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Tremeu na base! Em crise, Santos passa 2015 sem revelar e sob denúncia

17 jun 2015 - 07h14
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A má fase do Santos não é novidade para ninguém. Já são seis jogos sem vencer na temporada, zona de rebaixamento do Brasileirão, iminência de saída de jogadores importantes e crise financeira. Historicamente, cenários dramáticos como esse levaram a maior uso das promessas da base, a eterna tábua de salvação do clube. Desta vez, porém, o panorama é diferente: também há crise na base.

Sub-20 do Santos
Sub-20 do Santos
Foto: Pedro Ernesto Guerra / Santos FC

O sub-20, última categoria oficial de base antes da profissionalização, vive um 2015 terrível, com eliminação na primeira fase da Copa São Paulo, desvantagem de seis pontos em relação ao rival São Paulo no Campeonato Paulista e possibilidade de eliminação no Brasileirão da categoria já nesta quarta-feira, quando recebe o Sport às 15h, na Vila.

O Santos foi derrotado em seus dois jogos do Brasileirão Sub-20, mas a situação é preocupante por outro fator: nenhum jogador mostrou potencial suficiente para ser puxado por Marcelo Fernandes até agora. Seja em formação ou resultados, a base vive momento duro.

– Estou no clube há três semanas, não posso fazer juízo, mas quando não há resultados se acende a luz vermelha – explica o coronel Ronaldo Lima, novo gerente das categorias de base do Peixe, empossado há menos de um mês pelo preocupado presidente Modesto Roma.

O nome de Modesto para a função no início do mandato foi Paulo Mayeda, mas o profissional teve um AVC em março e se afastou de suas funções. Entre março e junho, a base do Santos ficou praticamente à deriva, sem um comando certo. Nesse período, a ação de empresários, os testes condicionados e a falta de critérios deu o tom (veja mais detalhes abaixo), irritando jogadores, agentes e até treinadores das cinco divisões.

Essas reclamações chegaram até Modesto, que admitiu que a base santista "perdeu o foco". Para resolver, a aposta foi em um dirigente com formação militar e 39 anos de experiência no futebol, inclusive na CBF.

– A escola militar nos dá organização e disciplina em tudo que se faz. Tática e estratégia são termos militares aplicados ao futebol. E agora vamos trocar um pneu com o carro andando neste grande desafio que é o Santos – explica Ronaldo Lima, que deixou direção de planejamento da Ferj para trabalhar no Peixe.

Sob nova direção, o clube tenta se reestruturar para voltar a colher frutos e manter sua esperança na base.

BATE-BOLA com RONALDO LIMA

Gerente da base do Santos, ao LANCE!

Qual diagnóstico você faz do que encontrou até agora no clube?

Nós estamos, como você disse, em fase de diagnóstico. Eu não fiz 30 dias de clube ainda. Comecei dia 18, mas só tive contato a partir do dia 20. Internamente temos que levantar todas as situações, saber porque elas existem e já implementar soluções. Como costumo dizer, estamos trocando pneu de um carro andando a 100 km por hora e sem pit stop. A coisa está andando, mas tem que ser analisada com cuidado e atenção. Nada existe que já não tenha sido testado antes. Preciso ter perspicácia para poder entender decisões que foram tomadas antes de mim, o que se faz quando se tem vivência. Você não chega e altera, você estuda. Precisa realmente entender onde se queria chegar para tirar conclusão e aí implementar modificção se isso for necessário. Sempre dá para melhorar.

Do que você já levantou, há necessidade de mudanças ou soluções mais urgentes?

Temos pela frente um grande desafio, e existe sim uma grande possibilidade de fazer uma base do Santos mais forte, com possibilidade de realmente revelar talentos, porque a estrutura permite que você trabalhe e sempre revele. Futebol não é caixa de surpresas. Não existe isso. Futebol é consequência de bom planejamento associado à estrutura. Por isso, em 20 dias já adiantamos etapas de 30 ou 60 dias, devido às necessidades. Estou muito feliz com o que já encontrei, mas as dificuldades são inerentes. Encontramos um plano de gestão 2015-2017 já pronto e agora tenho o cuidado de pegar o plano, junto com o Dagoberto (Santos, superintendente de esportes do clube) e adaptá-lo ao trabalho da base. Estamos muito feliz e com uma expectativa boa de o mais brevemente possível, já ambientado no clube, implementar nossas ideias.

Muito se tem falado, e também já ouvimos isso, que a atuação de empresários tem sido deliberada na base do Santos. Como contornar isso?

A presença do empresário ocorre em todo o território nacional, a gente não pode distorcer a realidade de que eles fazem parte da história do futebol. Mas às vezes atrapalha. Principalmente quando você vê atletas de 12 ou 13 anos com empresário, mas sem maturar, sem saber o que vai ser. Aí o empresário cria na cabeça dele a expectativa de que vai ser craque, vai ser Neymar. Aí complica o clube formador. Você precisa formar o atleta, mas isso deve estar atrelado às condições externas. Os agregados vão ter seu percentual, mas o Santos nunca pode ter um percentual menor dos atletas, por exemplo. A instituição é muito mais forte. 

Também já ouvi sobre o sistema de avaliação, dando conta de que alguns jogadores já chegam nos testes aprovados. Confirma?

Vamos tentar explicar. Alguns colaboradores, no afã de quererem ver seus filhos, sobrinhos, amigos e clientes o mais rápido possível na categoria, muitas vezes os prejudicam fazendo com que não passem no crivo dos avaliadores. Porque temos uma categoria com atletas que já vêm jogando competição em alta velocidade, aí vêm os meninos que não estão em competição e eles entram direto na categoria, sem serem testados. Os companheiros não sabem o nome, ele não sabe a velocidade do time, não há ambientação tática e técnica, não há nada. Sendo que se eles ficassem uma semana inteira em avaliação seria tudo diferente e eles viriam mais confiantes. No entanto, muitas vezes somos orientados a colocar o atleta direto no time. Nosso colaborador que quer ajudar acha mais fácil assim. Mas na verdade é mais difícil. A gente se deparou com isso aqui e estamos tentando ajudar da melhor maneira, orientando até os meninos para facilitar o fluxo de trabalho. 

E de onde que partem esses pedidos para que os garotos já entrem direto nos times e não passem pelos testes?

São pedidos. Os garotos vêm com pedidos que chegam até a gerência de fazer uma semana de avaliação que não é avaliação, é direto na categoria, e a gente procura entender. São situações de falta de entendimento. Mas eu não tive nenhum caso ainda, porque procuramos na conversa explicar a melhor solução. Nas duas ultimas semanas aqui isso tem acontecido. 

Então isso não ocorria na época do Hugo D'Elia, do Paulo Mayeda ou nesse intervalo sem comandante?

A estrutura do Paulo Mayeda é muito boa, estou até devendo uma visita para ele. O problema é que ele ficou um tempo fora e muitas das coisas não foram traduzidas e decodificadas, o planejamento ficou arquivado. Quando nós chegamos trouxemos ideias, vimos situações, qual direção seguir, plano de gestão e em razão disso começamos a trabalhar.

Nessas duas semanas o sistema de avaliação está funcionando melhor?

A realidade que eu vi é positiva. Temos um bom setor de avaliadores, com ex-atletas do clube, uma plêiade de profissionais capacitados para fazerem as avaliações que permitem ao treinador já receber jogadores com o verniz tirado. É Nenê, Marcelo Passos, os Meninos da Vila... Santos para mim é o m² com mais craques do mundo. Craques do passado, campeões do mundo. Essa responsabilidade é grande. 

O sub-20 está bem mal nas competições desse ano, mas dizem que na base o que importa é formação e não resultado. Como identificar que não está acontecendo nem uma coisa e nem outra?

O resultado que cobramos é formação. É levar jogadores com qualidade para se integrarem ao elenco profissional. É necessário sempre estar entre os melhores, com jogadores vitoriosos. Estou preocupado é com modelo de jogo, não com resultado. Outra coisa é a quantidade de atletas com os quais estamos trabalhando. A categoria hoje está com mais de 40 jogadores, e isso diminui a possibilidade de ter qualidade plena, porque torna-se uma multidão e a comissão técnica precisa trabalhar com um número mais reduzido. Mas estes são desafios, propostas, estou conversando com todos eles e com o tempo passando vamos inserindo mais experiências e ideias.

O Modesto te chama nas entrevistas de "coronel". Por que? E como chegou ao Santos?

Tenho formação militar, sim. Estudei e trabalhei na escola de educação física do Exército. Fui instrutor da escola por muitos anos, professor do curso de treinador, auxiliar de preparação física, depois segui para o Botafogo sub-20 e rodei. Fui gerente de futebol do Vila Nova, do Boavista, cheguei à CBF como observador, para avaliar jogadores nos anos 90. Fiquei em 94, 95 e 96, depois tive a oportunidade de ser supervisor da Seleção feminina profissional, coordenador das Seleções feminina e depois masculina, coordenação da base e depois somente Seleção feminina novamente. Saí em 2013 e estava como diretor de planejamento da Federação do Rio de Janeiro quando houve o convite do Santos por conhecer o presidente Modesto da época em que ele supervisionava o melhor time feminino do país, do Santos. Ele sabia que eu já havia coordenado base, aí tive uma entrevista com o Dagoberto, as ideias foram muito afins e estamos aqui.

AS MAZELAS DA BASE

Teste para quê? - Peixe sofre com denúncias recorrentes de que garotos chegam para avaliações já estando aprovados por recomendações "superiores". Além disso, não há a devida ambientação: o garoto chega e é "avaliado" com o time da categoria, sem teste prévio. Novo comando da base admite problemas e corre para mudar.

Inchaço - Time sub-20 do Santos, de acordo com Ronaldo Lima, tem mais de 40 jogadores, o que atrapalha o andamento do trabalho e sobrecarrega os treinadores, que precisam avaliar o pessoal dos testes e ainda comandar os trabalhos para as competições de base. Isso atrapalha a formação por tirar a atenção dos técnicos.

Empresários - Ação dos empresários é forte até nas categorias menores, como sub-13 e sub-11, e o Santos preza pela boa relação. Apesar disso, há relatos de "abusos", quando a indicação de um agente determina ou não contratações. Há poucos dias, representantes de Jean Chera, dispensado do Cuiabá, ofereceram o garoto ao time sub-23. Apesar das conversas avançadas, o clube vetou.

Desorganização - Santos ficou sem gerência da base entre março e junho, o que favoreceu desmandos e ingerências. Segundo fontes ouvidas pelo L!, era um profissional sem registro no clube quem dava as cartas nesse período. Também há relatos de que há excesso de funcionários em funções da comissão técnica no clube.

Tem lugar aí? - As categorias sub-11, sub-13 e feminino treinam no CT Meninos da Vila, na entrada da cidade. Já sub-15, sub-17, sub-20 e agora sub-23 no CT Rei Pelé. No CT Meninos da Vila, a estrutura é precária e invasões costumam ser frequentes no período noturno. Clube faz até parcerias para "emprestar" terreno a moradores do bairro.

Já vai mais um... - Troca de gestão no início do ano fez com que vários garotos ficassem sem contrato. Só não trocaram o Santos por outros clubes aqueles que tiveram mais paciência, como o zagueiro Lucas Veríssimo, do sub-20. Lucas ficou um mês treinando no clube sem qualquer tipo de vínculo. Agora, renovou até 2017.

E a parceria? - No contrato de venda de Neymar, em 2013, Santos alinhou parceria de troca de conhecimentos com o Barcelona na base. Clube enviou profissionais para estágios na Espanha em 2014, mas relação esfriou após a posse de Modesto Roma. Santos acionou a Joia e seu pai na Fifa e acordo está parado.

Família, família... - Santos reformou seu corpo técnico no início do ano e um sobrinho de Modesto Roma, Gustavo Roma Feliciano, assumiu como treinador do sub-13. Contratação gerou críticas e causou insatisfação de conselheiros, mas a equipe lidera o Paulistão da categoria e hoje a pressão já não é tão forte para a queda do técnico.

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