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Lutas

Lyoto cogita mudar estilo para "botar a carreira no trilho"

22 fev 2011 - 08h18
(atualizado às 08h40)
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Marco Rosa

As duas derrotas sofridas em 2010 tiraram de Lyoto Machida o cinturão dos meio-pesados do UFC (Ultimate Fighting Championship) e uma invencibilidade de 16 combates. A queda recente na carreira mexe com a cabeça do ex-campeão mundial, que admite o mau momento e até cogita mudar parte da característica que o consagrou nos octógonos. Famoso por explorar a paciência e estratégia do karatê com seu estilo cadenciado, o brasileiro faz planos de se tornar mais agressivo para voltar a surpreender seus adversários e retomar seu posto no lugar mais alto da categoria.

Nocauteado pelo compatriota Maurício Shogun (novo campeão dos meio-pesados) em maio e batido por Quinton Jackson "Rampage" em decisão polêmica dos juizes em novembro, o baiano que hoje mora e treina no Pará acredita que os tropeços nos dois únicos compromissos de sua agenda em 2010 servirão como "aprendizados" para a recuperação. "Tenho que me preocupar agora em botar no trilho de novo a minha carreira, fazer boas apresentações, ganhar o público e voltar a vencer".

O fim do reinado do "The Dragon" no MMA (Mixed Marcial Arts), no entanto, não tira o otimismo do lutador, que já projeta o retorno em grande estilo. O primeiro passo para recuperar o cinturão será dado no dia 30 de abril, na edição 129 do UFC, que acontecerá em Toronto, no Canadá. O principal duelo da noite terá Lyoto frente a frente com o veterano e também ex-campeão mundial Randy Couture.

O americano, que já se declarou fã do brasileiro, pode se despedir da categoria e anunciar a aposentadoria após o combate. "Tenho que esquecer isso agora porque a fase que estou vivendo não é muito boa. Neste momento tenho que superar e vencer todos os meus adversários, seja quem for", afirma Lyoto, em entrevista ao Terra.

Confira a conversa abaixo, na íntegra:

Terra - A que você atribui essa queda de rendimento no ano passado com derrotas em suas duas únicas lutas e a perda do citurão?

Lyoto - É um grande aprendizado. Em nenhum momento eu fui displicente em termos de treinamento. Fiz minha preparação da maneira certa, como manda o figurino. Prefiro ver que o esporte está evoluindo, não podemos negar isso. Encaro essas derrotas como um aprendizado mesmo. Sei que não foi um ano bom, um ano de vitórias para mim, mas foi de aprendizado no sentido de pegar essas derrotas e saber usar de uma forma positiva, de ver o que errei e melhorar alguns pontos.

Terra - Você acredita que o bom retrospecto deixou seu estilo muito conhecido para seus adversários?

Lyoto - Quando você é um campeão, você é muito estudado. Isso é inquestionável, ainda mais da forma como eu cheguei, com um estilo diferente, que poucas pessoas conheciam. Isso nada mais é do que a evolução do esporte. As pessoas sempre estão procurando vencer aqueles que são mais dificeis. E na verdade não tinha nada de mais em mim, nada de extraordinário. Eu só saio um pouco do padrão, já que todo mundo tem outro estilo e eu vim do karatê.

Terra - Acredita também que será necessária uma mudança de postura, mais agressiva e em ritmo mais forte, para voltar a vencer e surpreender seus próximos rivais?

Lyoto - O intuito é sempre esse, de buscar a agressividade, buscar o entretenimento. Somos profissionais da luta, não basta só lutar, tem que satisfazer o público. Eu tenho que melhorar alguns apectos, mas não posso mudar totalmente. O que me fez campeão, eu não posso esquecer. Como posso jogar fora tudo isso? Como posso mudar totalmente meu estilo?

Terra - Você chegou a ser criticado por seu comportamento na luta contra o Rampage, em que só acelerou o ritmo no final. Isso é algo que pensa em mudar para os próximos combates?

Lyoto - A luta contra o Rampage eu sabia que seria complicada. É um cara muito forte, não é facil de lutar com ele no primeiro round. Ele é privilegiado fisicamente, bate muito duro. Aquela era uma luta estratégica e deixei para fazer (aumentar o ritmo) no terceiro roud. Se isso não adiantar (nas próximas lutas), vou tentar adiantar isso. Talvez no final ou no meio do segundo round, ou mesmo no final do primeiro round. É uma coisa a se pensar.

Terra - Essa luta contra o Randy Couture em abril, você encara como um recomeço? Qual é o seu sentimento em relação a esta luta?

Lyoto - Tenho o Randy Couture como um exemplo por tudo o que ele fez. É extraordinário chegar nesta idade lutando contra os tops, lutando em alto nível. Eu tenho o privilégio de enfrentá-lo. Será uma honra saber que fiz parte história dele, não tem preço. Poucas pessoas poderão ter esta honra de poder lutar com ele.

Terra - E como trabalha com o fato que pode acelerar a aposentadoria do Randy Couture, que já disse que esta pode ser sua última luta? É algo que você fica pensando?

Lyoto - Tenho que esquecer isso agora porque a fase que estou vivendo não é muito boa. Neste momento tenho que superar e vencer todos os meus adversários, seja quem for.

Terra - Sobre sua última luta, foi alvo de muita polêmica pelo resultado dos juízes. O Rampage inclusive chegou a levantar seu braço como sinal de sua vitória. Como você encarou isso? Ainda se sente injustiçado pela derrota?

Lyoto - Na minha visão, eu posso ter vencido a luta. Mas se os árbitros não acharam isso, eu não sei o que posso fazer. Reclamar não vai alterar em nada o resultado. Às vezes é melhor ouvir as críticas e ver o que aconteceu para mudar alguma coisa. Se eu não venci, é porque faltou algo. Por mais que eu tenha me sentido injustiçado, faltou alguma coisa da minha parte. É hora de aproveitar essa derrota como uma coisa boa.

Terra - E como ficou a vontade de vencer novamente? Pretende uma revanche contra Rampage por conta desta luta?

Lyoto - Gostaria de uma revanche, mas não é algo que eu fique pensando. Não é o momento. Minha próxima luta realmente é super importante para minha carreira e não posso ficar pensando nisso. Tenho que me preocupar agora em botar no trilho de novo a minha carreira, fazer boas apresentações de novo, ganhar o público e voltar a vencer. Após uma derrota, você sempre quer uma revanche, mas não estou pensando nisso agora. Não tenho ninguém especial, apenas quero me testar. Sempre quero lutar com os melhores.

Terra - A derrota para o Shogun, que te tirou o cinturão, é algo que ainda te incomoda? Acredita que o Shogun chegou mais preparado para aquela revanche e o estilo agressivo desde o início te pegou de surpresa?

Lyoto - Eu também fui mais preparado para a segunda luta. Talvez tecnicamente, talvez até fisicamente ele estava melhor. Mas quando se trata de uma luta de tops, tudo pode acontecer. Também poderia ser uma luta de cinco rounds de novo. Acho que por isso os dois pensaram em ser agressivos: 'vamos decidir então'.

Terra - Você acha que essa postura mais agressiva te deixou mais vulnerável e foi a causa da sua derrota? Se arrepende de ter tentado a definição logo no início e perdido a luta por nocaute tão rápido?

Lyoto - Eu poderia vencer aquela luta também. Tinha dado queda nele, tinha ficado por cima. Mas luta é luta. É por isso que este esporte é tão importante e interessante. Às vezes você está ganhando a luta e isso não significa nada. Temos que pensar que nada acontece por acaso. Aquele dia foi o dia do Shogun, mas ninguém sabe como será em uma próxima oportunidade. Não tenho que me arrepender de nada não e vou continuar minha carreira.

Terra - O fechamento de 2010 com três campeões mundiais brasileiros e seis prêmios ao País no "Oscar" do MMA mostram o bom momento do esporte nacional? O que poderia mudar para a modalidade a confirmação do UFC no Rio de Janeiro, como vem sendo falado nos últimos meses?

Lyoto - O Brasil vive um grande momento no esporte. Temos vários campeões mundiais e acho que isso vai chamar grande atenção no País. Vai mostrar ao mundo o que temos de melhor e isso vai ser uma grande conquista para o Brasil.

Terra - Como você costuma de preparar para as lutas durante o ano e qual é a dificuldade para perder e ganhar peso rapidamente nos dias antes dos duelos?

Lyoto - Eu não perco muito peso, não tenho esse problema. Meu peso natural é 97 kg e vario pouco durante o ano. Minha preparação dura em torno de três meses. Neste período piorizo algumas atividades durante algum tempo, variando os trabalhos de força e estratégia.

Terra - A questão da urinoterapia é algo que chama a atenção na sua preparação e até causa polêmica. Como foi que você iniciou com este método?

Lyoto - Iniciei através do meu pai, em um método que veio do meu avô. Isso não foi nada feito por acaso. Meu pai leu um livro que sete médicos escreveram no Japão sobre pesquisas. A princípio, ela parte pela filtragem dos nutrientes do organismo. Tudo o que você come, tem uma filtragem. Por isso tenho um aproveitamento melhor do que quem não faz. Muitas pessoas jogam fora e eu optei por fazer uma refiltragem. Isso, inclusive, é usado para cura de câncer, diabetes e outras doenças. Só que as pessoas só solicitam essa terapia em último caso, porque acham que é nojento, e na verdade não é nojento.

Terra - Até que ponto a urinoterapia te ajuda nos treinos e lutas?

Lyoto - O liquido é quase uma água de fonte e que vem carregado de nutrientes e toxinas. Se aproxima de uma água potável: o que é ruim é eliminada de novo e o que é bom fica retido. Mas sei que nem todos aprovam, respeito a opinião dos outros e é uma questão pessoal.

Após duas derrotas seguidas, Lyoto refaz planos e já admite necessidade de "satisfazer e entreter" público
Após duas derrotas seguidas, Lyoto refaz planos e já admite necessidade de "satisfazer e entreter" público
Foto: UFC / Divulgação
Fonte: Terra
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