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Atletismo

Oscar Pistorius: "nasci com talento e não posso desperdiçá-lo"

2 ago 2012 - 10h01
(atualizado às 11h04)
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Marina Novaes
Direto de Londres

Com ou sem medalha, o velocista sul-africano Oscar Pistorius fará história na Olimpíada de Londres. Único atleta com as duas pernas amputadas a conseguir índice para participar dos Jogos Olímpicos, o corredor competirá individualmente nos 400 m rasos e com a equipe de seu país no revezamento 4 X 400 m - e ainda voltará à capital britânica no próximo mês para competir também na Paraolimpíada.

Oscar Pistorius é o único atleta com as duas pernas amputadas a conseguir índice para Jogos Olímpicos
Oscar Pistorius é o único atleta com as duas pernas amputadas a conseguir índice para Jogos Olímpicos
Foto: Bruno Santos / Terra

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Aos 25 anos, Pistorius - ou "Blade Runner" (corredor sobre lâminas, na tradução livre), como ficou conhecido - fala com uma serenidade e otimismo surpreendente sobre a doença congênita que o fez ter suas duas pernas amputadas abaixo dos joelhos com apenas 11 meses, e sobre a importância que seus pais tiveram ao não trata-lo como "diferente".

"Quando nós éramos crianças minha mãe costumava dizer ao meu irmão: 'você, vá calçar os sapatos', e 'Oscar, vá colocar as suas pernas", contou, sorrindo.

O atleta conversou com o Terra em uma sala reservada do centro de imprensa do Parque Olímpico, acompanhado de dois assessores. Sorridente, ele cumprimentou cada um da equipe com um aperto de mão, e disse não "ver a hora" de poder competir no Rio de Janeiro, ao se lembrar que o grupo era brasileiro. "Já fui para o Brasil várias vezes", disse, descontraído.

Lançado à fama em 2008 após ser proibido de disputar a Olimpíada de Pequim apesar de ter conseguido índice para correr, o atleta sul-africano fica sério apenas quando questionado sobre a polêmica em torno das próteses de fibra de carbono que utiliza para correr, que já foram alvo de briga judicial após a Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF, da sigla em inglês) entrar com ação. Ele ganhou a briga na Justiça contra a associação, ao provar que as próteses que usa não o favorecem na pista, mas admite que as perguntas sobre a polêmica já o cansaram. Com isso, aproveita o discurso para levantar a bandeira do "orgulho paralímpico" e da inclusão social.

Leia os principais trechos da conversa:

Terra - Como você começou a correr?

Oscar Pistorius - Eu tive uma infância muito livre e sempre tive a oportunidade de competir em vários esportes. Quando criança, eu não era muito bom na maioria deles, mas gostava só de poder tentar participar. Em 2003 eu sofri um acidente jogando rúgbi e comecei a correr para voltar a recuperar minha forma. Foi quando meu treinador começou a me inscrever para algumas competições pequenas e, quando percebi, eu já estava preso à corrida.

Terra - Você menciona muito sua família em entrevistas. Qual o papel que os seus pais tiveram na sua formação como atleta?

Oscar - Meu irmão é um ano e meio mais velho que eu, e minha irmã é mais nova. Então, quando nós éramos crianças, minha mãe costumava dizer ao meu irmão, de manhã: "você, vá calçar os sapatos", e "Oscar, vá colocar as suas pernas, e essa é a última vez que eu quero ouvir você reclamar disso" (risos). Então eu cresci sem pensar que eu tinha uma deficiência, nem achar que a minha deficiência estava me atrapalhando. Ter pena não ajuda. É isso que você tem e a vida continua, então aproveite a vida. Tem tantas coisas a se agradecer em vez de se preocupar com coisas tão pequenas, que não precisam ser um problema.

Terra - E vem alguém da sua família torcer por você em Londres (a mãe dele morreu quando Pistorius tinha 15 anos e os familiares moram na África do Sul)?

Oscar -

Sim! Meu irmão e minha irmã chegam na sexta-feira (dia 3), e a minha avó de 89 anos também vem. E também vem meus tios, um primo, dois amigos... Eu tenho uma família grande, então é legal que alguns deles conseguem vir. Eu estou muito entusiasmado. Para qualquer atleta esse é um momento muito importante, e eu tenho sorte de ter tantas pessoas me dando apoio.

Terra - Qual foi sua reação quando soube que finalmente poderia participar de uma Olimpíada e da Paraolimpíada também?

Oscar -

Foi algo inacreditavelmente maravilhoso. Esse é um objetivo que eu vinha buscando alcançar há seis anos, e eu consegui o tempo para classificação na temporada passada (na Itália, quando alcançou índice de 45s07 nos 400 m, e foi convidado pela Federação de Atletismo da África do Sul a participar da Olimpíada). Esse era um objetivo que eu realmente tinha que alcançar. E aí algumas vezes eu me senti mais confiante (de que se sairá bem em Londres), outras não muito... Então tem sido um sobe e desce de emoções o tempo todo desde então.

Terra - Mas se você tivesse de escolher entre participar da Olimpíada ou da Paraolimpíada, qual seria sua escolha? Se isso fosse realmente necessário...

Oscar -

As duas competições são igualmente importantes. Mas no fim das contas, o que importa não é a competição, mas o desempenho. Eu quero correr a melhor corrida que eu puder conseguir. Eu quero ser o mais forte que eu conseguir ser naquele dia. Eu prefiro, em qualquer competição, chegar por último, mas alcançar meu melhor tempo, que ganhar com um tempo ruim. Então as duas competições são muito importantes.

Terra - E como é sua rotina de treinamentos? Você tem algum cuidado especial com a saúde?

Oscar -

Meu dia é todo programado de acordo com os meus treinamentos. Eu treino todos os dias, mas eu descanso bastante também. E eu sempre tento pesquisar sobre formas de ficar mais saudável, sobre dietas que fazem bem, o que ajuda a recuperar meus músculos mais rapidamente... Então eu tento sempre pesquisar sobre levar uma vida melhor mesmo. Então eu como bem, só bebo água ou chá, e eu acredito que em 2016 (na Olimpíada do Rio), eu provavelmente vou estar lá e na minha melhor forma.

Terra - Parece uma vida sacrificante, não?

Oscar -

Muito sacrificante! (risos). Mas ninguém faz nada que não queira na vida. Eu fui abençoado, eu nasci com um talento e não posso desperdiçá-lo. Então sim, são muitos sacrifícios, e não é só em relação à dieta, mas também na vida pessoal, a gente viaja muito, fica muito longe da família. Mas os sacrifícios fazem parte, e poder participar de uma Olimpíada e da Paraolimpíada é um dos melhores momentos, um dos mais orgulhosos, na vida de qualquer atleta.

Terra - Você frequentemente é questionado sobre as suas próteses, se elas o favorecem ou não na pista (em relação aos concorrentes). Isso te cansa? Como você lida com as críticas?

Oscar -

Essa pergunta aparece de vez em quando mesmo. É uma daquelas coisas (da vida), eu sempre prefiro focar mais na corrida. Nós fizemos em 2008 vários testes, quando fomos ao Tribunal de Esportes (contra a IAAF), e eles decidiram que as próteses que eu uso não me davam vantagem alguma. As próteses que eu uso tem sido usadas há 16 anos e milhares de pares já foram fabricadas, mas nenhum outro atleta jamais conseguiu chegar perto do tempo que eu consegui atingir. E o meu objetivo não é correr em nenhum equipamento novo. Eu tenho essas próteses que tenho, e já foi provado que não dá nenhuma vantagem. Então se houve qualquer melhora, foi no meu próprio desempenho na corrida. E não sou só eu, muitos atletas usam as mesmas próteses que eu. Mais de 70% dos atletas paraolímpicos usam o mesmo modelo. Então eu só tento correr e tento ser o melhor que eu posso.

Terra - E o apelido "Blade Runner" (corredor sobre lâminas, na tradução livre) te incomoda?

Oscar -

(Ri) Eu não ligo. Os apelidos são coisas que pegam nos atletas. Não é o apelido que eu escolhi pra mim mesmo, mas não é ruim. Desde que não tenha uma conotação negativa, não há motivo para eu não gostar.

Terra - Apesar da polêmica, você é considerado uma inspiração por muitos. Qual você acha que será o impacto da sua participação na Olimpíada de Londres entre os atletas paraolímpicos?

Oscar -

Eu sempre fui uma pessoa muito orgulhosa de ser um atleta paraolímpico. E eu realmente acho que alguns dos paraolímpicos são alguns dos esportistas mais inspiradores do mundo. O fato de eu estar aqui me deixa feliz por saber que eu tenho um grande time por trás de mim.

Terra - E quais suas expectativas em relação à Olimpíada do Rio? Você espera competir lá também nos dois Jogos?

Oscar -

Eu já fui ao Brasil algumas vezes, já passei férias em Florianópolis, conheci São Paulo, o Rio... E eu acho que os brasileiros são muito parecidos com os sul-africanos. São muito, muito humildes, muito apaixonados pela vida, muito empolgados. Então eu não posso esperar para ir lá. Eu sei que quando eu chegar lá será uma experiência incrível, de virar a cabeça. E eu espero poder encerrar a minha carreira lá, em frente a uma multidão no Brasil.

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Fonte: Terra
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