PUBLICIDADE

Olimpíada 2016

Sem técnico, biker brasileira enfrenta homens por evolução

​Priscilla Stevaux Carnaval busca patrocinador para bancar técnico e viagens de treino no BMX

30 mar 2014 - 10h08
Compartilhar
Exibir comentários
Brasileira busca patrocínio para ajudar a bancar viagens de treinamento
Brasileira busca patrocínio para ajudar a bancar viagens de treinamento
Foto: Instagram / Reprodução

Priscilla Stevaux Carnaval está sem técnico e sem dinheiro para treinar BMX no exterior. No Brasil, está sem pista para trabalhar e quase sem adversárias, já que o número de praticantes é pequeno se comparado ao que encontra fora do País. Quando viaja, a ausência de tudo isso faz com que falte também experiência, pontos no ranking e destaque. Consequentemente, falta patrocínio, o que por sua vez faz com que falte dinheiro para treinar no exterior. Para remediar as dificuldades, decidiu competir entre os homens, em busca de nível mais alto para quebrar esse ciclo complicado.

“Resolvi me inscrever na categoria masculina para ter contato com atletas de nível igual ou melhor que o meu, que é o que eu encontro no Mundial ou nas etapas da Copa do Mundo. Isso é para poder acompanhar o nível deles, crescer, aprender a disputar prova contra vários, a concorrer mais”, explicou Priscilla ao Terra. Não é exatamente novidade, para ela, correr contra homens. Mas pela primeira vez ela está fazendo isso no mais alto nível: em 15 de março, participou da primeira etapa da Copa Regional, em Paulínia, na categoria expert para atletas de 17 a 29 anos.

Priscilla Carnaval ocupa o 25° lugar no ranking mundial do BMX após lesão
Priscilla Carnaval ocupa o 25° lugar no ranking mundial do BMX após lesão
Foto: Instagram / Reprodução

“Normalmente tem certos campeonatos que não permitem (mulheres) competir contra homens, mas desta vez foi permitido. Vou aproveitar a deixa e participar de todos que eu puder”, afirmou a atleta, que não foi a única mulher na disputa – Bianca Quinalha também competiu. Nenhuma das duas chegou à final. Priscilla ficou perto disso: terminou em 5º sua bateria na semifinal, a uma posição da vaga, desempenho que a deixou feliz. “Para se preparar, só desse jeito: competindo com meninos, que são mais agressivos, e aprendendo a andar igual”, explicou.

Falta técnico, falta pista

Priscilla e suas companheiras de BMX têm muita diferença para tirar em relação às bikers estrangeiras. No Brasil, por exemplo, não há pista de supercross com as dimensões olímpicas – há projeto para a construção de uma em Londrina-PR e a previsão é de que fique pronta em maio. O contato que elas têm com esse modelo de traçado é feito direto nas competições internacionais, o que obviamente prejudica o desempenho. Em Sorocaba, Priscilla treina com auxílio do irmão, Douglas, e eventualmente viaja a cidades como Votorantim. Ela ainda usa planilhas antigas do técnico francês Thomas Allier.

Modelo estrangeiro de sucesso
Getty Images

Priscilla Carnaval cita duas atletas como exemplos de que, com verbas para treinamento fora do Brasil ou pelo menos uma pista de supercross, pode-se conseguir grandes feitos no BMX. A primeira delas é a colombiana Mariana Pajon, com quem posou para foto (crédito: instagram/reprodução), campeã olímpica em Londres 2012 e atual líder do ranking mundial.

Segundo a brasileira, Pajon “praticamente mora nos Estados Unidos, para poder competir todos os campeonatos onde estão as melhores do mundo”. O outro exemplo é da belga Elke Vanhoof, n° 18 do mundo, que recentemente ganhou o British BMX Series 1 em Manchester, na mesma pista onde será realizado a primeira etapa da Copa do Mundo. “Até então essa menina nunca tinha conseguido um lugar no pódio”, explicou Priscilla.

O que fez diferença, de acordo com ela, foi a inauguração de uma pista de supercross na Bélgica, onde Elke pôde treinar com um start de largada mais alto, com 8m, além de encarar rampas maiores e mais largas. “Eles começaram a treinar e já chegaram ao resultado que tanto queriam. Por isso é importante (ter uma pista de supercross). Fiquei impressionada”, disse Priscilla, que treina em locais de dimensões menores no Brasil.

A brasileira conheceu Allier em seu único intercâmbio de treinamentos, feito em 2011, no Centro Mundial de Ciclismo, em Aigle, na Suíça. O francês manteve contato depois da volta dela ao Brasil e ajudava analisando vídeos enviados e orientando os treinamentos por e-mail. “Ele ficou me treinando um ano sem cobrar, porque queria me ajudar. Continuou me mandando treino, mas depois eu sabia que não ia ter como não pagar. Ele tem outros atletas para se preocupar. Ficaria complicado se só eu não pagasse”, disse Priscilla, que encerrou a parceria por falta de verbas – ou seja, de patrocínio.

Beneficiada pelo Bolsa Atleta e com apoio da Caixa Econômica Federal, Priscilla tenta dividir o dinheiro entre viagens para competição no Brasil e no exterior, aquisição e manutenção de equipamentos e suplementação. A Seleção Brasileira banca a maior parte das viagens internacionais. É assim que ela vai competir a etapa de Manchester da Copa do Mundo de Supercross, na Inglaterra, em 18 e 19 de maio. A expectativa é conseguir bom desempenho, algo que possa ajudar na visibilidade e, por consequência, na busca por patrocínio.

“As empresas não querem patrocinar o atleta separadamente, só querem patrocinar o time”, explicou. “Na verdade, as pessoas não conhecem muito o BMX. É um esporte olímpico novo, entrou em 2008, mas ainda é novidade. Quando chegar a Olimpíada, elas vão ter um conhecimento melhor, vão descobrir o que é”, afirmou Priscilla, que terá concorrência dura por uma vaga em 2016. Atualmente, é a 25ª do ranking mundial. Está atrás de Bianca Quinalha, 20ª colocada, e à frente de Thaynara Chaves, 40ª. Sem destaque, as duas participaram do Sul-Americano de Santiago, em março. Squel Stein é 50ª.

O objetivo de Priscilla Carnaval é chegar ao top 16. Para isso, resolveu trancar a faculdade de arquitetura e urbanismo que fazia na Universidade de Sorocaba. Entre 23 e 27 de julho, pretende estar em forma para disputar o Mundial em Rotterdam, na Holanda. “Isso é o mais importante esse ano. Decidi fazer disso a minha vida, me dedicar ao máximo e tentar conseguir um lugar ao sol no mundo do BMX”, afirmou a brasileira.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade