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Olimpíada 2016

Rio: britânicos da vela usam probiótico para evitar infecção

Não basta treinar, cultivar a forma física máxima ou apurar o conhecimento das correntes e ventos cariocas.

15 ago 2015 - 08h50
(atualizado às 10h25)
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Atletas temem que águas poluídas da baía prejudiquem seu desempenho nas competições olímpicas
Atletas temem que águas poluídas da baía prejudiquem seu desempenho nas competições olímpicas
Foto: Ocean Images | British Sailing Team

Os britânicos que participam a partir deste sábado do evento-teste da vela para a Olimpíada na Baía de Guanabara, no Rio, acrescentaram à rotina de preparativos uma lista de suplementos vitamínicos, probióticos e óleo de peixe para evitar infecções intestinais; enxagues bucais antibacterianos no meio do treino; e, na dúvida, um copo Coca-Cola quando saem da água.

"Dizem que a Coca-Cola mata tudo dentro do seu estômago, e para a maioria das pessoas deixa um gosto bom no trajeto", justifica o técnico responsável pela equipe de vela britânica, Stephen Park, acrescentando que virou rotina para os atletas tomar uma espécie de banho de gato com água mineral nos intervalos.

"Basicamente estamos fazendo tudo o que podemos para ter as melhores condições de higiene possíveis e preparar a saúde intestinal dos nossos atletas rumo às Olimpíadas, para que eles fiquem menos suscetíveis a adoecer", diz Park à BBC Brasil, numa conversa sobre como a poluição na Baía de Guanabara tem afetado os treinos e as expectativas para 2016.

Park e uma trupe de cerca de 50 velejadores britânicos está no Rio desde o fim de julho para se preparar para os eventos-teste, que começam neste sábado e terminam no dia 22. As três raias olímpicas serão testadas por 339 atletas de 52 países. É o segundo evento-teste do esporte, após o realizado em agosto do ano passado.

A equipe britânica já está classificada para todas as 10 categorias olímpicas em 2016, mas ainda definindo os atletas que virão.

Além de temor sobre alta carga viral das águas, concentração de lixo na baía oferece risco a equipes
Além de temor sobre alta carga viral das águas, concentração de lixo na baía oferece risco a equipes
Foto: Andre Bittencourt | British Sailing Team

'Vamos todos mergulhar'

Nesta semana, a polêmica em torno da poluição da baía foi o assunto mais marcante da coletiva de imprensa que encerrou a nona visita do Comitê Olímpico Internacional (COI) ao Rio para monitorar os preparativos da cidade.

Jornalistas pressionaram os representantes olímpicos, cobrando mais providências para assegurar a despoluição da baía e perguntando se o COI iniciaria testes para medir a carga viral das águas, após uma análise encomendada pela agência de notícias Associated Press indicar a alta concentração de vírus nas águas.

A resposta foi que não – as medições dos níveis de bactérias seguirão sendo adotadas como principal referência.

Também quiseram saber se o diretor-executivo do COI para os Jogos, Christophe Dubi, cumpriria a promessa de mergulhar na baía, feita há alguns meses em entrevista à BBC Brasil.

Dubi desconversou e foi salvo pela presidente do Comitê de Coordenação do COI para a Rio 2016, Nawal el Moutawakel. "Vamos todos mergulhar", interveio a marroquina. "Proponho que todos mergulhemos juntos", disse, estendendo o convite aos jornalistas, recebido na plateia sem a menor aquiescência.

Os velejadores não podem se dar ao luxo de se recusar a entrar na água. Mas a preocupação com danos à saúde são reais, diz Park, e diversos já adoeceram durante os períodos de treino no Rio. "É impossível dizer com certeza que as doenças foram causadas pela água, mas há uma grande chance", considera.

Uma doença na hora errada pode matar as chances de uma vitória.

"Não podemos ter o sonho de uma medalha despedaçada por um vírus ou bactéria. Seria devastador para esses velejadores, muitos há mais de 10 anos trabalhando para chegar lá", diz.

Lixo flutuante

Mas a poluição das águas traz ainda um segundo cenário de pesadelo para os velejadores: o de ter a corrida atrapalhada por lixo flutuante na água – por exemplo, se um saco plástico ficar preso na parte de baixo do barco.

"Até você parar e resolver o problema, os outros te passam e é o fim da sua corrida", diz o britânico.

Park afirma esperar que as autoridades façam o necessário nos próximos 12 meses para melhorar a situação. Até hoje, diz, não houve mudanças perceptíveis. Há muito lixo na água e histórias de "objetos estranhos" se multiplicam rapidamente entre os atletas.

O técnico se solidariza com os brasileiros de quem ouve frequentes manifestações de decepção, ou vergonha, pela baía poluída.

Ele diz que a polêmica lembra os preparativos para os jogos de Barcelona em 1992, quando a poluição também era uma questão mas foi feito um grande esforço de limpeza. Com a diferença de que lá o legado foi entregue.

"Sou otimista de que muito ainda pode ser feito, mas tenho a mesma sensação que muitos brasileiros com quem converso. Acho que o tempo de falar já terminou. É hora de agir. É preciso não confundir esforço com resultados, e seguir em frente."

Neste mês, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, anunciou uma parceria com sete universidades e centros de pesquisa para colaborar no estudo e desenvolvimento de soluções para a baía. Park se surpreende com a notícia a essa altura do campeonato, a um ano dos Jogos.

"Você pode ter todas as universidades do mundo envolvidas em pesquisa, mas todo mundo sabe o que precisa acontecer. Se você parar de lançar lixo e esgoto no mar e fizer um esforço para limpar o que está lá, a situação pode mudar rapidamente."

Apesar dos riscos que vê na baía, Park não se junta à campanha lançada por Búzios, na costa fluminense, para atrair as competições olímpicas para lá.

Em primeiro lugar, considera inviável construir a infraestrutura necessária a essa altura. Em segundo, as provas da vela precisam estar "no coração dos jogos".

"Um dos objetivos das Olimpíadas é inspirar jovens no mundo todo a se envolver com o esporte, para sua própria saúde e desenvolvimento. Quando se vê um velejador na baía, sabe-se imediatamente que ele está no Rio, com a vista icônica do Pão de Açúcar. Essa é uma mensagem muito forte para o nosso esporte", diz.

Claro que isso não valeria o risco de submeter a saúde dos atletas a qualquer tipo de risco, ressalta.

"Mas por enquanto consideramos o risco administrável, senão não estaríamos trazendo nossos atletas para treinar aqui", afirma. "Estamos torcendo por Olimpíadas fantásticas aqui na Baía de Guanabara."

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