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MMA

Tavares muda para não ser "anão" e esconde lesão do UFC

16 ago 2014 - 09h27
(atualizado em 17/8/2014 às 11h06)
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Thiago Tavares não mediu esforços para voltar a se destacar no UFC. Ele está na organização desde 2007, mas vivia uma fase irregular. Então resolveu mudar de categoria e virar peso pena, porque estava se sentindo "anão" como leve. E não foi só a balança que trouxe dificuldades. Ele sofreu três lesões e até escondeu uma delas para voltar a lutar, neste sábado, no UFC Fight Night 47, contra Robbie Peralta.

Em entrevista exclusiva ao Terra, Tavares comentou que nunca sentiu diferença de força. Mas a evolução do esporte fez com que ele sentisse dificuldades para acertar golpes em atletas mais altos: "hoje em dia o pessoal baixa tanto de peso que eles têm o mesmo corpo que eu, mas muito alto. Eu sou um anão, tenho 1,70 m", brincou.

Sobre as contusões, Tavares disse que é algo normal: "a vida de atleta é sempre assim". Mas após ter problemas na costela e no joelho, ele resolveu esconder uma terceira lesão. Ele teve até que operar o joelho, mas não contou sequer para os pais, muito menos para o UFC. Ele citou esse problema ao Terra, mas só deu detalhes em um vídeo publicado no Facebook nesta sexta-feira.

"Se eu comunicar ao UFC agora, acho que não vai ser bom. É torcer para eles me esquecerem um pouquinho agora", afirmou no vídeo. Pouco depois, porém, a luta de Tavares contra Peralta foi agendada. Ele resolveu encarar o desafio mesmo assim.

Tavares ainda comentou sobre a tentativa de se eleger deputado estadual pelo PCdoB em Santa Catarina e abordou com otimismo a renovação de talentos no MMA brasileiro.

Veja na íntegra a entrevista com Thiago Tavares:

Terra: Por que você resolveu mudar de categoria e virar peso pena?

Thiago Tavares: Sempre me senti muito bem na categoria, tento 28 lutas na carreira, todas nessa categoria (leve), 14 dessas foram UFC, então eu sempre me senti muito bem na categoria. No entanto, estou baixando muito de peso, agora quase 15 kg ou 20 kg. Antes baixava 8 kg ou 9 kg, e acabava que eu nunca me sentia bem. Já tomei alguns prejuízos, algumas surras, já peguei atletas melhores que eu, mas nunca senti ninguém mais forte. O que senti diferença é com atletas muito mais altos na trocação. Pat Healy tinha 1,84 m, o outro russo (Nurmagomedov) estava a 3 km de mim e deu um cruzado. Acaba que eles estavam no mesmo físico que eu, mas muito mais altos. Antigamente o cara alto nessa categoria era mais fraco, eles baixavam e eram magros. Hoje em dia o pessoal baixa tanto de peso que eles têm o mesmo corpo que eu, mas muito alto. Eu sou um anão, tenho 1,70 m. Contra o Pat eu nem tentei lutar em pé, nem acertei e joguei pro chão. O russo também. No pena a proporção vai diminuir, não vai ter atletas tão mais altos. 

<p>Mesmo mudando de peso, Thiago Tavares vai encarar um lutador mais alto, Robbie Peralta, com 1,73 m</p>
Mesmo mudando de peso, Thiago Tavares vai encarar um lutador mais alto, Robbie Peralta, com 1,73 m
Foto: Jeff Bottari/Zuffa LLC / Getty Images
Terra: A lesão e o cancelamento da luta anterior ajudaram você a ter mais tempo para se adequar ao novo peso?

Thiago Tavares: Passei por duas lesões seguidas, foi bem complicado, mas a vida de atelta é sempre assim, superação, passar por cima das coisas. Quando tive a lesão, tive que parar de trienar, ganhei peso, soltei a dieta. Mas o que foi bom é que lesão foi em cima da hora. Então, por mais que não tenha feito a luta, eu tive evolução. E agora sofri mais uma lesão e não quis cancelar (a luta contra Robbie Peralta).

Terra: A categoria peso pena vai ter uma nova disputa por cinturão. Acredita que Chad Mendes pode ganhar do José Aldo?

Thiago Tavares: Acho que vai ser diferente da primeira luta, o Aldo como campeão, ele é o cara que consegue, nasceu para lutar. É o Romário na Copa de 1994, fazendo gol de cabeça na Suécia, ele é oportunidade, contundência, luta com perfeição. O Chad Mendes deu mole na primeira luta e aconteceu aquele nocaute. Vai ter luta, Chad vai complicar, mas o Aldo é o favorito e grande campeão. É imbatível nessa categoria, pelo menos por enquanto.

Terra: Como surgiu a ideia de virar candidato a deputado estadual?

Thiago Tavares: Eu tenho muitos projetos sociais em Santa Catarina, principalmente Florianópolis, sete projetos sociais com mais de 200 crianças. Estou cansado de como a política tem sido regida no nosso Estado, até no Brasil, é patriarcal. São famílias que administram a cidade, dominam desde a prefeitura à câmara dos vereadores. Como sempre apoiei o esporte, fiz eventos e nunca tive apoio nenhum do governo estadual. Acho que o esporte está largado. Sempre imaginaram que o esporte não dava voto, nunca apoiaram esporte como inclusão social e educação. Os grandes esportistas que levam o nome da nossa ilha pra fora do país vão trazer cada vez mais dinheiro e turismo, mas não são valorizados. Resumindo, me candidatei porque estou cansado dessa vagabundagem da maioria dos políticos que administram nosso estado. Ou eu ia embora do estado ou do País ou eu me candidatava. Quero ter inclusão através de esporte, projetos sociais e cultura nos colégios, assim que vai mudar. Religião pode até não discutir, mas se não discutir política, o País vai ficar como está.

<p>Thiago Tavares aposta que, mesmo se virar deputado, vai conciliar com as carreiras de atleta e empresário</p>
Thiago Tavares aposta que, mesmo se virar deputado, vai conciliar com as carreiras de atleta e empresário
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Terra: Vai tentar conciliar a vida de atleta, treinador e deputado?

Thiago Tavares: Tenho minhas empresas, sou empresário de alguns atletas do UFC e tenho minha carreira no UFC. Então sendo eleito, vou trabalhar com equipe multidisciplinar na assembleia. Tenho 4 ou 5 horas por dia, posso ter outra profissão. Treino de manhã ou de noite e vou poder me dedicar 8 horas da minha vida na assembleia legislativa sem problema. Vou ter uma equipe muito forte para trabalhar em várias áreas na sociedade para que não deixe nenhuma área desfocada. Quanto a minha parte empresarialmente, dono de time, vou entregar para outras pessoas. O head coach (técnico principal, Guiga Meireles) do time já está tocando essa parte. Eu sendo eleito, ele vai continuar tocando e eu vou seguir minha carreira como lutador do UFC. Tenho mais de seis lutas e a carreira vai muito bem. Não tenho dúvida que consigo administrar. A única incerteza que tenho é que troque esses vagabundos. A maioria das pessoa que administra nosso estado e cidade são mal intencionados. 

Terra: Você acha que o Brasil vai ter dificuldades para renovar os talentos no MMA?

Thiago Tavares: Não terá dificuldades. Como todo esporte, ele é feito de altos e baixos. Há um ano tinha quatro cinturões, agora tá com um e depois vai estar com quatro ou cinco, depois com um de novo. Esporte é isso, o outro lado também quer ganhar, também está crescendo. Há um ano, se fosse fazer essa pergunta para os EUA, eles iam falar que estava no caminho errado? O Brasil tem uma geração maravilhosa, porém apoio ao esporte não existe. O coração do brasileiro é o que segura o esporte. Nunca teve o apoio. O futebol é o único esporte no Brasil que existe apoio. O resto dos esportes, na Olimpíada, o Brasil vive apenas o último ano. No ano da Olimpíada aparece um trilhão de patrocinadores, aquela coisa linda, mas os outros três anos da carreira do atleta ele passa fome. Não existe apoio, tanto na iniciativa privada quando principalmente iniciativa pública. O apoio é mínimo, o esporte no Brasil não é levado a sério, diferente dos EUA. Ele ganha faculdade, ensino, consegue estudar e praticar o esporte, tem o apoio do governo. No Brasil eles preferem dar bolsa presidiário, bolsa não sei quê, e a bolsa atleta é miserável. Um atleta que chega na Olimpíada já é um vencedor, porque o apoio que o esporte amador tem é mínimo.

Fonte: Terra
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