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Olimpíada 2016

Rio 2016: especialista vê tempo curto, mas viável para obras

24 abr 2014 - 15h59
(atualizado às 16h00)
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<p>A dois anos dos Jogos, Parque Olímpico segue em obras no Rio de Janeiro</p>
A dois anos dos Jogos, Parque Olímpico segue em obras no Rio de Janeiro
Foto: Daniel Ramalho / Terra

Do terraço de um prédio comercial que está prestes a ser inaugurado na avenida Abelardo Bueno, na zona oeste do Rio de Janeiro, a reportagem do Terra se posiciona para as imagens em 180 graus quando o simpático Luiz, um dos engenheiros responsáveis pela execução do edifício e que não quer dar o sobrenome, avisa: “rapaz, vai ter que botar muito peão nessa obra para ficar pronto a tempo”.

A tal obra que o engenheiro diz é simplesmente o Parque Olímpico, principal equipamento para os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, que sediará 15 modalidades, além de outros nove esportes paralímpicos. No local também será erguido um hotel e o IBC, o centro de mídia e transmissão dos Jogos Olímpicos que serão disputados pela primeira vez na América do Sul.

De acordo com o comitê organizador e a prefeitura do Rio de Janeiro, responsável pelo andamento das obras no terreno de 1,18 milhão de metros quadrados onde funcionou o antigo Autódromo de Jacarepaguá, diariamente, circularão no espaço 120 mil pessoas, entre atletas, comissões técnicas, delegações, jornalistas etc. O orçamento é de R$ 1,6 bilhão, com verba municipal e privada.

Na extensa área onde serão erguidos pelo projeto conceitual o Centro Olímpico de Treinamento (COT), com três arenas (basquete, judô, luta livre, dentre outras modalidades), um velódromo, o Centro de Tênis, a Arena de Handebol, e o Centro Aquático, estes dois últimos serão temporários e desmontados ao final das competições, o que se observa é um grande descampado com alguns tratadores e operários.

Os mesmos operários que entraram em greve por duas semanas atrás de melhorias salariais e que colocaram ainda mais em risco o prazo complexo de execução das obras. “Já tenho que tratar das minhas (greves), tenho que tratar dos outros agora”, indagou o prefeito Eduardo Paes, na coletiva de imprensa de apresentação da estimativa de orçamento geral dos Jogos, junto com as obras de infraestrutura urbana, já na casa dos R$ 36,7 bilhões. “Eu pago a empreiteira (Consórcio Rio Mais) para isso. O Parque Olímpico vai tão bem que mesmo com a greve não houve desvio. Vamos recuperar o tempo perdido”, assegurou.

O fato é que, em um comparativo com as duas últimas sedes olímpicas, a impressão que se tem pelas imagens aéreas de época é que o Rio de Janeiro encontra-se na fase de fundação, base para o erguimento das estruturas, enquanto que Pequim e Londres, no mesmo período, já tinham estruturas aparentes.

Após críticas, prefeitura explica orçamento da Rio 2016 em vídeo :

Em 2006, na imagem do Ninho de Pássaro, por exemplo, onde funcionou o atletismo, a capital chinesa já demonstrava maiores avanços, a exemplo da inglesa, cuja foto aérea de 2010 mostra o estádio olímpico erguido ao lado de outras estruturas. “Não vamos fazer um Ninho de Pássaro no Rio de Janeiro. Virou um mausoléu de desperdício de dinheiro público. Não vamos fazer isso aqui”, afirmou Eduardo Paes, que sempre bate na tecla do tal legado olímpico.

O fato é que, sem arriscar o dito pelo não dito, a reportagem do Terra ouviu um especialista da área de arquitetura e urbanismo para opinar: as obras para os Jogos Olímpicos de 2016 estão atrasadas? As imagens aéreas do Parque Olímpico mostram uma estrutura de grande porte a pleno vapor ou com atrasos mais do que aparentes?

Para Sérgio Magalhães, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, o prazo é curto, mas dá para fazer. "Dois anos para as obras do Parque Olímpico, que é mais complexo, e do Parque de Deodoro, que é menos complexo, é um prazo pequeno, mas viável. As fotografias indicam algumas estruturas dos equipamentos sendo levantadas. Certamente grande parte das infraestruturas deve estar concluída; logo, já há um bom caminho andado”, afirma.

Magalhães afirma ainda que há algo mais significativo que as obras civis. “O que é mais significativo é a implantação dos sistemas de operação. Aí se precisa um bom tempo, sobretudo para os testes e ajustes. No entanto, o que está atrasado e vale a pena ainda se fazer um esforço adicional para recuperar a agenda é a despoluição da baía de Guanabara. Só reduzir o lixo flutuante é muito pouco. Convém insistir pelo menos no tratamento dos rios.", afirma, sobre o projeto que está a cargo da Secretaria Estadual de Ambiente e que já deveria ter começado, mas ficou emperrado na justiça até dezembro do ano passado.

Porta-voz dos equipamentos olímpicos desde que a Prefeitura do Rio de Janeiro assumiu o andamento das obras das arenas e instalações, o prefeito Eduardo Paes refuta qualquer tipo de atraso. “O parque olímpico está absolutamente em dia. Foto de obra, quando você está fazendo as fundações, é assim mesmo, mas aquilo está sem desvio nenhum, assim como o campo de golfe. E Deodoro a gente espera estar devidamente dentro do cronograma”.

Polêmica no golfe

Orçada em R$ 60 milhões a serem arcados pela Fiori Empreendimentos Imobiliários Ltda., que em contrapartida receberá outro terreno próximo na Área de Proteção Ambiental (APA) de Marapendi para levantar um condomínio de luxo, as obras do campo de golfe tem autorização da secretaria municipal de Meio Ambiente. O Ministério Público, porém, tem analisado duramente a questão depois que órgãos de preservação emitiram pareceres contrários a construção também na Barra da Tijuca, zona oeste.

As acusações são de que não houve estudo de impacto ambiental na área de manguezais e que a fauna e flora nativas estariam sob risco iminente. Três membros da secretaria de meio ambiente municipal deixaram a pasta em fevereiro desse ano por serem contrários aos pareceres emitidos no intuito de aprovar o andamento das obras. Entre eles, a chefe da coordenadoria Isabela Lobato, e o gerente de proteção ambiental, Roberto Rocha.

Eles foram desautorizados a escolher o substituto depois que a gerente de unidades de preservação, Sônia Peixoto, foi demitida. Ela era contrária à obra. O secretario Carlos Alberto Muniz refutou o caso. Ele foi vice-prefeito de Eduardo Paes no primeiro mandato do peemedebista. A reportagem do Terra visitou as imediações do local e avistou três tratores e quatro caminhões no trabalho, basicamente, de retirar areia do local. O MP-RJ ainda pode emitir embargo no local.

Críticas das federações

No início do mês, um total de 17 federações demonstraram preocupação com o andamento das obras relativas aos Jogos Olímpicos, pressionando o comitê Rio 2016. Em nota oficial, o órgão explicou que tem “plena consciência das que questões que precisam ser resolvidas”.

Dentre elas, a que mais preocupa é o complexo de Deodoro, na vila militar localizada no subúrbio do Rio de Janeiro. Lá vão ocorrer as competições de hipismo, ciclismo, mountain bike, BMX, pentatlo moderno, tiro esportivo, canoagem slalom, hóquei, basquete, rúgbi e esgrima, além de quatro modalidades paraolímpicas: tiro esportivo, hipismo, esgrima em cadeira de rodas e o futebol de sete.

O Terra visitou o local e ainda não há nenhuma movimentação de obra, até porque o edital com os custos foi publicado apenas no último dia 17 de abril. Com previsão das obras para o segundo semestre deste ano, a construção e reforma das instalações estão divididas em duas partes: a região Norte, no valor de R$ 647,1 milhões e que inclui estádio de Canoagem Slalom, pista de Mountain Bike, BMX, Centro Nacional de Tiro, Arena de Rugby e Pentatlo Moderno, além de quadra para as preliminares do basquete feminino; e a região sul com orçamento de R$ 157,1 milhões terá o Centro Nacional de Hipismo.

Diante deste cenário, o próprio prefeito do Rio admite que “ficou sem gordura de tempo nenhuma” quando o assunto é Deodoro. “Não quero negar que não podemos errar mais nada”, reconheceu ainda Paes na última quarta-feira no lançamento do orçamento das obras públicas que, de acordo com os órgãos de governo, servirão de legado para a população ao final das competições. O prazo para o COI é de entrega no primeiro semestre de 2016 para a realização de eventos-teste antes dos Jogos.

Depois que se chegou a comentar até em um eventual plano B para o Rio de Janeiro, e que, de acordo com o presidente da Federação Internacional de Tênis (FIT), Francesco Ricci Bitti, em entrevista à Associated Press, “os Jogos do Rio são os mais atrasados em 20 anos”, por fim, o prefeito Eduardo Paes contemporiza. Até diante do fato de que o diretor executivo do COI, Gilbert Felli, poderia se mudar para a capital fluminense para acompanhar de perto as obras para 2016.

“Temos a melhor relação do mundo e ele sempre será muito bem recebido aqui. A gente acha muito positivo, se ele se mudar para o Rio de Janeiro será muito bem-vindo, será um prazer e sempre vou recebe-lo e dar as informações necessárias”, garantiu.

“O COI não vai intervir em governo municipal, ou federal, o COI é uma entidade séria, de pessoas elegantes, e eles não são arrogantes. Não ficam se impondo. Eles cobram permanentemente de maneira correta e adequada. Não vejo nenhuma intervenção, mas se tivesse, seria no comitê organizador, o que não me parece ser o caso”, finalizou.

Fonte: Terra
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