estádio, não recebeu nenhuma melhoria e apresenta asfalto com buracos
Foto: Silvio Barsetti / Especial para Terra
Foto: Silvio Barsetti / Especial para Terra
Fonte: Silvio Alves Barsetti
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