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Chamado por Dunga, Rafinha pode jogar pela seleção alemã

18 set 2015 - 07h14
(atualizado às 12h02)
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Apesar de convocado por Dunga, Rafinha pode não defender a Seleção nos jogos contra Chile e Venezuela, pelas Eliminatórias da Copa de 2018. O motivo? O coração do lateral-direito do Bayern de Munique está dividido.

O jogador, neste momento, pensa se vai aceitar a convocação, afinal deu entrada para retirar o passaporte alemão com o objetivo de defender a seleção do país. Há dez anos na Alemanha, o lateral se diz totalmente adaptado à nação europeia, além de possuir o desejo de permanecer em Munique com a família após se aposentar do futebol.

Rafinha poderia vestir a camisa da Alemanha, já que não participou de jogos oficiais com a camisa amarela. Até então, a única convocação do lateral-direito para a Seleção Brasileira havia sido no último amistoso antes da Copa do Mundo de 2014, contra a África do Sul.

Em entrevista ao LANCE!, concedida antes da convocação ocorrida na última quinta-feira, Rafinha reiterou que não tinha o mesmo desejo de outrora de defender a Seleção. O lateral também falou sobre a relação com Pep Guardiola e revelou os motivos que o fizeram criticar os brasileiros do Shakthar Donetsk em áudio de WhatsApp que vazou ao público.

Confira a entrevista completa com o brasileiro, multicampeão pelo Bayern, que pode ser o substituto de Philipp Lahm na seleção alemã:

LANCE!: Você chegou à Alemanha há 10 anos. Já se acostumou?

Rafinha: Dez anos se passaram. Não tem como não estar adaptado. Falo fluente o idioma, estou adaptado ao clima. Esse frio faz mal, faz muito frio aqui, mas estou adaptado totalmente. Alemanha é minha casa. Passei cinco anos no Schalke, cinco anos no Coritiba e agora é meu quinto ano no Bayern. Gosto de ficar cinco anos nos clubes (risos).

Mas você vai sair do Bayern?

Não, estou muito feliz, tenho mais dois anos de contrato ainda.

Quais foram as principais dificuldades em sua chegada à Alemanha?

É uma mudança radical. Cheguei com 18 anos ao segundo maior clube da Alemanha saindo de Londrina, foi assustador. Curitiba era friozinho, mas aqui é menos 17, 16 graus. Foi bastante assustador. Meu destino estava traçado, me adaptei o mais rápido possível. Aprendi a língua rápido graças aos brasileiros do Schalke, Bordon, Kuranyi e Lincoln. Eles foram fundamentais.

Você esperava que poderia dar tão certo na Alemanha?

Igual eu falo para minha mãe: nem nos mais otimistas dos meus sonhos. Pelo Schalke, ganhamos Copa da Alemanha, Liga Pokal, fiz mais de 200 jogos pelo clube. Aqui no Bayern, estou com 150 jogos, conquistei todos os títulos que um jogador pode conquistar. Clube grande é difícil de se adaptar. Tem que estar sempre bem em todos os momentos. Não pode estar mal em jogo-treino, ou o outro vai estar melhor que você. Não tem como estar mal. Quem está de fora sabe que tem que estar melhor do que quem está dentro. Ganha experiência, ganha cancha.

Você lembra alguma história que aconteceu na adaptação?

Lembro a primeira vez que vi neve, meu carro parecia que era de gelo, cheio de neve no para-brisa. Comecei a puxar a neve, peguei uma mangueira e comecei a jogar água, tinha a cabeça inocente. O carro congelou. Pensei: “Agora ferrou, e para eu treinar?”. Comecei a bater no gelo, ficou todo trincado, parecia desenho animado.

Quais são as diferenças entre as culturas alemã e brasileira?

É diferente. Nessa parte de horários, nós brasileiros temos o jeitinho, somos um pouco mais relaxados. O alemão é pontual demais, são feras nessa parte. O cara vem arrumar a calefação e marca para 8 horas, eu acho que ele vai chegar às 8h30, mas o cara chega às 7h55, fica esperando na porta, e aperta a campainha às 8h. Às vezes não estou nem em casa e o cara fica na frente esperando. Eles são muito disciplinados. O alemão é muito desconfiado, por ser um país que viveu muita guerra, são bem fechados, mas depois que você conhece, pega confiança, são pessoas como nós, que gostam de brincar, simples, humildes.

Fazendo um panorama geral dos 9 anos que você atuou na Alemanha, qual é o momento que você mais guarda com carinho?

A tríplice coroa que a gente ganhou na temporada 2013. Foi o auge da minha carreira. A primeira vez que aconteceu aquilo. Perdemos a Champions em 2012 e no ano seguinte conseguimos a tríplice coroa. Aprendi a conviver com situações com as quais não estava acostumado, a ganhar títulos, a não jogar sempre. Eu sempre titular no Schalke, aprendi a lidar que não jogaria sempre no Bayern, ganhei muita maturidade. Foram cinco títulos em 2013, marcou minha carreira.

No livro “Guardiola Confidencial”, que conta os bastidores do treinador espanhol em sua primeira temporada pelo Bayern de Munique, em 2013/14, você foi muito elogiado pelo Pep. Você já leu o livro?

Li sim. Tenho um livro, quando lançou eles me passaram. Fico feliz como fui citado por um treinador do nível do Pep, ele falar daquele jeito sobre mim. Foi meu trabalho reconhecido pelo treinador.

O que os jogadores do Bayern comentaram sobre o livro?

Os caras sempre brincam, dizem: “Ele é seu pai, você é filho do homem”. O pessoal aqui no Bayern tem um carinho muito grande por mim.

Como é a sua relação com o Guardiola?

Pep tem uma confiança do caramba em mim, sabe que pode contar comigo. É legal ter a confiança de um dos melhores do mundo. Quando o Guardiola chegou, eu disse que estava pensando em ir embora, porque tinha jogado pouco no ano anterior. Eu disse para ele: “Sei que o Lahm vai jogar porque é o melhor lateral do mundo, mas se você falar que conta comigo, fico aqui com o maior prazer”. Fomos para a pré-temporada, ele me disse que eu ficaria porque ele contava comigo, e foi ali onde começou tudo. Eu comecei no banco, mas entrava com tudo. Ele dizia que eu pressionava em um minuto de jogo no nível de quem jogava o jogo inteiro. Pude ajudá-lo bastante na chegada, entendi rápido os conceitos.

Como é o Guardiola nos vestiários?

O Guardiola é um cara diferente, ele é muito reservado. O Guardiola é 24 horas de futebol na vida dele. O Pep vive o futebol de uma forma que é difícil, não tem muita conversa com ele. Ele sempre está nos ensinando. Ele gosta muito dos brasileiros. Ele diz que o Brasil parou no tempo, pensando que só ganharia com o talento. Também diz que o mundo do futebol deve muito para o Brasil.

Você acha que ele treinaria a Seleção Brasileira?

Eu não sei se ele iria. O Pep Guardiola é um cara muito ativo. Taticamente, todo dia é uma coisa diferente. O Guardiola treinar seleção não faz o perfil dele, o Guardiola fica louco se não trabalhar todo dia.

O Lahm também te elogiou bastante. Disse que você poderia ser o sucessor dele na lateral-direita da seleção alemã, já que ele se aposentou do time nacional. O que você achou dos elogios?

É até engraçado, quando o meu contrato estava vencendo em 2013, o Phillip (Lahm), o Schwensteiger, o Muller, todos os alemães pediram que eu, Dante e Pizarro renovássemos o contrato. Dentro de campo, como nosso time joga, criou uma família. O cara que foi capitão da seleção alemã por cinco anos, melhor lateral direito do mundo, campeão da última Copa, falar publicamente que o lateral para assumir a vaga dele é o Rafinha, porque o Rafinha joga em alto nível, tem classe enorme. Pensei comigo: "Eu não preciso falar nada, se o cara que foi campeão do mundo está falando isso". Porque se é um elogio de um treinador é diferente, mas foi de um cara que está no dia a dia.

Você tem vontade de jogar pela seleção alemã?

É uma situação difícil, eu não quero falar sobre isso agora. Farei o teste pela Alemanha, se eu for aprovado, pego o passaporte, aí eu vou estudar essa possibilidade. Se acharem que seria interessante, por que não? Tenho primeiro que pensar no passaporte, aí a conversa é outra, procuro ver o que faço. Claro que dá para jogar pela Alemanha, com o maior prazer, conheço todos os jogadores da seleção alemã. Por que não?

Por que você decidiu se naturalizar alemão?

Já estou há 10 anos aqui. Eu e minha família gostamos muito daqui, é um país maravilhoso que me recebeu de braços abertos e tem um carinho enorme por mim. Eu já queria ter me naturalizado há três anos, mas não dava porque ainda não tinha oito anos morando na Alemanha. O motivo é que eu pretendo seguir minha vida aqui na Alemanha depois que eu parar de jogar. Minha família ama esse país, críamos raízes aqui, me sinto em casa.

Você se sente mais alemão do que brasileiro hoje em dia?

Eu sou brasileiro mesmo, sou de Londrina, do Paraná, sou pé vermelho. Hoje tenho um carinho muito grande pelo povo da Alemanha, tenho minha casa aqui, não vou mentir. Minha família está na Alemanha.

Na última convocação antes da Copa de 2014, você foi chamado para disputar o amistoso contra a África do Sul, mas não foi chamado para disputar a Copa. Você ficou chateado?

Não fiquei chateado, claro que eu queria ir para Copa, eu estava voando baixo, estava na semi da Liga dos Campeões, conquistamos tudo. Quando o Felipão me convocou para jogar contra a África, ele disse que ia contar comigo entre os 30 jogadores. Eu não estava vendo a convocação para Copa porque estava treinando. Ficou aquela pontinha de esperança. Vou te falar a verdade, sou grato ao Felipão por pelo menos ele ter me convocado uma vez. Seria injusto da parte dele não ter me convocado, aí sim ficaria chateado, ele viu que eu estava merecendo. Ele não conversou comigo antes da convocação para a Copa, só na convocação contra a África do Sul mesmo, quando ele me elogiou muito depois do jogo, fiquei feliz de ter conversado um pouco com ele lá.

A convocação para o amistoso contra a África do Sul te iludiu?

Não me iludiu. Eu não tinha esperança que iria para Copa. Ele iria me convocar na última e me levar? Fui para aquele jogo como se fosse o último da minha vida. Seria difícil ele me avaliar. A seleção da África do Sul não estava bem. Se eu tivesse tido outras convocações, deixaria um pingo de dúvida na cabeça dele.

Em 2008, o Dunga te convocou para disputar as Olimpíadas. Agora ele voltou à Seleção. Houve conversa entre vocês?

Nos cruzamos uma vez depois que ele assumiu a Seleção, mas só nos cumprimentamos, não falamos nada de Seleção. Ele, desde quando assumiu, não falou nada comigo sobre convocação. Quando ele me levou pela primeira vez, não falou nada, então acho que também não falaria agora.

Os jogadores do Bayern brincavam com você pelo 7 a 1?

Agora deu uma parada, sempre ouvi bastante piada aqui, não tem como, tiram onda mesmo. Vou falar o quê? Contestar? Ganharam de 7 a 1 de nós mesmo. Eles bagunçaram bastante. O Muller falava: “Você se livrou de uma, pegariam você também. Gostei daquele estádio Mineirão”. Eram brincadeiras boas, sadias. Alemão não tem esse negócio de debochar, até nisso eles têm respeito, brincam na boa, são pessoas de muito respeito. Poucas pessoas sabem o que eles fizeram. Até hoje estão ajudando lá na Bahia, compraram não sei quantas ambulâncias para o povo.

Rafinha defendeu o Brasil na Olimpíada de 2008, que não conta como competição de seleções principais para a Fifa
Rafinha defendeu o Brasil na Olimpíada de 2008, que não conta como competição de seleções principais para a Fifa
Foto: Shaun Botterill / Getty Images

Por conhecer bem a seleção alemã, você achava que era a favorita para ganhar a Copa?

Era sim, porque nas últimas três, chegou em duas semifinais. O que eles plantaram em 2006, conseguiram colher, porque é um time que está jogando há sete anos juntos, foram para o Brasil sabendo que chegariam longe. Para quem estava jogando no futebol alemão, a gente sabia o nível que eles estavam. A Copa do Mundo foi um teste forte para eles, porque naquele momento eles eram a melhor seleção. O conjunto estava funcionando melhor que os outros. Estava na cara que eles chegariam longe.

E para esta temporada no Bayern, o que você espera?

Todo ano o Bayern entra para conquistar a Liga dos Campeões. Nossa obrigação é ser o campeão nacional, nunca um clube na história da Bundesliga conquistou quatro títulos em seguida. São todos contra nós, querem impedir que ganhemos o quarto seguido. Podemos chegar o mais longe que for na Champions, chegamos em duas finais e duas semis no últimos quatro anos, mas sempre com muito respeito, porque o caminho é longe demais na Champions. Aquelas derrotas para Chelsea e Real Madrid são jogos que se a gente pudesse voltar atrás, voltaríamos. Futebol é gostoso por causa disso. Em 2013, papamos tudo, mas aquelas são derrotas que nunca vão ser esquecidas.

Na última janela de transferências, você perdeu um de seus melhores amigos de Bayern, o Dante. Como foi essa mudança para você?

Eu sou muito emotivo. O Dante é um cara que dispensa comentários. A gente ficava 24 horas juntos, dentro e fora de campo. Minha família e a dele se gostavam bastante. Tínhamos um contato maravilhoso. O futebol, infelizmente, às vezes é triste. Foi complicado. Ele estava vindo de algumas semanas de mudança, esse vai, não vai. Eu sempre falava para ele ficar. O Wolfsburg está de palhaçada, levou também o Luiz Gustavo, querem levar todos os meus amigos. O pagode firmava comigo no cavaco e o Dante no banjo.

Dentro de campo, vocês também perderam o Schweinsteiger. Dá para remodelar o time sem ele?

Foi uma grande perda, todo mundo sentiu. Ele aqui no Bayern é como o Romário para a torcida do Vasco, um cara que todo mundo respeita, então é assim, fica sentido. Era um líder dentro de campo, um cara respeitadíssimo, ele era a cara do Bayern, fez mais de 500 jogos pelo clube. Você sente, está todos os dias com o cara, além de que ele ama brasileiro, gostava muito de ficar com a gente.

Outro jogador que chegou ao clube agora foi o Douglas Costa, que veio do Shakhtar. Em março de 2015, após o jogo contra o Shakthar pela Liga dos Campeões, vazou um áudio no qual você criticava os brasileiros do clube ucraniano, inclusive o Douglas. Aquele áudio foi verdadeiro?

Sim. Na minha opinião, os meninos do Shakhtar estavam folgados demais, essa é a minha opinião, coisa de jogo, minha opinião de dentro do campo. Eles estavam insuportáveis mesmo. Chegaram no jogo e provocaram demais, estavam muito folgados, todos eles. Mas a história da camisa do Schwensteiger não foi verdade. O engraçadinho que estava no grupo do WhatsApp pegou o áudio e o vídeo do Instagram e passou logo para um jornalista. Aquele vídeo era de outra coisa. O cara queria polêmica, esse negócio de camisa é mentira. Agora quanto os áudios, era a minha opinião. Achei que eles eram folgados, futebol é para homem. No mesmo dia que saiu aquilo, liguei para o Douglas e ele entendeu. O Douglas chegou aqui, falamos sobre esse assunto de novo, colocamos um ponto final, mas já tinha explicado dez vezes para ele. Minha opinião era aquela e pronto.

CORREÇÃO: na primeira versão publicada desta matéria, a foto destacada era do meia Rafinha que joga no Barcelona, e não do Rafinha que é lateral do Bayern de Munique.

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