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Londres 2012: Como é a alimentação dos atletas de ponta

Dieta pode ter um impacto importante em algumas modalidades esportivas; efeito já era conhecido nas Olimpíadas antigas.

20 jul 2012 - 06h56
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Uns têm que comer muito, outros muito pouco. Uns têm que escolher muito bem o que põem no prato, outros poucos podem ignorar qualquer restrição. Para todos os esportistas olímpicos, a dieta é um assunto crucial e específico.

Isso porque cada corpo atlético, alto ou baixo, robusto ou frágil, é uma "máquina" que requer combustível específico para obter o mais alto rendimento.

O impacto da dieta sobre o desempenho esportivo já era conhecido pelos atletas olímpicos originais, no século 6 a.C.

Segundo pesquisas históricas, as façanhas de alguns atletas que consumiam dietas ricas em proteínas deu início a uma febre do consumo de carne entre os competidores que lutavam pela glória em Olimpia.

"Não há uma fórmula para todos os esportes", disse à BBC Álvaro García-Romero Pérez, professor da faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Europeia de Madri e especialista em nutrição desportiva.

"Não deveria ser nada muito pesado, nem para esportistas nem para não esportistas. A alimentação deveria ser parte de uma filosofía de vida e pode ser conseguida por meio da educação alimentar", observa Marcia Onzari, chefe da cátedra de Nutrição da Universidade de Buenos Aires.

A realidade é que, para alguns, "treinar" o estômago pode ser quase tão duro como converter-se no mais rápido, no que salta mais alto ou no mais forte.

Os que comem muito

Já se tornou uma lenda a história segundo a qual o nadador americano Michael Phelps, ganhador de 16 medalhas olímpicas, menteria uma dieta pantagruélica de 12 mil calorías ao dia (quase cinco vezes a média recomendada para um homem adulto).

O mesmo Phelps já desmentiu isso, que o professor García-Romero acredita ser um exagero.

Mas alguns esportes, que Onzari agrupa sob a categoria de "longa duração ou resistência" requerem de verdade o consumo de quantidades de alimentos consideravelmente superior ao do ser humano médio.

"Isso inclui a maratona, o triatlo, o remo, a natação em águas abertas, o ciclismo. Eles se caracterizam por uma demanda de energia muito elevada. Os esportistas têm que consumir uma quantidade suficiente de carboidratos para ter muita energia quando estão treinando ou competindo, junto com a hidratação", observa Onzari

Os alimentos que são fonte de carboidratos incluem os cereais, a aveia, a cevada, o trigo, o milho, as farinhas, os legumes e algumas frutas.

García-Romero afirma que a chave está na "alimentação sustentada durante longos períodos que supõe o treinamento", mas as experiências variam de um atleta a outro.

Em um artigo recente na imprensa local, a nadadora de águas abertas Keri-Ann Payne atribuía a uma estratégia equivocada de alimentação o fato de ter perdido o campeonato mundial de 2007.

"Na minha modalidade, o que faz a diferença é o que se come dois dias antes da competição. Você tem que se encher de carboidratos, coisa que eu não fiz. Comer uma montanha de arroz ou de macarrão não é tão divertido como parece", disse.

Os que comem pouco

No outro extremo estão os "esportes de categoria de peso", como o boxe e as artes marciais, e os "esportes estéticos", como a ginástica ou o nado sincronizado.

O controle do peso é fundamental em cada uma dessas modalidades, e pode colocar o atleta sob uma forte pressão diante da questão da comida.

A lutadora turca de taekwondo Nur Takar, por exemplo, segue uma dieta de 1.500 calorias ao dia, 500 abaixo da média recomendada às mulheres.

A ginasta sul-coreana Son Yeon-Jae causou polêmica recentemente ao dizer publicamente que seguia um regime alimentar rígido e que comia "como um passarinho": só café-da-manhã e almoço, em quantidades limitadas.

"A vida é dura nesse momento", disse numa entrevista em maio.

Para García-Romero, eticamente não é correto submeter qualquer atleta a esse tipo de dieta.

"Não se deve fazer isso. Acima do atleta está a pessoa. No mundo dos esportes muitas vezes nos fixamos somente na época de competições, mas temos também que pensar no que acontecerá com essas pessoas depois", afirma.

Os que comem alimentos específicos

Em outro grupo estão os atletas que precisam de força, como os levantadores de peso ou os praticantes do arremesso de martelo.

"Estes precisam de um aumento na quantidade de energia em sua alimentação para conseguir um aumento de massa muscular, e, para isso, são necessárias proteínas, creatina, suplementos para aumento de peso", disse Onzari.

De acordo com García-Romero, isso também não seria recomendável do ponto de vista da saúde.

"Se uma pessoa recebe proteínas por muito tempo, é possível que tenha problemas hepáticos e renais", afirmou.

Outra história é a dos atletas que evitam ou se concentram em certos alimentos, que consideram importantes para o sucesso. Ou simplesmente por gostarem mais.

Um caso famoso é da maratonista chinesa Wang Junxia, cuja dieta inclui vermes e sopa de tartaruga.

O jogador de basquete canadense Steve Nash é um grande fanático por nozes e grãos.

Outros, como o maratonista americano Michael Arnstein, que não somente vegetariana, mas baseada estritamente em frutas.

"Há muitos benefícios, tanto para a pessoa que a segue como para o planeta em que vivemos", escreve o atleta em seu blog.

Os que comem o que querem

Enquanto alguns atletas seguem dietas severas, outros garantem que comem o que querem.

O corredor americano Tyson Gay faz parte do primeiro grupo. Segundo declarações recentes, a nutricionista do atleta determina que ele consuma 230 gramas de proteínas, 308 gramas de carboidratos e 70 gramas de gorduras diariamente.

No outro extremo, o nadador do mesmo país Ryan Lochte não parece acreditar em nutricionistas.

"A nutrição é a última coisa com que me preocupo. Como o que conheço bem. Estou comendo McDonald''s a cada refeição desde que cheguei aqui. E acredito que está me ajudando", disse o nadador durante os Jogos Olímpicos de Pequim em 2008.

Um pouco menos radical é a britânica Jessica Ennis, que compete no heptatlo.

"Todo mundo me fala que está se submetendo a uma dieta restrita, mas esse não é o caso. Como saladas e verduras, mas também chocolates. Os atletas comem uma comida normal", disse recentemente.

Não há apenas uma receita para a vitória olímpica. Segundo alguns especialistas, o senso comum teria que ser usado, para se manter a saúde no longo prazo.

O professor Álvaro García-Romero afirma que os extremos são compreensíveis.

"Eu entendo que um atleta que treina de uma certa forma, vai ter uma repercussão econômica, e na melhor das hipóteses, vai trabalhar um número limitado de anos e, depois, vai viver de renda", afirmou.

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