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Caio Pessagno: 'Habilidades do pôquer para jogadores de futebol'

2 set 2015 - 11h18
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"Sou fanático por futebol. Sempre brinco que se não fosse jogador de pôquer, seria jogador de futebol. Sou torcedor do São Paulo e tenho sofrido nos últimos jogos. Essa má fase do meu tricolor me fez refletir sobre uma coisa: que habilidade que eu desenvolvi no pôquer poderia ajudar na carreira de um jogador de futebol?

Parei pra pensar um pouco e conclui que existem três habilidades muito desenvolvidas no pôquer que também são muito essenciais pra quem joga bola por dinheiro: controle emocional, raciocínio rápido e disciplina.

Fiz a analogia com futebol, mas acho que a maioria dos atletas profissionais precisam muito dessas habilidades. Aqui vão as minhas explicações de como essas três características do pôquer poderiam ajudar um boleiro:

CONTROLE EMOCIONAL

Sou grande fã do Luis Fabiano. Mas sempre imagino como o Luis reagiria nas bad beats horrorosas que eu tomo todo santo dia quando estou trabalhando. Se ele já estoura com qualquer erro do juiz, imagina se perdesse um AA x KK na bolha da mesa final de um torneio? Era um mouse por dia! Hahaha!

O Luis é um exemplo de muitos jogadores que se prejudicam por perder a cabeça facilmente. No futebol, isso acarreta em cartões, expulsões, suspensões e atuações mais fracas, já que muitas vezes o descontrole emocional leva a erros bobos.

No pôquer, aprendemos cedo que perder a cabeça significa prejuízo. Você passa o dia inteiro tomando bad beats e sendo traído pela matemática e suas probabilidades. Se a bola pune, Muricy, você não imagina como é o baralho!

Com o tempo, você passa a entender que as rasteiras do baralho (como os erros dos juízes, por exemplo) fazem parte da rotina de trabalho. E como as bad beats estão sempre lá, não importa o que aconteça, jogar pôquer te força a aprender a perder e a controlar os nervos diante de uma grande frustração.

Se o Luis Fabiano estivesse acostumado com bad beats, tenho certeza de que não ia se importar tanto com erros de arbitragem e provocações dos adversários.

RACIOCÍNIO RÁPIDO

Passar, driblar ou chutar? Correr ou brecar? Driblar pra esquerda ou pra direita? Um jogador de futebol tem uma fração de segundo para tomar uma decisão que vai fazer uma jogada dar certo ou errado. O ideal é ele saber o que vai fazer com a bola antes mesmo de ela chegar.

Pra isso, o cara precisa analisar uma série de informações quase instantaneamente. Velocidade da bola, efeito na bola, velocidade da corrida, posição do companheiro, posição dos adversários, e por aí vai…

No pôquer, a gente faz exatamente isso. A diferença é que as informações que analisamos são incompletas. Afinal, não estamos “vendo a bola”, ou seja, nunca sabemos de fato quais são as cartas do oponente.

Porém, quanto mais habilidade para analisar todos os fatores de uma jogada, maior a chance de tomar a decisão certa e ganhar a mão. Quanto mais decisões certas, mais lucro. Essa é nossa lógica.

Em um único dia de grind on-line você tem de tomar milhares de decisões, sendo dezenas delas bem complicadas e importantes, e sob grande pressão porque serão determinantes no seu resultado. Por isso, o pôquer é um ótimo exercício para melhorar o raciocínio e a tomada de decisões.

DISCIPLINA

Jogador tem de treinar todo dia, não pode beber, não pode fumar, não pode ir pra festa, tem de se alimentar direito, dormir na hora certa, fisioterapia, entrevista, concentração, jogo… não é fácil.

Um dos maiores exemplos de jogador disciplinado da atualidade é o Cristiano Ronaldo. O português só consegue disputar o título de melhor do mundo todo ano contra o Messi porque é um dos que mais treina no time do Real Madrid. Isso não aconteceria se ele treinasse como o Valdivia, pode ter certeza.

Quando Messi foi o melhor do mundo quatro vezes seguidas (2009-2012), ninguém achava que o Cristiano podia superá-lo. Mas o portuga continuou treinando como um louco atrás do seu objetivo e faz duas temporadas que é ele o melhor jogador do planeta.

No pôquer, a gente pensa a longo prazo, como o Cristiano. Um exemplo simples: Se uma jogada tem 70% de chance de vitória, a cada 100 vezes que eu fizer essa jogada, vou ganhar cerca de 70. Mesmo que eu perca as 10 primeiras, eu sei que a matemática está a meu favor. Mas preciso de disciplina pra continuar fazendo a coisa certa, mesmo que o resultado não apareça logo.

Depois, quando eu vejo meu gráfico de lucro apontando pro céu, tenho a mesma sensação que o Cristiano Ronaldo deve ter quando bate uma falta no ângulo ou sai pro contra-ataque dois metros atrás do zagueiro e chega três na frente: o treino vale a pena.

Por isso o pôquer nos faz entender que não é um dia de treino que faz a diferença, mas semanas, meses e até anos de dedicação e disciplina. A gente passa um ano inteiro sem nenhum grande resultado, mas aí vem aquele torneio onde a oportunidade aparece e nós estamos preparados pra ganhar. É confiar no trabalho e ter paciência para colher o resultado.

Um boleiro que joga pôquer tem muito mais chance de ser um Ricardo Oliveira ou um Zé Roberto do que um Valdivia..."

Caio Pessagno (Team PokerStars Online)

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