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'Cielo ainda é forte candidato a pódio na Rio-2016', aposta astro americano

5 out 2015 - 09h11
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No embalo de bandas como Nirvana, Pearl Jam, Red Hot Chili Peppers e The Smashing Pumpkins, Anthony Ervin encontrou respostas para perguntas que norteariam sua vida. Campeão olímpico em Sydney (AUS), em 2000, nos 50m livre, e um dos adversários do brasileiro Cesar Cielo, o americano mergulhou na música tanto para se libertar das pressões do esporte quanto para se reinventar como atleta de alto nível.

Até os Jogos Olímpicos Rio-2016, para os quais tenta se classificar, ele terá completado 35 anos. Não é mais o mesmo que chamou a atenção do mundo ao ganhar a medalha de ouro na disputa mais rápida da natação, em empate histórico com o compatriota Garry Hall Jr. Mas ainda persegue o sucesso. Um dos únicos nadadores medalhistas em Sydney ainda em atividade (o outro é o australiano Grant Hackett, três vezes campeão olímpico), ele quer colocar a sabedoria à prova na tentativa de garantir presença no evento pela terceira vez.

Apesar da má fase de Cielo, que neste ano abandonou o Mundial de Kazan (RUS) com uma lesão no ombro esquerdo e terminou uma temporada sem grandes conquistas pela primeira vez em oito anos, Ervin acredita que o oponente ainda é um dos principais candidatos a uma medalha na Rio-2016. Pelo menos foi o que deixou claro em entrevista ao LANCE!, durante passagem pelo Rio de Janeiro, em setembro.

Famoso por ter adotado um estilo de vida tumultuado após o feito mais marcante de sua carreira, o astro americano enterrou quase todas as marcas do passado nebuloso graças à vontade de retornar às piscinas. Entre 2004 e 2010, ele teve problemas em razão do consumo abusivo de álcool e drogas. Só o rock, sempre um aliado, o atleta mantém na rotina até hoje.

A personalidade agitada é marca registrada do atleta desde a infância. Na adolescência, foi diagnosticado com Síndrome de Tourette, um transtorno neuropsiquiátrico que provoca movimentos involuntários de músculos. Assim como a natação, a música o ajudou a ter foco. Ervin até chegou a formar uma banda, na qual era guitarrista.

Em 2011, ele conseguiu a classificação para os Jogos de Londres (ING), nos quais ficou em quinto lugar (21s78). Cielo foi bronze na ocasião (21s59), na prova vencida pelo francês Florent Manaudou (21s34).

Anthony Ervin posa para o LANCE! em passagem pelo Rio (Foto: Wagner Meier/Lancepress!)

Para confirmar presença nos Jogos do Rio, o americano precisa passar pela seletiva interna até julho. No Desafio Raia Rápida, no Rio de Janeiro, em setembro, ele mostrou que está em forma ao vencer a prova dos 50m livre (22s43), na qual superou o brasileiro Henrique Martins, que substituiu Matheus Santana, com uma infecção bacteriana. Apesar disso, os Estados Unidos perderam o título do torneio para o Brasil. 

Confira a entrevista de Anthony Ervin ao LANCE!:

Aos 34 anos, você está confiante que conseguirá voltar ao Rio no ano que vem?

É um mistério se vou conseguir (risos). Estou confiante na maneira como vou me comportar até o ano que vem e no estilo de vida que pretendo levar nesse período.

Você é o único medalhista  olímpico de 2000 ainda em atividade na natação. Até que ponto a experiência te ajuda e até que ponto o desgaste físico atrapalha?

Acho que experiência significa sabedoria. Quem não gostaria de ter conhecimento sobre como as coisas funcionam? Isso me permite realizar feitos surpreendentes. Quanto mais velho, consigo controlar melhor meu corpo, de modo que ele não sofra os impactos, não estoure.

Um de seus grandes rivais sempre foi Cesar Cielo, que não vive uma grande fase. Vocês já conversaram alguma vez? Acha que ele tem condições de surpreender a tempo da Olimpíada?

Nunca conversamos, mas já enfrentei Cesar em uma série de ocasiões e em várias delas ele me venceu. Acho que ainda é um forte candidato ao pódio no Rio. Não está com uma idade avançada e acredito que ele e seu técnico saibam qual é o caminho certo para ele voltar a atingir seus objetivos. É um grande competidor.

O destino de sua medalha de ouro é bastante conhecido, pois você a leiloou para arrecadar dinheiro (cerca de R$ 66 mil) como forma de ajudar as vitimas do Tsunami da Ásia, em 2004. Hoje, o que pensa quando lembra da sua atitude?

Passam muitas lembranças pela minha cabeça. Eu ainda penso muito sobre o que fiz. Sinto orgulho de ter feito aquilo. Não importa quanto tempo se passou, sei que fiz a escolha certa. Leiloei minha medalha para aliviar os sobreviventes. Muitas vidas se foram naquela tragédia. Não poderia ignorar. Foi no final de 2004. Tudo aconteceu perto do Natal. Estava com minha família, cercado pelo espírito da data. Isso me influenciou.

Mas ter a medalha e olhar para ela não é algo que você faz questão? Dizem que você perdeu a prata no 4x100m em Sydney...

Considero todas importantes, sim! Medalhas convencem as pessoas da sua excelência, te colocam em um patamar de distância do resto. É por causa delas que muitos querem ouvir o que eu tenho a dizer (risos). Não perdi a medalha, é uma lenda. Houve um tempo em que eu achei que tinha perdido. Faz tempo. Falei isso para alguém da mídia, mas meus pais sabiam onde ela estava.

Como se sente hoje ao relembrar o momento conturbado que viveu com drogas e álcool?

Hoje, eu acho mais fácil falar sobre isso do que há alguns anos. Muitos pensam que comecei a ter problemas com álcool e drogas depois que parei de nadar, mas não é verdade. Isso aconteceu quando eu ainda competia. Depois que parei, não fiquei fazendo loucuras. Foi uma parte da minha vida que quis deixar de lado. Não é o consumo de álcool e as drogas o problema, mas o que leva as pessoas a abusarem dessas substâncias. Eu coloquei na cabeça que queria ser um nadador competitivo, e os problemas se foram.

Você já teve uma banda de rock. Como é sua ligação com a música?

Sim, é verdade, mas não era nada muito profissional, de sair viajando. Era no improviso. A música me ajudou de alguma forma no meu crescimento, em descobrir quem eu era como pessoa. Em certo momento, eu queria me libertar, viver novas experiências. Era algo que aconteceria após eu cumprir minha missão nas piscinas. Havia muita pressão de todos os lados para eu seguir nadando.

QUEM É ELE

Nome

Anthony Lee Ervin (34 anos)

Data e local de nascimento

26 de maio de 1981, em Burank (EUA)

Altura e peso

1,91m e 75kg

Principais conquistas

Campeão olímpico dos 50m livre em Sydney-2000; campeão mundial dos 50m e 100m livre em Fukuoka (JPN)-2001, vice-campeão pan-pacífico nos 50m livre em Yokohama (JPN)-2002 e em Gold Coast (AUS)-2014.

Anthony Ervin em ação em passagem pelo Rio para o Desafio Raia Rápida (Foto: Wagner Meier/Lancepress!)

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