PUBLICIDADE

LANCE!

'As pessoas esquecem facilmente o que os atletas fizeram', afirma Popó

15 ago 2015 - 09h26
Compartilhar
Exibir comentários

Popó se prepara há cinco meses para retornar aos ringues em busca do título mundial (Foto: Ivan Storti)

Tetracampeão mundial. São poucos os atletas que podem colocar essa marca em seus currículos. Acelino Freitas, o Popó, aos 39 anos, pode se orgulhar de usar essa frase precedendo o seu nome. Na carreira, conquistou 39 vitórias em 41 lutas, dois títulos mundiais nos leves e dois nos super-pena. Mas, ainda assim, isso não é o bastante para ele. Neste sábado, a partir das 19h30 (card preliminar), ele volta aos ringues em Santos (SP).

Durante uma pausa em um de seus vários treinos no litoral paulista, o lutador atendeu a reportagem do LANCE!, e afirmou que não quer apenas lutar mais uma ou duas vezes, quer ser pentacampeão mundial de boxe.

– No ano que vem, quero o título mundial! Me imagino nocauteando Floyd Mayweather e Manny Pacquiao – afirmou o brasileiro.

A rivalidade entre o boxe e o MMA, sua carreira no passado e seus planos futuros, o esporte atualmente. Esses e vários outros assuntos você confere abaixo, na entrevista exclusiva com Popó:

LANCE! - Por que voltar a lutar?

Popó - Estou com 39 anos, mas com carinha de 29 (risos). Volto pelo fato de não ter parado por lesão, parei por vontade própria. Quando a gente para por lesão, é complicado voltar em um esporte de contato que você precisa ter um preparo físico muito grande, uma preparação grande na parte técnica. Estou voltando por vontade mesmo. Gosto do boxe, do esporte que eu faço. Esse esporte mudou minha vida. Mas, se tivesse parado por lesão, eu não voltaria.

L! - Poucos conseguem ter uma longevidade maior no boxe. O que fazer para lutar com uma idade avançada?

P - Temos o Floyd Mayweather (38 anos), o Manny Pacquiao (36), o Bernard Hopkins (50), o George Foreman (campeão mundial aos 45), o Evander Holyfield (campeão aos 47)... O que importa é o vigor físico, se cuidar, se preparar, abdicar de muitas coisas. Eles fizeram isso. Eu nunca bebi, nunca fumei, a única coisa que fiz foi abusar um pouco da boca (risos). Comi muito porque passei 25 anos no boxe baixando peso. Chega uma hora que a gente quer comer. Mas estar bem psicologicamente e fisicamente, é essencial para voltar bem. Eu, 100% fisicamente, volto e faço qualquer luta.

L! - O que você precisou fazer para voltar a lutar?

P - Voltar a atividade. Me preparei cinco meses para essa luta, não foi uma preparação de um, dois meses. Tenho de treinar o físico, que ajuda o técnico. Corri todos os dias, de 50 minutos a uma hora, o que é muito mais que estarei dentro do ringue, no qual ficarei por 30 minutos. Sempre treino mais do que vou lutar. Fiz sparrings de cinco, oito e dez rounds, com cinco atletas diferentes. Caras com o gás lá em cima, jovens, e consegui machucar quatro. Quando vejo isso, eu digo: “Pô, eu, com 39 anos, lutando contra essa garotada e machucando? Estou preparado”.

L! - Como está sua forma?

P - Estou bem de peso, bem para lutar, fisicamente e tecnicamente.

Palco do treinamento de Popó foi a praia de Santos, no litoral de São Paulo (Foto: Ivan Storti)

L! - O que fará depois dessa luta?

P - Tenho outra luta em Belém (PA), em outubro. A gente está estudando uns três ou quatro adversários, mas provavelmente será um chileno com o cartel bom. É um cara bom, que vem pra cima. Acho que vou lutar com ele.

L! - Até onde você consegue chegar?

P - No ano que vem, quero o título mundial! Quero baixar de peso, não me sinto bem nessa categoria (super meio-médio), é muito pesada. Estou começando, tenho de me adaptar. Quero lutar na categoria do Pacquiao e do Mayweather (médio-ligeiro).

L! - Você consegue derrotar os dois?

P - Treinando, me dedicando e me preparando, com certeza. Depois dessa luta, nossa volta vai mexer com o mundo do boxe. Acho que temos tudo para chegar lá. É só eles darem oportunidade, porque eles são os próprios promotores e escolhem adversários. Esse é o único problema. Se eu não tiver essa oportunidade, como nunca tive deles, fica difícil. São lutadores sem pegada, não têm a mão pesada. Vão arriscar por quê? Perder a invencibilidade? Os milhões que têm?

L! - Você se imagina lutando com o Mayweather e o Pacquiao?

P - Imagino um nocaute neles. Fulminante. Ontem estava correndo e pensando nisso. Gosto de projetar o que quero, e vou, fazer em cima deles. Qual golpe poderia derrubar, qual golpe eles não têm facilidade e eu tenho... Lógico, sempre imaginamos e pensamos no melhor. Posso ser o pior, mas nunca posso pensar na derrota.

L! - Você comentou a luta deles. E aí, quem ganhou?

P - O Mayweather pode ter ganho na efetividade dos golpes, mas quem procurou a luta e golpeou mais, seja na guarda ou não, foi o Pacquiao. Mas, infelizmente, o boxe é efetividade.

L! - Como vê o boxe mundial hoje?

P - Sem palavras. Saber que, hoje, o atleta mais bem pago do mundo está no boxe (Mayweather)... Se colocar os melhores do mundo, Messi, Neymar, e outros, não têm o salário que o cara do meu esporte tem. A gente fica feliz.

L! - O boxe carece de ídolos?

P - No Brasil nós nunca tivemos ídolos no boxe. Graças a Deus eu pude retomar isso, porque o único ídolo que tínhamos, que é mais reconhecido fora do Brasil do que aqui, foi o Éder Jofre, o Galinho de Ouro. Para você ter ideia, o Éder está no Hall da Fama do Boxe e com itens em um museu nos Estados Unidos. Vieram fazer isso (reconhecer) para ele há uns três meses, em Santos. E não foi a máquina pública, foi um empresário que fez um busto dos três grandes campeões, Éder, Miguel de Oliveira e eu, e colocou lá. As pessoas fazem isso quando os caras morrem, e para tentar ganhar voto. Quando você vê um empresário, que gosta do boxe, fazendo isso com o próprio dinheiro...

L! - O Brasil não reconhece ídolos?

P - Não. As pessoas esquecem muito fácil o que os atletas fizeram. Se você fizer algo bom e algo ruim, o de bom não vale mais. Há pouco publiquei um vídeo em uma rede social e um cara falou: “Vê se não faz igual ao Minotauro (lutador do UFC)”. Eu até marquei ele e respondi: “Eu não luto MMA, eu luto boxe. Você está falando besteira”. Não tem nada a ver isso. Às vezes eu fico meio chateado. Por isso que o Romário vai lá e manda as pessoas tomarem no c... no Twitter (risos). Mas eu tenho paciência, né.

Essa será a primeira luta de Popó desde 2012, quando fez um duelo de exibição contra Michael Oliveira (Foto: Ivan Storti)

L! - O MMA tomou um pouco do cenário das lutas...

P - Pois é, tivemos quatro campeões simultâneos. No boxe não, só eu e o Sertão (Valdemir Pereira, nos penas), mas muito rápido, ele foi campeão mundial por seis meses só.

L! - Mas foi isso que alavancou o MMA? Brasileiros com títulos?

P - É claro. Na Argentina não passa MMA. Lá eles têm quatro ou cinco campeões mundiais de boxe. Lá, o segundo maior esporte é o boxe. Veja o Guga (Kuerten). O tênis estava lá em cima porque tinha ele para levantar. A Fórmula 1 estava no alto porque tinha o (Ayrton) Senna. O boxe é igual. É coisa de época. Há pouco tempo era o surfe, com o (Gabriel) Medina. Aí ele começou a cair e parou. Nós, brasileiros, vivemos de modismos. O que está bem, está bom, e vamos torcer. Já que o futebol não dá isso...

L! - Hoje os caras do MMA desafiam os do boxe. Dá para comparar uma coisa com a outra?

P - Desafiar é uma coisa, lutar é outra. Pergunta se já saiu alguma luta. É mais promoção, não tem nada a ver uma coisa com a outra. Eu não lutaria MMA. Um lutador precisa treinar e saber se tem vocação para lutar. Note, têm caras no MMA que não têm vocação para dar um soco, mas são bons de wrestling, no chão... O José Aldo, para mim, é o melhor lutador de boxe que já vi no MMA. Sou fã dele. Mas não sei se ele se daria bem no boxe porque, se fosse, já teria ido para lá. É o esporte do momento. Melhor ficar lá mesmo...

L! - Você nunca teve vontade de praticar o MMA?

P - Não. Não paga bem, não. E ainda tiram o patrocinador dos caras, que dá o dinheiro do dia a dia, que o cara gasta no suplemento, na academia... Eles proibiram isso. E aí? Paga pouco e não deixa o cara receber? Os lutadores deviam fazer uma campanha e não lutar mais no UFC até isso parar.

L! - Você se espelhou em alguém nessa sua volta?

P - Sim, pelo fato de o Pacquiao e o Mayweather terem quase a mesma idade que eu. Os dois melhores campeões com a mesma idade que eu? Se eles podem, eu também.

L! - Qual foi seu maior rival no boxe?

P - A balança (risos). Para bater peso. Dificuldades eu tive, muitas, mas não foram rivais, foram glórias. Meu maior rival no esporte foi a balança.

L! - E com relação a adversários?

P - O (Joel) Casamayor, uma luta de 12 rounds na qual levei 45 pontos no rosto, no duelo pela unificação. E o Jorge Barrios, o argentino, que ganhei por nocaute no último round. Esses dois foram casca grossa.

Nota da Redação: Em 2002, Popó unificou os títulos da Organização (WBO) e da Associação Mundial de boxe (WBA) contra o cubano Casamayor, vencendo por pontos (decisão unânime). Contra Barrios, em 2003, venceu por nocaute e tornou-se supercampeão da WBO.

L! - Qual foi a sua maior luta?

P - Foi com o russo, o Anatoli Alexandrov, minha luta do primeiro título mundial, que completou 16 anos no dia 7 de agosto.

NR: Em 1999, Popó nocauteou Alexandrov no primeiro round, e o rival ficou inconsciente por cinco minutos. O brasileiro foi campeão da WBO.

L! - Quem foi o maior boxeador da história, na sua opinião?

P - Julio César Chávez. O estilo de luta dele, a mão que entrava, o gancho de esquerda... Ele boxeava bonito. O boxe mexicano é bonito. E o Chávez mostrava. A verdadeira nobre arte.

L! - E quem foi o melhor do Brasil?

P - Éder Jofre. Pela época, a fase e as lutas duras que fez. Mas não teve as mesmas dificuldades que eu. Eu perguntei: “Éder, você baixava de peso?”, e ele dizia que não, só três quilos, e eu baixava 16. Fiz 12 defesas de título e unifiquei duas categorias, ele não. Fomos campeões mundiais em duas classes. Não sei como está, mas, na minha concepção, para ser modesto, acho que o Éder foi o cara.

Além de Popó, seu filho Vítor, à sua direita, também luta no evento em Santos (Foto: Ivan Storti)

L! - Como vê o boxe no Brasil hoje?

P - Para mim, está ótimo. Quando fui medalhista de prata no Pan (1995), eu ganhei US$ 100. Hoje, os caras ganham salário de R$ 25 mil até. Ganham Bolsa Pódio e aquela coisa toda. O boxe está em outra fase.

L! - Você acha que falta renovação?

P - Não. A renovação que está sendo feita é em toda a estrutura. Hoje temos fisiologista, nutricionista, dentista, patrocínio, Comitê Olímpico, Ministério do Esporte, todos ajudando. Se melhorar, estraga.

L! - Como você vê a carreira do Esquiva Falcão, Yamaguchi Falcão e do Everton Lopes?

P - Gosto muito dos três, da forma de luta, da coragem, da determinação. Ainda está longe de falar de título mundial. O Everton tem três lutas, Yamaguchi tem sete, Esquiva tem dez... No começo, eles pegam alguns adversários só para levantar o cartel, é normal. Lá na frente eles vão provar a qualidade deles, e eu acredito muito nisso. Dando uma oportunidade, eles vão segurar.

L! - Você trabalhou na política (foi deputado federal pela Bahia). Viu muitas “mutretas” lá?

P - Rapaz, a gente só vê quando se mistura. Não era meu caso. Entrei de cabeça erguida e saí assim. Ninguém tem o que falar de mim, só coisas boas. Fiz um bom trabalho.

L! - Voltaria para a política?

P - Acho que sim. A gente tem que colocar pessoas que não precisem da política para sobreviver, que vão lá para fazer. Esse foi o meu caso. Só que, infelizmente, isso não dá volta. O que vale é quando você rouba, faz caixa-dois, tem dinheiro para pagar campanha, uma caixa de cerveja... Esse é o nosso país, infelizmente. Os políticos antigos já vêm fazendo isso. Aí quem entra dizendo que quer ajudar o povo, eles já vêm nesse intuito: “Olha, eu te ajudo, mas quero tanto, quero isso, e aquilo”.

L! - Te ofereceram suborno ou te pediram algo enquanto você estava na política?

P - Claro. Pedidos vieram de todas as formas. Desde pedidos para que você pague aluguel atrasado, água, luz... Por voto, eles te pedem tudo.

L! - Você acha que a Olimpíada vai ajudar o esporte no Brasil?

P - Acho que podemos bater nosso recorde de medalhas da Olimpíada. Acredito muito no Ministério do Esporte para alavancar as coisas. Temos um ano para trabalhar ainda. O que eu gostaria muito é que o legado da Olimpíada não fosse o mesmo do Pan de 2007, no Rio de Janeiro. O legado do Pan acabou. E a Olimpíada precisa deixar um trabalho social legal. A Copa do Mundo não deixou nenhum legado, só tirou. O Pan não deixou legado, só destruiu. É o nosso imposto, nosso dinheiro, que foi jogado fora.

L! - Qual seu maior orgulho na carreira e o seu maior arrependimento?

P - Meu maior orgulho é ser tetracampeão mundial. Queria só um título e, graças a Deus, ele foi tão bom comigo que me deu quatro. Arrependimentos? Não tenho. O esporte só me deu alegrias.

Rival de Popó tem cartel fraco

Mesmo aos 39 anos, Popó não deve ter dificuldades em seu retorno. Neste sábado, a partir das 19h30 (card preliminar), na Arena Santos, em Santos (SP), o brasileiro encara o argentino Mateo “El Chino” Veron. Apesar de ser 13 anos mais jovem do que o tetracampeão mundial, Veron tem um cartel irregular, disputando 41 lutas e triunfando em apenas 21 delas.

Além de Popó, outros atrativos da noite serão os duelos de seu sobrinho, Igor Freitas, que luta contra Vagner Gabriel, e de seu filho, Vitor Freitas, que duela pelo título brasileiro com Sydney Siqueira.

Os ingressos para assistir as lutas ainda estão à venda, e variam de R$ 20 a R$ 300, podendo ser adquiridos no site “compreingresso.com”.

Lance!
Compartilhar
Publicidade
Publicidade