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Armstrong abre o jogo e se sente o Voldemort do ciclismo

12 jun 2015 - 07h12
(atualizado às 08h59)
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Visto como a encarnação do mal, ninguém ousa falar seu nome: banido para sempre do ciclismo, Lance Armstrong se sente como Lord Voldemort, o vilão da saga Harry Potter. Em entrevista na sua casa de Aspen, Colorado, o americano de 43 anos abordou sem tabu vários assuntos: da sua imagem manchada pelo doping ao engajamento em causas humanitárias.

Armstrong dominou o ciclismo de forma esmagadora na última década, sagrando-se heptacampeão da Volta da França, de 1999 a 2005, mas teve todos os seus títulos retirados por causa de doping. Banido para sempre do esporte, o americano ainda não digeriu a punição.

Lance Armstrong teve a vida arruinada após ter escândalo de doping revelado
Lance Armstrong teve a vida arruinada após ter escândalo de doping revelado
Foto: George Burns / Getty Images

"Como se chama mesmo a personagem de Harry Potter 'cujo nome não deve ser pronunciado'. É Voldemort? Então, para mim, é a mesma coisa para tudo", afirmou Armstrong. "Se você assistir à Volta da França na TV americana, é como se não pudessem mencionar meu nome", acrescentou, em tom de desabafo. "As pessoas não são estúpidas. Todo mundo sabe o que aconteceu nas décadas de 90 e 2000, mas se olhar para os resultados oficiais, não há vencedor, apenas vice-campeões ou terceiros colocados. Não faz sentido. Daqui a dez anos, ninguém mais vai aceitar isso".

O ex-campeão caiu do pedestal e não saiu ileso. Da glória ao banco dos réus, Armstrong admite tentar resolver os problemas pessoais no divã. "É estranho consultar um psicanalista. As pessoas perguntam: 'como assim, você é um cara frágil?'. Mas na verdade, temos profissionais para nos assessorar em todos os aspectos da nossa vida. Estou mais ou menos vendo um psicanalista faz um tempo. Cada vez mais, nos últimos meses. Sempre podemos melhorar como pessoas, e só Deus sabe o quanto eu ainda posso melhorar. Por muito tempo, fui um safado total", admitiu.

Lance Armstrong: dou topo ao fundo do poço
Lance Armstrong: dou topo ao fundo do poço
Foto: Divulgação

Em julho começa o julgamento de Armstrong, sendo que na parte lesada encontram-se o ex-companheiro de equipe Floyd Landis e o governo americano. O ciclista era patrocinado pela US Postal, serviço de correios dos Estados Unidos, que é um órgão público, e cobra indenizações milionárias.

"É um julgamento de 100 milhões de dólares" avisa Armstrong. "Tudo que posso dizer é que estou confiante. Mas não esbanjo tanta confiança, porque dá azar. Se os jurados me mandarem pagar 100 milhões, Landis vai receber 33! Se eu perder, não vou mais poder receber vocês nesta casa", lembra o americano, no seu luxuoso chalé de Aspen, a estação de esqui mais conceituada dos Estados Unidos.

"Na verdade, não vou ter mais casa nenhuma. Não tenho 100 milhões de dólares", garante o texano, que afirma ter perdido 75 milhões de dólares em contratos de patrocínio desde que confessou ter se dopado, em janeiro de 2013, no programa da apresentadora Oprah Winfrey. "Sinto muito pelos fãs, pelas pessoas que me apoiaram, me defenderam, e que, afinal de contas, se sentiram como idiotas. Realmente sinto muito por isso. Estou preocupado com Mary-Jane, no Ohio, ou Doug, na Pensilvânia, ou Liam, em Birmingham. Se pudesse iria visitar todas essas pessoas ao redor do mundo e pediria desculpas, olhos nos olhos", decretou.

 Lance Armstrong foi heptacampeão da Volta da França
Lance Armstrong foi heptacampeão da Volta da França
Foto: Getty Images / Terra
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