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Minotauro avalia 'missão cumprida' como lutador e reflete sobre carreira

4 set 2015 - 10h36
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Não era uma luta, tampouco uma apresentação de MMA, mas ainda assim um desafio. E dos grandes. Do tamanho de sua contribuição para o esporte. Na última terça-feira, 2 de setembro, Antônio Rodrigo Nogueira, o Minotauro, convocou a imprensa e anunciou sua aposentadoria aos 39 anos. Agora, diante da função de embaixador de relacionamento com atletas do UFC no Brasil, ele consolida a execução de um ato que desempenhou durante toda a sua trajetória no esporte: ajudar o próximo. Se decidir parar foi algo difícil, a alegria de poder continuar envolvido com a modalidade que ama parece compensar.

Depois de atender com a paciência e o bom humor de sempre membros da imprensa por mais de uma hora, ele conversou com o LANCE! e mostrou já estar disposto a olhar para o futuro, sem deixar a saudade do octógono o consumir. Perguntado se sentia ter deixado a vida de lutador com a “missão cumprida” depois de tantos feitos ao MMA e tamanha contribuição para o desenvolvimento do esporte no Brasil, sua resposta foi direta.

- Acho que sim. (A missão foi cumprida) Com certeza. Mas acredito que, talvez fora do octógono, agora a gente tenha uma nova função: a de fazer campeões, ajudar as pessoas que precisam de apoio. Vamos trazer novos Minotauros - prometeu o ídolo peso-pesado.

Nesta entrevista, o ex-campeão do extinto Pride e do UFC avalia a decisão de deixar de fazer o que ama, reflete sobre seus feitos e se empolga com a “nova missão” que começa a exercer no esporte.

Confira o bate-papo com Rodrigo Minotauro

O que passou pela sua cabeça quando você pisou no octógono pela última vez, no UFC 190, um mês atrás?

Eu treinei muito bem. Foram três meses puxados, mas eu já sabia. Quando você vai fazendo a luta, não consegue 100% de seu desempenho... Eu já tinha me decidido ali. Era uma luta de muita pressão, no Rio de Janeiro, dentro de casa. O público do Rio sempre teve um carinho diferenciado e especial comigo. É uma mistura de sentimentos ali na hora. Sabia que não poderia perder e, por isso, quando levei dois ou três socos que pegaram forte, mesmo assim eu fui para cima, não desisti em momento nenhum. Mas é um sentimento diferente para a gente.

Minotauro já havia decidido se aposentar em última luta (FOTO: Alexandre Loureiro/Inovafoto)

Como você chegou a essa decisão, e o que te motivou a parar?

O que me motivou a parar de lutar foi uma conversa, um convite, na verdade, conversando com o Dana White (presidente do UFC) e o Giovani Decker (diretor do UFC no Brasil). Eles comentaram: “Rodrigo, o dia que você quiser parar, e não é querendo te forçar a fazer a última luta... Mas o dia que você parar de lutar, você tem um emprego para trabalhar com a gente na organização, no relacionamento entre os lutadores e a organização”. Giovani percebeu que o lutador é o ídolo, e a organização precisa do atleta sadio e satisfeito para lutar bem, estar bem assistido. Dana White também sabe muito bem disso, e eles me fizeram esse convite, e de antemão eu tinha aceitado. Eu sabia que sairia daquela luta e exerceria uma nova função. E não é só pensar na minha carreira. Agora, é pensar em cem outros lutadores que estão representando o Brasil.

O que você já sabe sobre esse cargo junto ao UFC?

Já temos 30 lutadores brasileiros que estão pré-anotados para entrar no UFC. Eles estão catalogados em uma possível troca de atletas. É uma função bem interessante que me seduziu. Eu vi uma planilha do Giovani com todos os lutadores em ascensão, aqueles que precisam de um suporte maior, quem não vem ganhando e por quê, os que ganham precisam de mais mídia, viagens e tudo mais... Pontos como quem tem desempenho melhor aqui dentro também. Ele conseguiu indetificar isso muito bem. Isso me seduziu muito. O carinho que a organização está tendo com os lutadores nos últimos quatro meses tem sido especial.

Durante sua carreira, você sempre demonstrou uma ligação forte com Tóquio (JAP), nos tempos do Pride, e com o Rio, por suas lutas no UFC. Consegue escolher o local preferido?

Tem de ser os dois lugares (risos). Em Tóquio, no Japão, tive uma energia muito boa naquele lugar, e o respeito que eles têm pelos lutadores é grande. Assim como o Rio de Janeiro, que é diferenciado. Aqui é uma vibração diferente, a torcida grita a cada soco. É um negócio especial que tenho por esses dois lugares. Foram os mais marcantes. Minha luta, talvez uma das mais importantes, se não a mais, foi contra o Brendan Schaub (no UFC 134, em agosto de 2011, no Rio). Não foi uma disputa de título, longe de ser, mas essa vibração, o canto de “O campeão voltou”, aquela gritaria a cada soco da luta que eu tomava e não caía... A galera gritava! Então, foram esses os dois lugares especiais.

Lenda elegeu vitória contra Schaub, no Rio, como auge (FOTO: Getty Images)

Se você tivesse vencido a luta contra o Stefan Struve, em sua última apresentação, você teria anunciado a aposentadoria no octógono naquele 1º de agosto?

Talvez (risos). Independentemente do resultado, essa função com o UFC me seduziu bastante, poder estar do lado de cá. Eu sempre fui um cara que não pensava só em mim. Sempre pensei em lutar, ganhar um título mundial, mas sempre levando alguém comigo. Desde a época do Pride, sempre tinham três, quatro atletas lutando junto no mesmo evento. 

Do que você acha que vai sentir mais saudade agora do lado de fora do octógono?

Vou chorar, hein (risos). Acho que a preparação, o treinamento, acordar, treinar, saber que você tem aquele desafio como meta. Vamos substituir esse objetivo pessoal por uma meta corporativa, pensando nos lutadores.

Tem alguma luta que gostaria de ter feito, mas não conseguiu?

A (terceira) luta contra o (Frank) Mir. Queria ter feito antes de encerrar a carreira, mas fiz um treinamento agora, estava bem fisicamente, mas senti que estava faltando algo na parte física, e vi que era uma boa hora de parar. Gostaria de ter saído do esporte com a vitória, mas isso não era o mais impotante. A Ronda (Rousey) é um grande nome da modalidade, foi a maior venda de pay-per-view do UFC no ano. Novas pessoas vão chegar, tudo é questao de tempo.

Se você tivesse vencido a sua última luta, acha que teria optado por continuar lutando e desistiria de se aposentar?

O resultado não mudou muito. A gente vê quando tenta fazer algo e não sai, vê a evolução do esporte. Não mudou na minha decisão, mas meu corpo não está mais nos 100% para conseguir atingir essa atividade. Estou consciente, mas triste. Treino todos os dias, faço muitos treinos, gostaria de estar lutando, mas decidi que seria a hora certa. É uma mistura de sentimentos: triste por sair da rotina de treinamentos, mas por outro lado agora faço como profissão algo que já exerço há muito tempo dentro da minha trajetória.

Como foi a reação das pessoas próximas a você quando tomou essa decisão de parar de lutar e se aposentar?

Tem pessoas que são fãs, que querem me ver lutando. Após a última luta, tive pedidos para continuar. Não tive a chance de falar com muita gente, foi uma decisão dentro de mim. Se parasse e falasse com outras pessoas, elas poderiam me influenciar. A decisão foi minha e fiz a coisa certa. Falei com meu pai, que é meu conselheiro, e ele disse que tinha orgulho de mim. Tive o reconhecimento do UFC também e fico feliz por trabalhar na maior empresa do esporte do mundo. Recebi o reconhecimento do Giovani, Dana, do Lorenzo (Fertitta, dono do UFC) por deixarem eu trabalhar ao lado deles. Ainda podemos fazer coisas boas pelo esporte

Você gostaria de deixar alguma mensagem para os fãs que apoiaram você durante esses 16 anos de carreira no MMA?

Gostaria de agradecer a todos por todos esses anos de apoio. Vi três gerações passarem. Já vi muitos campeões depois de mim. Quando eu já era campeão do Pride, o BJ Penn (ex-campeão dos leves e dos meio-médios do UFC) estava começando a carreira. Ele parou antes do que eu. Agradeco o apoio de todos. Vou estar do lado de cá, vocês vão continuar me vendo, mas estaremos sempre trabalhando para divulgar o UFC e novos talentos.

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