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Escândalo FIFA: Livro aponta TV como o centro da corrupção no futebol

19 jun 2015 - 20h17
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Foto de Divulgação

Diante do escândalo de corrupção na Fifa envolvendo extorsão e lavagem de dinheiro, cujo montante chega a US$ 150 milhões, o diretor do Internal Revenue Service (IRS), espécie de Receita Federal dos Estados Unidos, Richard Weber, sintetizou esse esquema como “Copa do Mundo da fraude”. Para o jornalista Luiz Carlos Azenha, autor de O Lado Sujo do Futebol (Editora Planeta, 2014), junto com Amaury Ribeiro Jr., Leandro Cipoloni e Tony Chastinet, a televisão está no centro da corrupção no futebol porque é a maior fonte de arrecadação das entidades. Os autores já haviam adiantado que a Fifa e a CBF tornaram-se um grande balcão de negócios, com a assinatura de acordos bilionários envolvendo direitos de transmissão e materiais esportivos. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos, inclusive, divulgou em relatório que 70% do lucro da Fifa de 2011 a 2014 são referentes às vendas dos direitos de transmissão e cotas de patrocínio da Copa 2014, correspondendo a US$ 4 bilhões.

No Brasil, muitos clubes tradicionais estão afundados em dívidas, como o Atlético-MG, que deve ao governo federal mais de R$ 282 milhões. Azenha analisa a situação como consequência do monopólio de transmissão de alguns canais televisivos. “A emissora monopolista define quanto cada clube vai receber em negociações diretas”, ressalta o jornalista da Rede Record e do Viomundo, em entrevista ao Negócio é Esporte. Na visão de quem já cobriu duas Copas do Mundo, seria interessante a criação de uma liga nacional, baseada no modelo das ligas americanas, que são responsáveis pela venda dos próprios direitos de transmissão. Esse método dificultaria esquemas de corrupção como o atual, caracterizado pelo intermédio de empresas de marketing esportivo como pagadoras de propina na assinatura de acordos de direitos de transmissão.

O Negócio é Esporte: O FBI apontou que o atual esquema de corrupção envolve a venda de direitos de transmissão de vários campeonatos, desde a Copa América, passando pela Libertadores e chegando à Copa do Brasil. Por que a TV está no centro da corrupção do futebol mundial?

Luiz Carlos Azenha: Porque é de onde as entidades do futebol ganham mais dinheiro. Os contratos realizados pela Fifa, especialmente os de marketing de direito de transmissão, foram a origem das propinas que ligaram um grande número de cartolas da Fifa. Além disso, é estranho, especialmente no Brasil, você olhar várias ofertas de venda dos direitos de transmissão, tanto do Campeonato Brasileiro como da Copa do Mundo, com altos valores, e a emissora com a proposta inferior ser a escolhida para assinar o contrato. Esse lado ainda não esclarecido precisa ser investigado com cuidado. Tive acesso ao documento do acordo de delação premiada assinado por Chuck Blazer, ex-secretário-geral da Concacaf, com a promotoria dos Estados Unidos. Ele prevê que o Blazer podia fazer gravações clandestinas, servindo para investigações de outros cartolas. A pergunta agora é: o J. Hawilla, que está no centro desse esquema de corrupção, fez o mesmo tipo de acordo? Se fez, teremos muitas novidades.  

O Negócio é Esporte: Existe alguma relação entre a falência de clubes tradicionais brasileiros e o monopólio de transmissão de algumas emissoras?

Azenha: Sim. No Brasil, a emissora monopolista define quanto cada clube vai receber em negociações diretas. Comparando com o esquema de transmissão da Liga de Futebol dos Estados Unidos, a relação de falência desses clubes fica clara. Na Major League Soccer (MLS), os direitos de transmissão são divididos igualmente entre os clubes. Com isso, existe um equilíbrio muito grande entre os campeonatos. Já no Brasil, os direitos são concentrados nos clubes com maior audiência. O Corinthians, por exemplo, recebe muito mais do que o Botafogo. Para um clube que tem esse valor como a maior fonte do futebol, isso gera uma grave distorção. Então você tem uma carta de clubes, alguns como Flamengo e Corinthians recebendo mais, e um grande número de clubes no Brasil praticamente falidos porque não recebem nenhum tipo de dinheiro de transmissão.

O Negócio é Esporte: Para harmonizar a distribuição da verba entre clubes de futebol, qual o modelo de negócio pode ser ajustado à realidade brasileira?

Azenha: Um modelo que funciona bem é o das ligas americanas. Elas próprias negociam os direitos de transmissão, fazendo o dinheiro chegar aos clubes de maneira equilibrada, sem precisar de intermediários. Assim, os campeonatos ficam muito mais interessantes e aumenta as chances do campeão ser diferente ano após ano. Além disso, dificulta esquemas de corrupção, já que esses envolvem, de um lado, empresas de marketing esportivo como pagadoras de propina e, de outro, cartolas que detêm o controle sobre os direitos de transmissão. Acredito que a CBF não deveria apitar em nada na questão dos clubes, cuidando exclusivamente da Seleção. Seria interessante que os times brasileiros se organizassem em uma liga nacional, sendo responsáveis pela venda dos direitos de transmissão e divisão desse bolo publicitário.

O Negócio é Esporte: A secretária de Justiça americana Loretta Lynch mencionou que o esquema dos réus investigados era usado, entre outras coisas, para lucrar com o crescente mercado americano do futebol. Na sua avaliação, qual é o impacto dessas revelações para o namoro da Conmebol com a ascensão do futebol nos Estados Unidos?

Azenha: A igualdade de condições nas competições por contratos é algo muito prezado pelas empresas americanas. De todas as federações de futebol, a Conmebol só perde para a Concacaf em termos de corrupção. Isso é visível pelo número de presos e investigações apuradas até o momento. Para os empresários americanos interessados em futebol, o campeonato tem uma importância cada vez maior. A MLS, inclusive, tem tido uma média de pública maior do que o Campeonato Brasileiro: são 25 mil pagantes por partida contra 16,5 mil no Brasil. Nesse sentido, há uma pressão dos próprios empresários em relação às federações, que são antros de corrupção.

O Negócio é Esporte: Coca-Cola e Visa, patrocinadoras da Fifa, já se posicionaram cobrando uma solução e admitindo que o escândalo também traz impactos para o mercado esportivo. Você acredita que o receio quanto às denúncias podem levar grandes patrocinadores a transferir parte de suas verbas publicitárias para outras modalidades esportivas, principalmente as olímpicas?

Azenha: Sim. Inclusive, a pressão para o presidente da Fifa Joseph Blatter renunciar seria muito mais dos grandes patrocinadores. Devido ao esquema de corrupção, o FBI está investigando contratos entre empresas e federações. Entre eles, está o da Nike e CBF. Foi determinado que a multinacional pagou $ 30 milhões  em propina para assinar o acordo. Agora a Nike tem sua credibilidade como empresa em jogo. Por isso, nenhuma empresa vai querer ser arrastada para o meio desses escândalos. Para não correr o risco disso acontecer, a tendência dos patrocinadores é exigir que esses contratos não envolvam mais o pagamento de propinas.

* Acompanhe notícias sobre marketing esportivo, em O Negócio é Esporte. No rádio, na web e no Diário Lance!

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